Unirio – Estudo investiga evolução da Covid-19 em pacientes infectados com o vírus HTLV-1

Pesquisadores da UNIRIO investigaram a evolução da Covid-19 em pacientes já infectados pelo vírus lintrofotrópico de células T humano tipo 1 (HTLV-1) e atendidos no Ambulatório de Neuroinfecção do Hospital Universitário Gaffrée e Guinle (HUGG). O estudo, conduzido entre 2020 e 2022, revelou que a infecção prévia não é capaz de agravar os sintomas provocados pelo novo coronavírus, ao contrário do que os cientistas esperavam.

“Foi uma surpresa, pois essas pessoas já apresentavam uma infecção viral persistente, justamente no momento em que a cidade do Rio de Janeiro teve muitas mortes em decorrência da Covid-19”, salienta a coordenadora da pesquisa e professora da Escola de Medicina e Cirurgia (EMC), Marzia Puccioni. Segundo ela, 19 dentre 51 pacientes que participaram do estudo – o equivalente a 37% – tiveram Covid-19, mas nenhum deles evoluiu para o quadro crítico da doença. “A grande maioria dos participantes apresentou as formas assintomática, leve ou moderada, enquanto 27% tiveram uma forma mais grave, mas não precisaram de internação nem evoluíram para o óbito”, revela.

O HTLV-1 é um retrovírus da família do HIV que se incorpora à célula, causando infecção persistente no organismo – para a qual não existe vacina nem tratamento. De acordo com a professora, 95% das pessoas infectadas permanecem assintomáticas, mas 5% desenvolvem doenças graves, como leucemia de células T do adulto e mielopatia inflamatória crônica, que resulta em paraplegia, restringindo o paciente à cadeira de rodas. A infecção é considerada negligenciada, por receber pouco investimento governamental e atingir principalmente a população socioeconomicamente menos favorecida. O Brasil é o país com maior número absoluto de casos no mundo.

No estudo conduzido no HUGG, a ansiedade emergiu como principal fator de risco associado à COVID-19, sendo relatada por 57,9% dos participantes. “Os pacientes infectados pelo HTLV já convivem com um grau de ansiedade maior do que a população em geral, e isso se somou à ansiedade da pandemia, que atingiu a todos”, observa Marzia. Além disso, a condição pós-COVID-19 se manifestou em 57,9% dos pacientes. “Nesse grupo, nenhum participante havia sido vacinado contra a doença”, pondera a professora.

Participaram do estudo alunos de graduação e pós-graduação, além do professor da EMC Dário Signorini. “Esse trabalho conjunto evidencia a importância da ciência na formação médica, pois os alunos tiveram uma participação ativa no desenvolvimento da pesquisa, compreendendo o sofrimento dessa população, que é negligenciada, e a importância da saúde pública no nosso país”, ressalta Marzia. O projeto teve apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj).