As universidades federais brasileiras, em especial as localizadas na Região Amazônica, estão se mobilizando para auxiliar o povo Yanomami e outros povos tradicionais que passam por uma situação de emergência humanitária. Na última sexta-feira, 20, o Ministério da Saúde decretou estado de emergência para combater a falta de assistência sanitária que aflige o Território Indígena Yanomami, localizado, em grande parte, no estado de Roraima.
Frente a esta situação, as universidades federais se mobilizaram para auxiliar na solução desta crise sanitária e humanitária, especialmente as universidades localizadas na Amazônia, que já contam com diversos projetos e programas com os Yanomamis e outros povos tradicionais da região, e abriram chamado para voluntários em diversas frentes de atenção, cuidado e assistência aos Yanomami, formando uma equipe multidisciplinar entre as instituições da região para o atendimento imediato e posterior aos indígenas.
“Estamos buscando criar uma frente de mobilização política da Região Norte, temos já trabalhos dedicado com diversos povos indígenas, grupos de pesquisa, atividades de extensão, cursos voltados para as comunidades tradicionais. A nossa ideia é fortalecer a iniciativa do SUS [Sistema Único de Saúde], que já tem o cadastro nacional para voluntários, mas queremos organizar outras ações fora a frente de saúde, para articular as propostas, projetos e programas em parcerias com os demais ministérios para que as universidades possam ajudar a contornar a situação grave que chegaram os povos yanomamis e outros povos que por ventura possam precisar de ajuda”, detalha a vice-presidente da Andifes e reitora da Universidade de Rondônia (UNIR), Marcelle Pereira.
A Universidade Federal de Roraima (UFRR) se colocou à disposição dos ministérios da Saúde e dos Povos Originários. “Também disponibilizamos estruturas para o processo de capacitação, reuniões e armazenamento dos equipamentos e insumos, além de área para o pouso das aeronaves envolvidas. Após a implantação definitiva da comissão local do Ministério da Saúde, outras ações estão sendo discutidas”, destaca José Geraldo Ticianeli, reitor da UFRR.
Milhares de estudantes indígenas
De acordo com o reitor da Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (Unifesspa), Francisco Ribeiro da Costa, a Amazônia ocupa 58% do território brasileiro, e tem, hoje, 14 universidades federais distribuídas em 80 campi. “São milhares de estudantes indígenas matriculados em nossas instituições. Além das ações afirmativas junto à comunidade acadêmica, temos pesquisadores que há tempos desenvolvem pesquisas com grupos indígenas e de outras populações tradicionais. Podemos contribuir com conhecimento e com ações práticas”, afirma o reitor coordenador da regional Norte da Andifes.
A área geográfica Yanomami compreende parte do Amazonas, corta Roraima e chega à Venezuela, enquanto a Universidade Federal do Amazonas (UFAM) atua em projetos e ações com povos tradicionais há mais de 30 anos nessa região. “É uma troca de conhecimento, aprendemos o conhecimento tradicional com eles, e ensinamos o conhecimento científico. O papel da universidade federal nessa região é estratégico para o projeto de nação e para as populações indígenas, para preservação da sua cultura, memória e línguas, algumas que até se perderam, e é fundamental para que possamos fazer esse resgate histórico e de apoio às comunidades”, detalha o reitor Sylvio Puga (UFAM).
A atuação da Universidade Federal do Pará (UFPA) na saúde indígena também ocorre há muitos anos, com pesquisadores e membros da comunidade acadêmica que atuam em comunidades no estado do Pará e algumas incursões em outros estados da Região Amazônica, conta Emmanuel Tourinho, reitor da UFPA. “Neste momento estamos colaborando com as ações para atender a população yanomami, inclusive a partir de uma convocação do Ministério da Saúde aos hospitais universitários, em particular os hospitais das instituições da região da Amazônia, mas também temos programas regulares voltados à inclusão de alunos indígenas, quilombolas, ribeirinhos e extrativistas, os povos tradicionais da região”, afirma Tourinho.
Para o reitor da UFPA, as universidades são estratégicas para um projeto de nação que pretende reparar erros históricos para com os povos tradicionais da Amazônia, um projeto com um foco muito grande na promoção de cidadania. “As universidades são parceiras de todos os entes do Estado que estiverem imbuídos de fazer e executar políticas públicas que possam tornar concreto esse projeto. Temos nas nossas instituições uma capacidade técnica e científica muito avançada, conhecemos a Amazônia como ninguém, temos experiência de trabalho com as populações, com a realidade social, econômica e social, e as universidades federais estão à disposição para contribuir muito mais com esses esforços para a atenção aos povos indígenas”, conclui Tourinho.