UFES – Em plenária, entidades se posicionam contra a fragmentação da universidade

A crítica à fragmentação da Ufes contida nos projetos de lei (PL) em tramitação na Câmara Federal foi a tônica da plenária promovida na tarde desta sexta-feira, 5, pela Associação dos Docentes da Ufes (Adufes), pelo Sindicato dos Trabalhadores da Ufes (Sintufes) e pelo Diretório Central dos Estudantes (DCE). O vice-reitor da Ufes, Roney Pignaton, representou a Administração Central no evento.

Os dois projetos de lei tratam do desmembramento da Ufes e da criação de uma nova universidade a partir do Centro de Ciências Agrárias e Engenharias (CCAE) e do Centro de Ciências Exatas, Naturais e da Saúde (CCENS), localizados nos municípios de Alegre e Jerônimo Monteiro. Os deputados Neucimar Fraga (PSD), autor do PL nº 1963/2021, e Evair de Melo (PP), autor do PL nº 2048/2021, apresentaram as propostas sem nenhum diálogo com a comunidade universitária.

Para o diretor do Sintufes, Wellington Pereira, o que se pretende é enfraquecer a educação pública. Ele lembrou que se a intenção fosse criar uma nova universidade, outros espaços seriam buscados. “A fragmentação da educação pública encontra terreno fértil nesse governo”, afirmou.

A diretora da Adufes e professora do Departamento de Medicina Veterinária em Alegre, Aline Bregonci, questionou a quem interessa a fragmentação da Ufes. Para ela, é o empresariado que se fortalece com o enfraquecimento das instituições públicas. “Esse governo só retirou recursos da Universidade, não fez investimentos”, lembrou, acrescentando que tudo isso ocorre ao mesmo tempo em que tramita a PEC 32, a emenda constitucional “que pretende acabar com o serviço público”. A professora ainda afirmou: “Chamaram a nossa unidade de puxadinho. Nós não somos puxadinho, nós pertencemos à Ufes. E por isso temos que lutar pelo fortalecimento da Ufes”.

O presidente do DCE, Hilquias Crispim, afirmou que não é apenas a Ufes que está sob ataque, mas que há uma articulação nacional de desmonte da educação pública. Ele lembrou que os projetos de lei não preveem “nenhum recurso a mais, nenhum investimento, nenhuma nova vaga, nenhum concurso público”, mesmo já existindo um déficit de técnicos-administrativos, especialmente em Alegre. “Precisamos reforçar a unidade em defesa da nossa Ufes”, conclamou.

Projeto político

O vice-reitor Roney Pignaton reafirmou a posição do Conselho Universitário, que já se manifestou contrário à fragmentação. Pignaton lembrou que a criação da universidade não está integrada a nenhum programa do Ministério da Educação; não consiste na expansão de vagas ou de cursos, sendo apenas um projeto político. Ele lembrou que um desmembramento gera impacto na universidade mãe, inclusive nas condições para financiamento de pesquisas. O vice-reitor afirmou que em nenhum momento houve diálogo com a universidade, “como se nenhum impacto fosse gerado, algo que foge à nossa compreensão”.

Os estudantes Ricardo Sodré e Mateus Weller apresentaram o resultado de um questionário aplicado nos campi de Alegre e Vitória. Dos 708 entrevistados, entre professores, estudantes e técnicos-administrativos, 97,2% são contra a divisão da Ufes e apenas 2,8% a favor. “A comunidade acadêmica não está a favor dessa proposta. A universidade federal já existe no sul do Espírito Santo, o que falta é mais investimento”, afirmou Weller.

Representando o Centro de Ciências Agrárias e Engenharias (CCAE), o professor Gercílio Almeida se afirmou “chocado” com os “argumentos insustentáveis” utilizados para justificar os projetos de fragmentação da Ufes. Na sua avaliação, estão criando demandas inexistentes, pois hoje não está faltando vaga para os estudantes de Alegre. Ele também destacou que não há como fazer um desmembramento sem impacto financeiro e sem ajustes na estrutura do campus.

O professor do Departamento de Biologia Gláucio Cunha também se manifestou contrário à fragmentação, em nome do Centro de Ciências Exatas, Naturais e da Saúde (CCENS).

O deputado federal Helder Salomão (PT) participou da plenária e destacou que esse debate deveria ter precedido a apresentação de qualquer projeto envolvendo a Universidade. “O sul do Espírito Santo já tem uma universidade, que é a Ufes. A gente só cria o que não existe. Essa proposta fere a autonomia da nossa Universidade. Esse projeto que não pode ir à frente”, afirmou, colocando-se à disposição para abrir o diálogo na Câmara Federal.