UFLA participa de publicação internacional sobre espécies exóticas invasoras

Edição especial da Revista NeoBiota mostra que o Brasil gasta US$ 3,02 bilhões ao ano por causa dessas espécies

Três representantes da Universidade Federal de Lavras (UFLA) tiveram seus artigos divulgados na edição especial da revista “NeoBiota”, uma das mais prestigiadas publicações sobre espécies exóticas e invasões biológicas.

A edição especial da revista trouxe como tema os “Custos econômicos das invasões biológicas ao redor do mundo”, com 20 publicações revisadas por pares, que abordam o status, as tendências, os motivadores e as lacunas de informação dos custos econômicos de invasões biológicas de 19 países e seis regiões do mundo, fornecendo uma perspectiva global inovadora, além de informações regionais que contribuem para a conscientização e apoio na tomada de decisões eficientes em relação a essas espécies.

As espécies exóticas invasoras são aquelas que foram introduzidas de forma natural, acidental ou intencional em territórios que não são o seu de origem e conseguem se adaptar, reproduzir e até mesmo colonizar o ambiente, causando impactos na biodiversidade, saúde ou economia. Elas são consideradas uma das cinco principais ameaças para a sobrevivência de um milhão de espécies no mundo.

Todos os artigos publicados na edição especial da revista são baseados no banco de dados InvaCost, um banco de dados global sobre espécies exóticas invasoras. O editorial da revista é assinado pelo professor Rafael Dudeque Zenni, do Departamento de Ecologia e Conservação do Instituto de Ciências Naturais (ICN) da UFLA, único pesquisador brasileiro que participa do relatório do Painel Intergovernamental sobre Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (IPBES). O editorial faz um apanhado dos principais resultados encontrados nos artigos, como relatórios sobre os custos econômicos globais nos últimos 50 anos, os quais estimam que as espécies exóticas invasoras são responsáveis por mais de um trilhão de dólares em danos econômicos, ambientais e sociais, um número que está aumentando constantemente ao longo do tempo.

Segundo o professor Rafael, esta é a compilação mais abrangente do quanto já se gastou no mundo prevenindo e controlando invasões biológicas. “Espécies exóticas invasoras são uma das cinco maiores ameaças à biodiversidade e serviços ecossistêmicos da atualidade, e o custo do controle dessas espécies e a mitigação dos seus impactos são bilionários. É um custo que está embutido em produtos agrícolas, serviços de saúde e até da energia elétrica, e afeta diretamente a vida das pessoas. Pela primeira vez, esse custo foi mapeado para o Brasil”, explica.

Custos no Brasil

Além do editorial, o professor Rafael participa do estudo sobre os custos econômicos das invasões biológicas no Brasil, juntamente com o também docente do ICN Lucas Del Bianco Faria e o pós-doutorando Gustavo Heringer. Conforme os autores, o Brasil tem a ocorrência de pelo menos 1214 espécies exóticas, das quais 460 são consideradas invasoras. Porém, não havia estimativas do custo do seu impacto e gestão. O estudo apontou que os custos econômicos com perdas e danos relacionados às espécies exóticas invasoras foram maiores do que aqueles usados para prevenção, controle ou erradicação dessas espécies, mostrando como as exóticas e invasoras são uma importante fonte de prejuízo econômico ao nosso País.

Gastos nas Américas do Sul e Central

Os pesquisadores da UFLA ainda fazem parte do estudo a respeito dos custos econômicos de espécies exóticas invasoras nas Américas do Sul e Central. O total de custos observados para essa região foi de 102,5 bilhões de dólares americanos entre 1975 e 2020, sendo que cerca de 90% do custo total ocorreu em apenas três países (Brasil, Argentina e Colômbia). A maior parte dos gastos foi associada a danos (97,8%), enquanto setores múltiplos (77,4%), agricultura (15%) e bem-estar público e social (4,2%) foram os setores mais impactados. O mosquito Aedes foi a espécie exótica invasora de ambiente terrestre que causou mais prejuízos, cerca de 25 bilhões de dólares americanos. Já em ambientes aquáticos, o aguapé (Eichhornia crassipes) foi o mais impactante, causando 179,9 milhões de dólares americanos de prejuízos. De acordo com a pesquisa, os resultados sugerem que os setores impactados devem direcionar esforços para o manejo e prevenção daquelas espécies que são drenos de recursos financeiros.

Os dados apresentados nas pesquisas são inéditos para o País e para o continente. A revista NeoBiota faz parte de um projeto global chamado InvaCost, uma base pública de milhares de dados sobre espécies exóticas invasoras como plantas, insetos, aves, peixes, moluscos, microrganismos, mamíferos, entre outras.

As publicações demonstram a internacionalização das pesquisas da Universidade. “No total, mais de 60 pesquisadores de 20 países participaram desse projeto, todos os artigos contêm resumos em múltiplos idiomas e podem ser acessados gratuitamente por qualquer pessoa no mundo. A participação dos pesquisadores da UFLA foi fundamental no levantamento e análise desses custos econômicos de espécies exóticas invasoras no Brasil, nas Américas do Sul e Central, e na preparação e editoração dos 20 artigos científicos que compõem a Edição Especial da revista Neobiota”, comenta o professor Rafael.

Os artigos completos dos pesquisadores da UFLA estão disponíveis no site da Revista NeoBiota.