Estudo ajuda a responder várias perguntas, dentre as quais a possibilidade de existência de um planeta Terra 2.0
Na atualidade, diferentes questões relacionadas à astrofísica costumam ser feitas e uma das mais frequentes é sobre quando (ou se) será possível encontrar um planeta similar à Terra no qual possamos viver. Na Universidade Federal de Sergipe, trabalhos desenvolvidos pelo Departamento de Física (DFI) estudam as propriedades químicas dos exoplanetas (planetas que orbitam estrelas pertencentes a um sistema planetário distinto do nosso). A investigação pode ajudar a trazer esta e outras respostas relacionadas ao nosso Universo.
Conforme o professor Diogo Souto, um dos envolvidos na pesquisa, em um dos primeiros estudos sobre a temática verificou-se que um exoplaneta chamado “Ross 128b” pode possuir características muito semelhantes ao planeta Terra, havendo a possibilidade de ele ser uma potencial Terra 2.0. Entretanto, o astrofísico ressalta que antes de começarmos a sonhar com a nossa “viagem” ao “novo endereço”, os estudos ainda são muito preliminares e que há a necessidade de mais observações para uma melhor compreensão do objeto.
“Estudamos os exoplanetas basicamente para conhecermos melhor nosso Universo, de onde viemos, pois na verdade nós somos poeira de estrelas. Somos o produto dos processos de núcleo-síntese que ocorreram nas primeiras estrelas da nossa galáxia. Então quando a gente conhece um pouco melhor o nosso Universo, a gente tá conhecendo um pouco mais sobre nós mesmos”, justificou o pesquisador.
Conforme a última atualização repassada pela Nasa, no mês de agosto, atualmente há 4.472 exoplanetas confirmados e outros 4.445 candidatos sendo estudados em detalhes.
O estudo
Estudos relacionados a possível Terra 2.0 são preliminares e há necessidade de mais observações para melhor compreensão do objeto, diz professor Diogo Souto, do DFI.Estudos relacionados a possível Terra 2.0 são preliminares e há necessidade de mais observações para melhor compreensão do objeto, diz professor Diogo Souto, do DFI.
O professor Diogo explica que com as tecnologias atualmente disponíveis, é bastante desafiador observar diretamente os exoplanetas e por esta razão os astrofísicos optam por observar as estrelas-mãe. Em particular, o professor comenta o estudo dos exoplanetas que orbitam estrelas que possuem apenas de 10 a 50% da massa e raio do Sol, conhecidas como estrelas anãs vermelhas ou anãs M. Com a tecnologia atual, segundo ele, é mais “fácil” encontrar exoplanetas orbitando essa classe de estrelas.
Ainda assim o trabalho é desafiador ao considerar que elas são consideradas frias em relação ao Sol, apresentando aproximadamente metade da temperatura, além de terem difícil caracterização por possuírem algumas bandas moleculares muito fortes de óxido de titânio.
O professor explica que para observá-las, em geral, são utilizados telescópios e adota-se um método chamado espectropia (técnica de aferimento de dados físico-químicos por meio da transmissão, absorção ou reflexão da energia radiante incidente em uma amostra) para desenvolver a análise e determinar as principais propriedades das estrelas.
“Partimos do pressuposto de que tanto a estrela quanto os exoplanetas ‘nasceram’ a partir do mesmo componente, da mesma nuvem de moléculas, e ao inferir que as propriedades químicas das estrelas-mãe são iguais a do exoplanetas, é possível chegar a algumas conclusões”, detalhou.
Ele citou como exemplo quando os pesquisadores conhecem as propriedades químicas do exoplaneta e identificam os principais componentes dele, o que auxilia na comparação com os dados relacionados à Terra. “No caso do nosso planeta, os minerais mais abundantes são minerais a base de magnésio e silicato, como olivina e alguns outros. Então, a gente procura estes mesmo indícios nestes outros planetas, para um dia conseguirmos dizer se aquele planeta pode ser um planeta muito parecido com a Terra ou não”, detalhou.
Os exoplanetas
A primeira detecção direta de um exoplaneta veio em 1995 com a descoberta do “51 Pegasi-b”. Um trabalho desenvolvido pelos cientistas James Peebles (canadense-americano) e os suíços Michel Mayor e Didier Queloz, os quais em 2019 foram agraciados com o prêmio Nobel de Física.
A situação começou a melhorar em 2009, quando a Nasa lançou o satélite espacial Kepler que detecta os exoplanetas via método de trânsito planetário. A novidade representou uma revolução na área e atualmente cerca de 77% dos exoplanetas observados são alcançados por meio deste método em que se utiliza curvas de luz (análise da distribuição da variação do brilho da estrela ao longo do tempo) em contraste com 19% via velocidades radiais (método em que se utiliza os espectros).
Os avanços tecnológicos seguem como, por exemplo, no desenvolvimento do telescópio espacial James Webb, a ser lançado futuramente pela Nasa. Ele promete facilitar a investigação dos espectros de transmissão dos exoplanetas e, talvez, encontrar a primeira Terra 2.0.
Quer saber mais?
Em uma página pessoal o professor Diogo Souto traz mais detalhes sobre os estudos que desenvolve na área da astrofísica.