UFS pesquisa impactos da inserção de movimentos físicos em sala de aula

Será que quanto mais quietos e parados em sala de aula mais os alunos conseguem prestar atenção e absorver o conhecimento? Um projeto envolvendo professores do Departamento de Educação Física, Psicologia e Educação da Universidade Federal de Sergipe tem posto essa ideia à prova e chegou a resultados preliminares que contrariam o senso comum.

Investigando como os alunos podem se mover mais na sala de aula e se o movimento ajuda na concentração e na aprendizagem, a primeira fase do projeto separou turmas de uma escola da rede municipal de ensino de Aracaju para aprendizagem em movimento, com os professores estimulando os alunos a se sentar menos, e acompanhou outras duas turmas com aulas tradicionais.

Em todas elas foi medido, por meio de um cinto com um chamado acelerômetro, o quanto os alunos se movimentaram em sala. Com um chip colocado na coxa dos alunos, chamado de inclinômetro, foi medido o quanto ficaram sentados.

Posteriormente, foram medidas a concentração e atenção dos alunos com testes psicológicos no computador, em forma de jogo, e aplicada a Provinha Brasil para medir o desenvolvimento das habilidades em português e matemática.

Na comparação dos resultados dos testes dos alunos das turmas em que havia movimento com as turmas tradicionais, os pesquisadores comprovaram que mover-se em sala de aula não faz mal, nem para a aprendizagem escolar nem para o desenvolvimento cognitivo do aluno. Pelo contrário, notou-se que os alunos que participaram das turmas de intervenção tiveram resultados levemente melhores que os das outras turmas.

Na segunda fase do projeto, eles pretendem chegar a conclusões mais robustas, uma vez que agora o projeto foi ampliado e passa a ser desenvolvido em seis escolas da rede municipal. Duas escolas terão aulas mais ativas, outras duas usarão pausas ativas, parando no meio da aula fazendo alguma atividade e depois voltando para estudar, e as duas últimas seguirão normalmente, como grupos de controle para comparação.

“O alvo é verificar o quanto aulas mais ativas podem auxiliar no desenvolvimento dos alunos, ver como mais movimento encaminha as crianças numa direção mais saudável em todas as áreas, como mais movimentação em sala de aula leva à mais movimentação e menos sedentarismo fora da escola, e consequentemente a uma vida mais saudável”, explica o professor Danilo Rodrigues, do Departamento de Educação Física, e coordenador do projeto.

Com autorização dos responsáveis pelas crianças, os pesquisadores também farão filmagens das crianças para analisar como as diversas turmas em estudo interagem entre si, e se o movimento proporciona um melhor convívio e melhor comportamento social, fazendo com que gostem mais das aulas e tenham mais interesse pela escola.

“Um dos pressupostos é que, a partir dessa ativação em sala de aula, as crianças tenham uma maior irrigação sanguínea em regiões cerebrais responsáveis pelos processos cognitivos, e que podem se desenvolver mais a partir dessas aulas. Então, o que observamos é se essa dimensão cognitiva é de fato melhorada”, pontua Danilo.

Identificar o quanto essas aulas mais ativas podem auxiliar no desenvolvimento dos alunos. Esse desenvolvimento é medido de várias formas. Uma delas é por meio de testes cognitivos computadorizados.

A primeira etapa do projeto iniciou-se em 2018 em quatro turmas do 2º ano, e em 2019 seguiu com as mesmas turmas, agora no 3º. Em 2020, o projeto foi interrompido em razão da pandemia. Agora, os pesquisadores pretendem acompanhar os alunos por um total de cinco anos.

Além do professor Danilo, o projeto Erguer é desenvolvido em conjunto pelos professores Julian Tejada, do Departamento de Psicologia, e pela professora Heike Schmitz, do Departamento de Educação.

Fotos: Walter Martins/Semed