Ao observar as tendências das redes sociais, as chamadas “trends”, uma mestranda do Programa de Pós-Graduação em Estatística Aplicada e Biometria da UNIFAL-MG identificou a possibilidade de pesquisar a preferência do consumidor por tipos de queijos, utilizando um confronto dois a dois no Instagram. O resultado apontou divergências em relação a outras pesquisas sobre preferência no consumo de queijos.
O artigo “Batalha dos queijos: chaveamento via stories do Instagram” é parte da dissertação da acadêmica Fernanda Lara Valadares, desenvolvida sob a orientação dos professores Eric Batista Ferreira e Carlos Pereira da Silva, do Instituto de Ciências Exatas (ICEx). O problema central do trabalho é encontrar a probabilidade de um competidor ser eleito o grande vencedor em uma competição, sem necessariamente ser o melhor.
Segundo a acadêmica, a escolha dos tipos de queijo como tema de estudo, bem como da rede social Instagram, ocorreu em função da popularidade dessa rede social e do alimento. “Estatística se aplica ao nosso dia a dia e a escolha de um tema popular tornou a pesquisa mais atraente para o público e mais didática”, afirmou.
Para chegar ao objetivo, a pesquisadora usou a ferramenta enquete no Instagram para avaliar a preferência dos seguidores, usando um esquema de chaveamento para o confronto entre oito tipos de queijos: Coalho, Requeijão, Cheddar, Prato, Parmesão, Muçarela, Suíço e Gorgonzola.
”Chaveamento é um tipo de disposição dos competidores (tratamentos) para se enfrentarem em combates do tipo mata-mata, dois a dois. Além disso, o chaveamento preconiza que o vencedor prossegue na competição enquanto o perdedor é eliminado (quando não há repescagem). Assim, os vencedores se enfrentam, até que se chegue ao grande vencedor”, explica o professor Eric Ferreira, informando que as batalhas nos stories têm sido comuns para preferência de roupas, matérias de um curso, universidades, bandas, cantores e séries de canais de streaming.
Conforme o orientador do trabalho, o agrupamento produzido automaticamente pelo chaveamento foi comparado com os dados de pesquisas anteriores que investigaram a popularidade dos queijos brasileiro em outra rede social – o Twitter. No estudo, Fernanda Valadares se fundamenta também em uma pesquisa do IBGE de 2018 que revela a Muçarela, como sendo o queijo mais consumido no país, seguido de queijo Minas, Requeijão, Prato e Parmesão.
Prof. Eric Batista Ferreira e Prof. Carlos Pereira da Silva do Instituto de Ciências Exatas são os orientadores do trabalho. (Foto: Arquivo Pessoal)
Já os dados coletados por meio de comentários no Twitter e utilizados como parâmetros na pesquisa revelam outra ordem: queijo Coalho, Requeijão, Cheddar, Parmesão, Muçarela, Suíço e Gorgonzola. “A frequência de citação dos nomes dos queijos no Twitter não reflete, necessariamente, a sua preferência pelo público”, explica a autora da pesquisa. “Nem mesmo o consumo reflete fielmente a preferência, afinal, consome-se aquele queijo que cabe no orçamento familiar”, acrescenta.
No chaveamento promovido durante as 24 horas de duração dos stories em uma conta no Instagram, os queijos vencedores de cada confronto passaram para as fases seguintes. “O queijo Coalho venceu o queijo Suíço, e foi enfrentar a Muçarela na fase semifinal. De forma análoga, passadas as 24 horas preconizadas pelo story, foram coletadas as frequências absoluta e percentual dos seguidores que votaram cada queijo competidor”, detalha.
Diferentemente do trabalho realizado com dados do Twitter, em que os autores apontam os queijos Coalho e o Requeijão como os mais comentados na rede social, o estudo de Fernanda Valadares mostra preferência do público pelo Parmesão e Muçarela. Entretanto, em ambas redes sociais, os queijos Gorgonzola e Suíço foram os últimos colocados.
A ordem do chaveamento foi a seguinte: o queijo Parmesão (55,9%) em primeiro lugar; em segundo lugar, o queijo Muçarela (47,1%); em terceiro lugar, os queijos Prato (43,6%) e Coalho (34,2%); em quarto lugar, os queijos Suíço (45,5%), Cheddar (41,3%), Requeijão (32,3%) e Gorgonzola (29,4%).
A pesquisadora chama atenção para o fato de que fatores como renda familiar, perfil dos consumidores, crenças e hábitos alimentares impactam diretamente as investigações sobre consumo em uma determinada região ou país. “O consumo é um fenômeno complexo que envolve renda, oferta, procura, disponibilidade, aspectos culturais e regionais, preço, propaganda, aspectos nutricionais e calóricos, dentre outros. Nesse sentido, trabalhos futuros devem investigar mais profundamente o consumo”, alerta.
Além do chaveamento, no estudo também foi utilizada análise de variância seguida dos testes de Tukey e Scott-Knott, a 5% de significância.
Participaram da pesquisa entre 60 e 100 pessoas em cada confronto, sendo predominantemente jovens brasileiros da região Sudeste e de classe média, de ambos os sexos.
O artigo na íntegra pode ser acessado na última edição do periódico eletrônico Sigmae do Instituto de Ciências Exatas (ICEx) da UNIFAL-MG, neste link.