Ao longo de duas décadas foram realizados cerca de 9.000 exames para diagnóstico de lesões bucais.
De 1998 a 2019, o serviço de Estomatologia e Patologia Oral da UNIFAL-MG realizou 8.952 exames histopatológicos para o diagnóstico de lesões da cavidade bucal. Desse total, 319 foram diagnosticados como neoplasias malignas e os outros 8.633 eram doenças inflamatórias, infecciosas, reacionais e neoplasias benignas. Esses dados foram apresentados na pesquisa “Desenvolvimento e Evolução de um Serviço de Diagnóstico e de Patologia Bucal em um Estado do Sudeste Brasileiro”, publicada na Revista Brasileira de Cancerologia, do Instituto Nacional de Câncer (INCA). Acesse o artigo completo.
O estudo, originado da dissertação de mestrado da cirurgiã-dentista boliviana Laura Cruz Mamani, egressa do Programa de Pós-graduação em Ciências Odontológicas da UNIFAL-MG e primeira estudante estrangeira do programa, apontou que a maioria dos casos de malignidade, 84,64%, foram de carcinoma espinocelular oral, o tipo mais comum de câncer de boca. Os outros casos representam 6,58% de neoplasia de glândulas salivares; 5,96% de carcinoma verrucoso; 1,88% de sarcomas; 0,63% de linfomas; e um caso, 0,31%, de melanoma. A pesquisa também avaliou os aspectos demográficos dos pacientes como a cidade de origem, a idade, o sexo, a etnia e raça, hábitos relacionados ao tabagismo e ao uso de álcool.
Segundo Laura Mamani, os resultados da pesquisa contribuem para mostrar o aumento de casos de câncer de boca, mesmo com políticas públicas baseadas em programas de assistência oncológica e campanhas de prevenção. “Desde o estabelecimento do diagnóstico até o tratamento final dos pacientes, o CEC envolve muitas etapas e pode resultar em diagnóstico tardio e, portanto, em pior prognóstico para os pacientes. O diagnóstico precoce e o tratamento de lesões bucais são muito importantes, só assim podemos vislumbrar uma redução na prevalência desta neoplasia num futuro próximo”, explicou.
Até 2006, a maior parte dos pacientes era de cidades integrantes das Gerências Regionais de Saúde das cidades de Varginha (52,9%) e Alfenas (29,4%). A partir de 2007, as duas regionais continuaram predominantes, porém, com ampliação da GRS Alfenas para 47,8% dos pacientes. Além das duas regionais, a pesquisa identificou pacientes das regionais de Passos, Pouso Alegre, Divinópolis, Itabira, Manhuaçu, Sete Lagoas, Ubá e São Paulo. Entre os casos de câncer, os homens foram 2,5 vezes mais afetados que as mulheres, chegando a 71,5% dos 319 diagnósticos realizados.
A análise do material colhido dos pacientes e a emissão dos laudos são realizadas pelo Laboratório de Anatomopatologia da UNIFAL-MG, vinculado ao Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da UNIFAL-MG. Anualmente, o laboratório recebe cerca de 500 biópsias, a maioria é encaminhada pela Clínica de Estomatologia.
O coordenador do laboratório, professor Alessandro Antônio Costa Pereira, docente do ICB e atual vice-reitor da UNIFAL-MG, explica que o serviço também pode ser utilizado por outras instituições públicas, clínicas particulares e cirurgiões-dentistas. Os atendimentos clínicos e as emissões dos laudos microscópicos são gratuitos e cobertos pelo SUS.
“Além do serviço de laudos anatomopatológicos em biópsias de lesões bucais, o Laboratório está equipado para atender diversas pesquisas que são realizadas principalmente pelos docentes do Departamento de Patologia e Parasitologia (DPP) em suas atividades de pesquisa na pós-graduação e na iniciação científica da graduação, contando atualmente com sete pesquisas em desenvolvimento”, explicou Alessandro Costa Pereira.
Para o coordenador da Clínica de Estomatologia e orientador do estudo, João Adolfo Costa Hanemann, da Faculdade de Odontologia, a pesquisa “Desenvolvimento e Evolução de um Serviço de Diagnóstico e de Patologia Bucal em um Estado do Sudeste Brasileiro”, mostra o impacto dos serviços prestados pela UNIFAL-MG, por meio da Clínica de Estomatologia e do Laboratório de Anatomopatologia Bucal.
“O Laboratório de Anatomopatologia Bucal da UNIFAL-MG é um dos poucos laboratórios que prestam este tipo de serviço no estado. Desta forma, apresenta uma casuística bastante expressiva e representativa de nossa região. Os arquivos do laboratório são a fonte de inúmeros projetos de pesquisa, permitindo assim identificar a real prevalência de muitas lesões que acometem a cavidade bucal e estruturas anexas. Estes dados podem subsidiar campanhas de prevenção diminuindo a prevalência de algumas condições patológicas evitáveis beneficiando, assim, a comunidade em geral”, reforçou João Hanemann.
Segundo o orientador da pesquisa, a publicação na Revista Brasileira de Cancerologia, do INCA, atesta a qualidade e a relevância da pesquisa, tendo em vista que todos os profissionais de saúde, em especial os cirurgiões-dentistas, devem atuar na prevenção e no diagnóstico precoce do câncer de boca. “Estudos epidemiológicos são de grande importância para se entender a real prevalência desta condição patológica em nossa região. Essa enfermidade tem levado a óbito inúmeros pacientes em nossa região, no estado e no país”, concluiu.
Além da pesquisadora Laura Cruz Mamani e dos professores João Adolfo Costa Hanemann e Alessandro Antônio Costa Pereira, também participaram do trabalho a pesquisadora Marta Miyazawa (estagiária de pós-doutorado), e os professores Denismar Alves Nogueira e Felipe Fornias Sperandio, ambos da UNIFAL-MG.