UFPB lançará app e observatório para monitorar satisfação de trabalhadores da saúde

Projeto da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) lançará aplicativo e observatório para monitorar satisfação e sentimentos de trabalhadores da saúde nesta terça-feira (8), às 14h, em auditório que fica no térreo do Hospital Universitário Lauro Wanderley (HULW), em João Pessoa, com transmissão ao vivo pelo perfil da iniciativa no Instagram.

“O aplicativo e o observatório são frutos de um projeto que eu coordeno desde 2020, financiado por edital voltado pra covid-19, sobre os impactos do trabalho com a covid-19 pra saúde dos trabalhadores da saúde no Nordeste”, conta Thaís Máximo, professora e pesquisadora do Departamento de Psicologia da UFPB.

A fim de identificar as consequências de trabalhar na linha de frente da pandemia de covid-19, nos últimos três anos, foram realizados cinco estudos, três empíricos, dois quantitativos e um qualitativo, com participação de mais de mil trabalhadores da saúde, de forma presencial e remota.

“O aplicativo e o observatório estavam desde o princípio como produtos dessa nossa pesquisa, porque era uma forma da gente deixar alguma contribuição para os trabalhadores do SUS [Sistema Único de Saúde]”, explica Thaís Máximo. Especificamente, o observatório tem a finalidade de reunir publicações, resultados de pesquisas e os próprios dados do aplicativo para dar visibilidade a questões da saúde dos trabalhadores da saúde para a sociedade.

A professora e pesquisadora da UFPB destaca que o app foi construído em conjunto com equipe de psicologia e de TI [Tecnologia da Informação]. “Temos dois professores de TI no nosso grupo, Adson e Max, que são do campus de Rio Tinto [campus IV, no Litoral Norte. Eles fazem parte do nosso projeto justamente para pensar como é que as nossas ideias da Psicologia, voltadas pra saúde desses trabalhadores, poderiam ser reunidas por meio deste dispositivo”.

O aplicativo se chama Trabs e poderá ser baixado gratuitamente, por meio do Google Play, um serviço de distribuição digital de aplicativos, jogos, filmes, programas de televisão, músicas e livros, desenvolvido e operado pela Google. “Quando o trabalhador da saúde entra no aplicativo, ele pode registrar como é que está sentindo em relação ao trabalho naquele dia. Se ele está se sentindo reconhecido, satisfeito, inseguro, sobrecarregado. O app tem uma interface bem intuitiva”, afirma Thaís Máximo.

A partir das respostas, o projeto da UFPB quer suscitar políticas públicas de saúde mental para trabalhadores da saúde. “A gente está em 2022, dois anos depois do início da pandemia, e 60% dos trabalhadores que participaram da pesquisa disseram que não têm ações voltadas à saúde mental e mais de 60% declararam que há impactos em sua saúde mental por causa do trabalho”, alerta.

As informações geradas pelo aplicativo serão exportadas para o observatório de modo anônimo. “Mas é uma forma de denúncia, né? Dessas condições de trabalho, desses sentimentos de trabalho. E, por outro lado, é também uma ferramenta que a gente vai utilizar posteriormente pra acompanhar essas situações, essas condições de trabalho”, adianta a professora e pesquisadora da federal paraibana.

Adoecimento

No Estudo V da pesquisa, coordenada pela professora e pesquisadora do Departamento de Psicologia da UFPB Thaís Máximo, responderam ao questionário on-line 1.003 profissionais da saúde, a maioria mulheres (79,8%), dos nove estados do Nordeste, entre agosto de 2021 e abril deste ano. As respostas foram analisadas por meio do software SPSS, um aplicativo do tipo científico.

Quando perguntados sobre o sentimento mais presente no dia a dia de trabalho, 21,7% relataram se sentirem alegres, 19,4% apoiados e 12,1% reconhecidos, porém 20,9% afirmaram se sentirem adoecidos.

O principal tipo de adoecimento sentido por parte dos trabalhadores foi o adoecimento mental/estresse (33,7%), seguido de desânimo e fadiga em geral (23,2%) e problemas de sono (16,7%). Dentre os contaram passar a usar algum medicamento na pandemia, 40,7% expuseram que recorreram a psicotrópicos.

Com relação a condições de trabalho, 60,8% disseram não terem recebido ações em saúde mental pela instituição em que trabalham e, dentre os 39,2% que receberam, 48,3% consideraram que estas deveriam ser feitas de forma mais sistemática. Ainda assim, 38,4% informaram que essas ações foram importantes para lidar com as adversidades do trabalho.

Acerca da formação, recursos e organização. 52,1 % afirmaram ter recebido treinamento específico para atuar no combate à pandemia, mas 34,2% declararam que o mesmo não contribuiu pra sua atuação.

Já 92,2% expuseram ter recebido EPIs para combater a contaminação e 33,5% consideraram o material de boa qualidade e suficiente. No entanto, 21,8% informaram que foi solicitado que economizassem o material e 12,3% acharam o material de qualidade e quantidade inferior ao necessário.

Sobre relações com o público e reconhecimento, 61,6% disseram já ter vivência de algum tipo de violência no exercício de seu trabalho. E 83% opinaram que percebiam algum tipo de reconhecimento por parte dos colegas de trabalho ou da sociedade.

A maioria dos profissionais relatou ter apenas um vínculo (58,2%), porém 35,2% relataram ter dois vínculos. A maior parte atuava no serviço público (54,1%) e em hospitais (48,7%).

Quanto à remuneração, 76,2% recebiam abaixo de cinco salários-mínimos e 35% abaixo de dois salários-mínimos. No total, 47,9% dos participantes tinham uma jornada de trabalho entre 20 e 40 horas semanais, 36% entre 40 e 60 horas e 12,4% chegavam a ultrapassar 60 horas semanais.

Por Pedro Paz/Ascom/UFPB
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