Melhora no quadro médico traz autonomia aos pacientes.
Portadores da Síndrome da Imunodeficiência Humana (AIDS) podem se beneficiar de uma rotina de exercícios para diminuir inflamações e a sarcopenia (perda de movimento e massa muscular), condição que atinge quase 25% dos pacientes entre 35 e 60 anos, conforme estudo publicado internacionalmente, com a participação de pesquisador da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT).
A modernização do tratamento para a AIDS tem aumentado consideravelmente a expectativa de vida dos pacientes, ao ponto em que, hoje, com o acompanhamento correto, a doença em si raramente leva a óbito.
Entretanto, estudos apontam para uma prevalência alta de condições relacionadas à idade aparecendo mais cedo em indivíduos infectados, sendo a sarcopenia uma das maiores preocupações, uma vez que impacta na autonomia, na independência e na qualidade de vida dos pacientes, e está fortemente associada a resultados clínicos adversos.
“O aumento na expectativa de vida dos pacientes significa que temos pessoas infectadas com HIV com idade já avançada, o que favorece o surgimento dessas condições. Entretanto, mesmo os indivíduos mais novos tendem a ser mais reclusos e, por essa razão, acabam se exercitando pouco. Para completar, algumas terapias antirretrovirais são mais potentes e, por ventura, podem fazer com que o corpo precise buscar energia no músculo esquelético. Todos esses fatores contribuem para o surgimento da sarcopenia”, explica o professor e pesquisador da Faculdade de Educação Física (FEF) da UFMT, Fabrício Voltarelli, que participou do estudo.
Para investigar a questão, dois grupos com características similares foram formados e, durante seis meses, um dos grupos realizou exercícios aeróbicos e de musculação combinados, enquanto o outro permaneceu com suas atividades cotidianas normais.
“Ao final do estudo, encontramos que os pacientes que eram sarcopênicos conseguiram uma reversão deste quadro depois da rotina de exercícios proposta. Isso evidencia que as pessoas que vivem com o HIV/AIDS não devem ficar sedentárias, pois haverá perda considerável de massa magra”, apontou o professor.
Com a reversão desse quadro, os pacientes podem ter mais autonomia nas atividades do dia-a-dia, mesmo que sejam tarefas simples de casa ou do trabalho. “Independência e autonomia levam também à melhora de fatores psicológicos, os quais afetam sobremaneira esses pacientes. Portanto, é um conjunto de benefícios que são gerados pela prática de exercício físico regular”, completa o pesquisador.
Além do ganho de massa, o estudo também identificou como subproduto das atividades físicas a melhoria em biomarcadores inflamatórios, que diminuíram; aumento do hormônio de crescimento IGF 1, que evita a perda de massa magra; e modulação da Miostatina, responsável por manter o crescimento muscular controlado. De acordo com o pesquisador, esses dois últimos tiveram papel sinérgico na reversão da sarcopenia.
O trabalho foi publicado na revista “Journal do Cachexia, Sarcopenia and Muscle“, uma das mais renomadas neste assunto (fator de impacto 12.910), com o título “Combined Training Improves the Diagnostic Measures of Sarcopenia and Decreases the inflammation in HIV infected individuals”.