Quando as luzes foram se apagando durante a explosão pandêmica de 2020, alunos do curso de medicina da UFBA se uniram e criaram um projeto chamado Berá – que, em tupi, significa brilhar – , que desde então tem levado luz e conhecimento a alunos do ensino médio, principalmente de escolas públicas, por meio da oferta voluntária de monitoria preparatória para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Em seu segundo ano, o projeto tem feito a diferença na vida de muitos monitorados, que têm conseguido vagas no ensino superior público, inclusive na UFBA – um sucesso que fez um professor do curso de medicina abraçar a ideia, transformando-a em projeto de extensão da Universidade.
“O Berá tem uma proposta flexível, tanto para o monitor quanto para o monitorado”, afirma Maria Flôr, uma das idealizadoras do grupo. “Durante o processo de inscrição, os alunos indicam as matérias em que mais têm dificuldade, e tentamos os alocar para monitores que possuem aptidão nessas áreas. O monitor, por sua vez, disponibiliza uma hora semanal para cada aluno, planejando uma monitoria exclusiva para as dificuldades dele. A grande maioria dos nossos monitores utiliza vídeo-chamada, mas já tivemos alunos e monitores que não se sentiam confortáveis com aulas neste formato, optando por trocar materiais e dúvidas por WhatsApp.”
As inscrições são feitas mediante solicitações realizadas através do Instagram (@projetobera) e também em grupos do Whatsapp, como salienta o monitor Breno Gabriel. Na medida em que o projeto foi se popularizando, aumentou a demanda por monitores. “Normalmente, o número de alunos é superior ao de monitores, então tendemos a aceitar o maior número de monitores possível, selecionando-os entre discentes da universidade”, explica Maria Flôr. Aos poucos, universitários de todo o país começaram a entrar em contato com os alunos da UFBA para ajudar nessa empreitada. A utilização dos meios digitais foi uma grande aliada para diminuir as barreiras e criar pontes de saberes.
No momento, além da Bahia, o projeto conta também com monitores dos estados de São Paulo, Espírito Santo, Santa Catarina, Paraíba e também do Distrito Federal. Para o monitor Geser Barros, “é muito gratificante ver a adesão de pessoas de vários lugares e das mais diversas áreas do conhecimento ao Projeto Berá. Isso nos motiva a continuar dando o nosso melhor e a fazer nossa ideia crescer cada vez mais”.
De aluna a monitora
“Muito obrigado por tudo isso, lembrei de várias dicas suas na hora da prova”. O monitor Felipe Barros lembra com carinho a frase que uma de suas monitoradas lhe disse quando terminou a prova do Enem. Esse sentimento de dever cumprido, de poder ter ajudado de alguma forma para que aquela pessoa prosseguisse, tem motivado o grupo continuar por mais uma temporada. “A parte do reconhecimento é muito importante. Críticas também são muito importantes para a melhoria do projeto, por isso, sempre abrimos formulários no final dos ciclos do projeto para os alunos e monitores terem um espaço anônimo de críticas construtivas e reclamações”, observa Felipe.
Uma das alunas que recebeu monitoria na primeira temporada do Berá foi Camila Lima. O reforço em matérias com as quais tinha dificuldades foi fundamental para que ela desse prosseguimento aos estudos em meio a pandemia. “Na reta final de preparação para o Enem, meu desempenho tinha melhorado surpreendentemente, somente com o apoio dos mentores. E graças a eles consegui minha tão sonhada aprovação no curso de medicina na UFBA em abril de 2021”, conta Camila.
A agora universitária hoje se uniu ao projeto para ajudar outros alunos que estão passando pela mesma situação que ela enfrentou no ano passado. Ela conta que estudou todo o ensino médio em escola pública e que encontrava dificuldades em algumas matérias. Quando soube do Berá, viu no projeto uma oportunidade. “Sempre carregarei uma imensa gratidão pelo projeto, porque eles me proporcionaram uma conquista que irá repercutir por toda a minha vida. Dessa sensação de gratidão, brotou em mim a ideia participar do projeto como mentora para que eu pudesse retribuir todo o apoio que recebi e tentar fazer a diferença na vida de outras pessoas também. Hoje me encontro participando da administração do Berá, onde espero auxiliar na melhoria e ampliação do projeto, de modo a garantir que cada vez mais estudantes sejam acolhidos.”
Projeto de extensão
Essa corrente de conhecimento e solidariedade não está passando despercebida do grande público e muito menos da própria Universidade. O professor adjunto de medicina da UFBA Jamary Oliveira abraçou a causa, que agora “é oficialmente um projeto de extensão vinculado à UFBA, o que nos permite emitir certificados de carga horária para os monitores vinculados ao programa de monitorias”, salienta o monitor Geser Barros.
Com a popularização e o alto número de solicitações de alunos para fazerem parte do projeto, o grupo está expandindo as postagens nas redes sociais com dicas e direcionamentos de assuntos do vestibular. “O projeto chegou a realizar uma semana de lives no aplicativo em um ciclo passado e o desempenho foi bastante satisfatório”, destaca Geser.
Na reta final de sua segunda edição, o projeto Berá tem, portanto, uma perspectiva promissora de continuidade por parte da comunidade acadêmica e dos alunos monitorados. “Saber que, mesmo doando tão pouco tempo de nossas semanas, construímos um espaço em que muitas vidas são impactadas e transformadas, é o que tem nos movido”, finaliza Maria Flôr.