Os avanços científicos da equipe contribuíram no reconhecimento de professora da Universidade para retomada econômica do país
O estudo de pesquisadores do Laboratório de Engenharia Bioquímica e de Biotecnologia (Lengebio), do Departamento de Engenharia Química da Universidade Federal do Paraná (UFPR), apresentou mais novidades sobre o que já vinha sendo desenvolvido em relação aos bioplásticos e produção de biogás a partir do lixo. A pesquisa desenvolvida pelo grupo revela a contribuição dos materiais biodegradáveis na redução de danos ao meio ambiente.
Os novos materiais podem ser usados para a produção de vários produtos biodegradáveis, como sacolas, embalagens de uso único, pratos, copos, talheres, entre outros, com viabilidade de serem produzidos a nível industrial. A inovação consiste em utilizar subprodutos da agroindústria nacional, como resíduos das indústrias de grãos e cereais, viabilizando a produção nacional dos biopolímeros, que são compostos produzidos a partir da ação de células vivas ou de matérias-primas de fontes de energia renováveis.
Além disso, outras novidades estão sendo desenvolvidas mesmo neste período de pandemia. Resultado disso, em 2020, o estudo desenvolvido pelo laboratório foi vencedor na área temática “Cidades Inteligentes” no edital da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), vinculado ao Ministério da Ciência e Tecnologia e Inovação.
A pesquisa coordenada pela professora Michele Rigon Spier com o auxílio do mestrando Luis Alberto Gallo Garcia, do Programa de Pós-graduação em Engenharia de Alimentos (PPGEAL), fez análises da biodegradabilidade em ambiente marinho, utilizando água do litoral estado do Paraná. O objetivo é estudar se os bioplásticos desenvolvidos causam algum impacto.
“Esses bioplásticos não devem ser lançados nos ambientes aquáticos. Mas se porventura atingirem corpos aquíferos, sugere-se que não causem prejuízos à vida das espécies de animais marinhos, como ocorre com os plásticos convencionais, tais como ocasionados por seu acúmulo nas águas, geração de microplásticos e nanoplásticos dos ‘oxidegradáveis’, que não são biodegradáveis e causam prejuízos à vida. Na Europa por exemplo há leis publicadas que irão banir os produtos que geram micro e nanoplásticos ao ambiente”, comenta a pesquisadora.
Em água de mar, o produto biodegradável contendo microalga apresentou 34% de biodegradação em 60 dias, ou seja, maior biodegradabilidade quando comparado ao bioplástico à base de amido termoplástico (21% de perda de massa no mesmo período) devido a certos componentes da formulação apresentarem alta capacidade de dissolução no ambiente marinho. “Esse achado é muito superior quando comparado a alguns bioplásticos presentes no mercado, que inclusive não possuem capacidade de biodegradação em ambientes marinhos, conforme determinam normas técnicas internacionais de conceitos de biodegradabilidade”, diz Michele.
Segundo a professora, a biodegradação é gradativa. Portanto, na medida em que se poderia aumentar os níveis de demanda química e bioquímica de oxigênio (DQO e DBO) nas águas, há consumo pelas espécies naturais do ambiente aquático. “São vários estudos que mostram que microalgas e macromoléculas biológicas poderiam ser nutricionalmente interessantes para os peixes”, sugere a pesquisadora.
Para aprofundar o tema, o Lengebio está estabelecendo uma parceria com uma Universidade de Idaho, dos Estados Unidos, onde serão feitos ensaios experimentais de avaliação da influência dos bioplásticos no desenvolvimento e vida aquática de peixes. A ideia é que o estudo conjunto contribua com informações e conhecimento, para gerar produtos com reduzido impacto negativo ao meio ambiente no Brasil.
Os estudos da UFPR já haviam demonstrado que em solo simulado o bioplástico demora cinco meses para se decompor, enquanto outras embalagens contendo polímeros de origem fóssil podem demorar mais de 100 anos. Os materiais desenvolvidos apresentaram propriedades de barreira à umidade, à luz ultravioleta (que pode ser importante para a indústria de alimentos) e boas propriedades mecânicas, além de serem compostáveis também.
Material biodegradável reduz contaminação no meio ambiente
O produto é resultado de uma linha de pesquisa do Lengebio, que desde 2018 vem estudando potenciais aplicações biotecnológicas. Foram analisadas as propriedades de bioplásticos contendo microalgas verdes, na tentativa de gerar materiais úteis para a indústria de alimentos, no segmento de bioplásticos e de embalagens biodegradáveis. A base de conhecimento está sendo aproveitada para contribuir com o desenvolvimento social, econômico e sustentável de outras linhas de produção de produtos no Brasil.
Ao considerar que o Brasil é o quarto produtor de lixo plástico no mundo, segundo o WWF-Brasil, Michele explica que esse tipo de material biodegradável poderia ajudar a reduzir a contaminação ao meio ambiente. A pesquisadora acrescenta que esses bioplásticos poderiam ser destinados junto ao lixo orgânico para a produção de biogás (gás veicular ou gás de cozinha) como já é desenvolvido em projeto da mesma equipe, coordenada pela professora.
“O que buscamos é a redução dos danos dos bioplásticos que desenvolvemos, para que não comprometa o meio ambiente caso esses plásticos sejam inadequadamente lançados ou descartados em águas fluviais, pluviais e marinhas”, diz.
Reconhecimento por contribuir com a retomada econômica
As pesquisas relacionadas ao seguimento dos bioplásticos, o trabalho envolvendo biogás na UFPR e o trabalho social e ambiental que a pesquisadora vem se dedicando ganharam destaque. Em março deste ano, a professora Michele Rigon Spier foi indicada pelo Conselho Federal de Engenharia e Agronomia (Confea) como uma das 27 mulheres engenheiras e geocientistas que impulsionam a retomada econômica do país, única engenheira representando o estado do Paraná.
Segundo a professora, as contribuições para a retomada econômica envolvem o desenvolvimento de solução em bioplásticos com efetivo ganho social, econômico e ambiental; o aumento da conexão da universidade e indústrias, promovendo parcerias reais de desenvolvimento da ciência aplicada; a produção de biogás a partir do lixo orgânico, com um reduzido tempo de processo; e o auxílio no desenvolvimento social, econômico e ambiental junto à região da Amazônia.
“Com essas contribuições, valorizamos e colocamos em destaque a UFPR no cenário estadual e nacional”, finaliza Michele.