Cientistas da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) criaram substância contra fungos do gênero Aspergillus, que causam infecções respiratórias como sinusite, asma, pneumonia e bronquite, em seres humanos. Segundo os pesquisadores da instituição, a amida sintética 2-cloro-N-fenilacetamida é promissora para testes em seres vivos.
“O estudo demonstrou que o 2-cloro-N-fenilacetamida apresenta potencial antifúngico promissor, com perfil farmacocinético favorável à administração pela via oral e baixo potencial citotóxico e genotóxico, sendo um candidato para pesquisas de toxicidade in vivo”, afirma Aleson Sousa (na foto, o primeiro da direita para esquerda), egresso do curso de doutorado em desenvolvimento de medicamentos da UFPB e um dos participantes do trabalho científico.
O estudo da UFPB teve início há quatro anos, pela pesquisadora Elba Ferreira, no âmbito do curso de doutorado do Programa de Pós-graduação em Produtos Naturais e Sintéticos Bioativos, vinculado ao Centro de Ciências da Saúde da UFPB, sob orientação do professor Ricardo Castro. Os ensaios de toxicidade foram realizados em parceira com a Liga Acadêmica de Fitoterapia Bioquímica e Microbiologia (Lafbim) da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), coordenada pelo professor Abrahão de Oliveira Filho.
A natureza da substância desenvolvida sinteticamente pelos pesquisadores da UFPB é orgânica, ou seja, apresenta estrutura com uma carbonila ligada a um nitrogênio. A ureia é a amida mais conhecida, pois participa do processo de nutrição dos animais e é excretada pelos seres humanos.
Segundo o biomédico analista clínico, especialista em citologia, a resistência dos fungos do gênero Aspergillus a terapias aplicadas atualmente vem crescendo, reduzindo as possibilidades de tratamento com antifúngicos disponíveis hoje em dia no mercado, como o fluconazol e o itraconazol. Se os testes com seres vivos forem positivos, a amida sintética 2-cloro-N-fenilacetamida poderá se tornar um novo medicamento antifúngico.
O pesquisador Aleson Sousa destaca que o gênero Aspergillus compreende um grupo de fungos saprófitos, que são aqueles que se alimentam absorvendo substâncias orgânicas normalmente provenientes de matéria orgânica em decomposição. Além de causar infecções respiratórias em seres humanos, podem provocar também micoses, deterioração e contaminação de alimentos do tipo grão, como arroz, aveia, cevada, ervilha, feijão, milho, amendoim e soja.
“Micoses são doenças causadas por fungos e têm amplo espectro de apresentação clínica, variando desde lesão superficial, que acomete a camada mais externa da epiderme, até infecções graves e disseminadas, capazes de determinar a morte do hospedeiro quando não diagnosticadas e tratadas adequadamente”, esclarece o pesquisador.
Conforme Aleson Pereira, antes de desenvolverem micoses e infecções respiratórias nos seres humanos, fungos do gênero Aspergillus provocam a aspergilose, doença infecciosa oportunista que surge quando um deles entra no organismo, por meio da inalação de esporos por indivíduos com imunidade reduzida, principal grupo de risco para esse tipo de fungos.
De acordo com o Ministério da Saúde, não existe transmissão inter-humana dos fungos do gênero Aspergillus, nem de animais para o homem. Os sintomas mais comuns da aspergilose são tosse persistente com presença de catarro ou sangue, dificuldade ao respirar, dor no peito, febre acima de 38°C e perda de peso. O diagnóstico é clínico e laboratorial. A principal medida de prevenção e controle é evitar a exposição direta ao fungo.
Envolvido nos últimos anos com o isolamento e avaliação de produtos naturais na busca de seus efeitos farmacológicos e potencial toxicológico, Aleson Sousa conta que as espécies A. flavus e A. niger são, respectivamente, a segunda e terceira maiores causas de aspergilose documentada na literatura. Além delas, as espécies A. fumigattus, A. nidulans, A. terreus e A. oryzae são as mais estudadas do gênero, devido à importância médica, agrícola e industrial delas.
A pesquisa teve fomento da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), por meio da concessão de bolsas de doutorado e de estágio de pós-doutorado. Os principais resultados foram publicados recentemente, por meio de um artigo, no periódico Drug and Chemical Toxicology, classificado com Qualis A3.
A descoberta da atividade biológica da amida sintética poderá se tornar uma patente junto ao Instituto Nacional da Propriedade Industrial (Inpi). O pedido de depósito será realizado em breve. Também colaboraram no estudo os pesquisadores Laísa Cordeiro, Daniele Figuerêdo Silva, Hermes Diniz Neto, Helivaldo Souza, Petrônio Athayde Filho, Felipe Guerra, José Maria Barbosa Filho, Abrahão Oliveira Filho e Edeltrudes Lima.
“Dados epidemiológicos mostram que a frequência de infectados com aspergilose é em torno de 200 mil casos por ano e um total de três milhões de pessoas acometidas em todo o mundo, causando mais de 15% de mortes nos primeiros seis meses de doença, o que representa, aproximadamente, cerca de 450 mil óbitos somente na fase inicial”, alerta Aleson Sousa.
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Reportagem: Pedro Paz