Pesquisadores do Programa de Pós-Graduação em Biologia Animal (PPGBA) da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), o professor Ulisses Pinheiro e o doutorando Alan Dias identificaram duas novas espécies de esponjas marinhas: a Neophrissospongia jorgeorum e a Awhiowhio saci. A descoberta é descrita no artigo “Two news species of Corallistidae (Porifera; Demospongiae; Tetractinellida) with a first record of Awhiowhio from the Atlantic”, elaborado em conjunto com a pesquisadora Michelle Kelly, do Oceans Centre do National Institute of Water and Atmospheric Research (NIWA), que é uma referência mundial na área, e publicado na revista científica Zootaxa.
O professor Ulisses Pinheiro explica como é feito o trabalho dos pesquisadores para identificar se as esponjas que encontram são de uma espécie nova ou já conhecida: “Para identificar uma espécie de esponja, estudamos sua morfologia externa e a interna. Mas vai ser justamente na morfologia interna que encontraremos as características mais importantes para fazer a identificação. O esqueleto das esponjas é formado por estruturas silicosas [de sílica] chamadas espículas e é graças a este esqueleto que conseguimos comparar as espécies entre si e avaliar se o material analisado pertence ou não a uma espécie nova para ciência”.
As espécies Neophrissospongia jorgeorum e Awhiowhio saci são encontradas em ambientes marinhos profundos. Para coletá-las, geralmente os pesquisadores lançam redes ao mar. “Um fato curioso é que uma das espécies que identificamos havia sido coletada em 2001 pelo projeto Revizee, que fez arrastos ao longo de toda costa brasileira, mas, como haviam sido perdidas quase todas as informações da localidade de coleta, esse material foi doado para coleção didática da UFPE e foi utilizado por mais de uma década como material para as aulas práticas. E foi justamente em uma prática que percebi que o material era bastante diferente dos demais e resolvi levá-lo para o Laboratório de Porífera para estudá-lo cientificamente. E, mesmo com dados da coleta escassos, foi possível inferir em qual região ele possivelmente foi coletado”, relembra o professor.
A Awhiowhio saci é a primeira espécie do gênero a ser identificada no Oceano Atlântico – antes, só havia registros de ocorrência no Oceano Pacífico. O nome escolhido para a espécie conecta simbolicamente a cultura de povos que vivem nas duas regiões do planeta. “Espécies deste gênero Awhiowhio foram primeiramente descobertas perto da Nova Zelândia e, por isso, elas receberam esse nome que na cultura maori significa ‘ciclone’. Como a espécie encontrada pela primeira vez no Atlântico é brasileira, colocamos o nome de Awhiowhio saci, justamente pois na cultura popular o Saci causava redemoinhos”, esclarece Ulisses Pinheiro.
“Como um jovem pesquisador em inicio de carreira, posso dizer que experiência que tive na descrição de ambas as espécies foi extremamente satisfatória, tanto para Awhiwhio saci, com todo o histórico do espécime coletado há mais de 20 anos sem identificação alguma e o fato de ser o primeiro registro do gênero para o Oceano Atlântico, como para Neophrissospongia jorgeorum, que, além de representar o primeiro registro do gênero para o Brasil, também possui um valor sentimental pois o nome da espécie se deu em homenagem ao meu pai”, revela o doutorando Alan Dias.
A descoberta recente das novas esponjas torna-se mais um exemplo importância de se realizar pesquisas acadêmicas para basear medidas de preservação da vida nos oceanos – e, consequentemente, no planeta como um todo.
“O ambiente marinho tem uma importância crucial para a preservação da biodiversidade, pois foi justamente onde a vida surgiu na Terra. As esponjas foram os primeiros animais a surgirem no planeta e elas têm uma importância crucial para o ecossistema marinho por servirem como abrigo e alimento para vários outros organismos. Além disso, elas têm grande potencial biotecnológico, já que são extraídas delas substâncias de grande interesse farmacológico”, afirma o professor Ulisses Pinheiro.
“Apesar disso tudo, ainda estamos apenas engatinhando no conhecimento destes organismos, principalmente quando falamos de ambientes profundos que são muito mais difíceis e caros de serem bioprospectados”, completa o docente, vinculado ao Departamento de Zoologia.
Fotos: Eugênia Bezerra