Um experimento agroflorestal realizado na Fazenda Experimental da Ressacada mostrou como a biodiversidade pode aumentar a produção de alimentos e contribuir com a restauração florestal ainda nos anos iniciais dos sistemas, considerados os mais críticos. O trabalho, realizado pelos professores e estudantes do Laboratório de Ecologia Aplicada (LEAp), resultou no artigo Crop functional diversity drives multiple ecosystem functions during early agroforestry succession, recentemente publicado no Journal of Applied Ecology.
De acordo com o pesquisador Diego dos Santos, que desenvolveu sua tese no Programa de Pós-graduação em Agroecossistemas da UFSC e também é professor na Universidade Federal da Fronteira Sul, a ideia central do experimento foi investir em consórcios de cultivos com idêntico número de espécies, de diferentes características. “Com isso, a equipe procura entender de que forma a diversidade planejada interage com fatores ambientais e com a biodiversidade associada nos agroecossistemas e como influenciam seu funcionamento e os benefícios para os seres humanos”, explica.
O estudo leva em conta a necessidade de se desenvolverem formas eficientes de produção de alimentos saudáveis e também de redução dos impactos causados pelo homem nos ecossistemas. A agroecologia, a partir de conceitos como o de complementaridade de nichos, seria uma das possibilidades. “Esse é um dos conceitos usados para explicar a relação positiva entre biodiversidade e funcionamento do ecossistema. Isso é possível pois diferentes formas de aquisição de água, luz e nutrientes pelas espécies, no tempo e no espaço, permitem a utilização destes recursos de forma mais completa”, pontua.
No artigo recentemente publicado, a proposta foi entender as relações entre as plantas cultivadas, as plantas espontâneas e as múltiplas funções do sistema, como a proteção do solo e a produtividade. Neste caso, a supressão das plantas espontâneas, que são as ervas daninhas, foi um processo prioritário avaliado. “Plantas espontâneas podem competir com cultivadas pelos recursos como água, luz, nutrientes nos agroecossistemas e costumam ser eliminadas com herbicidas no contexto da agricultura convencional, por isso a necessidade de buscarmos outras maneiras mais saudáveis de lidar com elas”, contextualiza.
Diversidade aumenta produtividade
A busca dos pesquisadores está relacionada ao que se denomina diversidade funcional. Segundo Diego, estudos mais recentes sugerem que a diversidade funcional está diretamente relacionada às funções que diferentes espécies podem ter nos ecossistemas – o que eleva a necessidade de testagem em sistemas agrícolas. “Em outras palavras, se misturarmos plantas com características complementares, protegemos melhor o solo, reduzimos plantas espontâneas e aumentamos a produtividade das culturas, sem uso de agrotóxicos”, sintetiza o pesquisador.
Na prática, é possível pensar na plantação, ao mesmo tempo, de espécies que crescem em velocidades diferentes e com alturas diferentes, tais como a bananeira, feijão guandu, batata doce. “Enquanto a bananeira demora mais para crescer, o guandu vai ocupando o espaço mais rapidamente, e abaixo deles a batata doce cobre o chão”, ilustra o pesquisador. Neste caso, a batata doce não competiria pelo espaço e pelos recursos com as outras espécies. Ainda, quando a bananeira necessitasse de mais espaço e luz, o guandu poderia ser podado. “Assim, o solo fica sempre coberto e a luz do sol é toda aproveitada, bem como as raízes mais superficiais da batata doce e mais profundas do guandu e banana aproveitam as diferentes profundidades do solo”.
Os resultados do experimento da UFSC confirmaram a hipótese de que uma maior diversidade contribui para múltiplas funções no ecossistema, como por exemplo a interceptação de luz fotossintética. “A maior interceptação de luz pelas culturas aumentou a produtividade. Além disso, uma maior diversidade funcional aumentou a cobertura do solo pelas culturas e reduziu a cobertura e diversidade funcional das plantas espontâneas”.
Conforme o pesquisador, outro aspecto interessante de se trabalhar levando em conta as características das plantas é que deixa de ser necessário ficar atrelado necessariamente às espécies – é possível olhar para as suas características. “Em outros locais pode ser que o agricultor não queira ou não tenha bananeira, guandu ou batata doce, mas tenha outras espécies com características semelhantes e podem ser usadas então para formar os próprios consórcios, delineados conforme suas necessidades”.