O uso de esteroide anabolizante foi proibido nos Jogos Olímpicos de Montreal, no Canadá, em 1976. Desde então, os Comitês Olímpicos e as Federações de cada uma das modalidades esportivas vêm criando e aperfeiçoando métodos para detecção de substâncias perigosas para a saúde dos atletas ou com potencial de causar melhora no desempenho desportivo. Para padronizar as ações contra o doping em todo o mundo, em 1999, foi criada, na Suíça, a Agência Mundial Antidoping (WADA, na sigla em inglês).
A entidade criou o Código Mundial Antidoping, documento revisado anualmente, e que contém a lista de substâncias e métodos proibidos. A partir dessa publicação, o atleta, sem aviso prévio, pode ser solicitado a fornecer amostra de urina e/ou sangue que será analisada por um laboratório credenciado à WADA. Atualmente, segundo Jhonatan Bispo de Oliveira, que realizou o mestrado no CEFET-MG pelo Programa de Pós-Graduação Multicêntrico em Química de Minas Gerais, há diversos métodos para detecção de doping, mas, dentre os autorizados pela Agência Mundial, as técnicas cromatográficas têm destaque. “Isso acontece porque essas técnicas são seletivas, por permitir a separação dos compostos, ter limites de detecção baixíssimos e robustez analítica, permitindo a confirmação inequívoca das substâncias proibidas”, explica.
Inovação
Jhonatan, que defendeu a dissertação “Desenvolvimento de método analítico para Análise IT-SPME (in tube) de esteroides para aplicação em antidoping” e hoje é doutorando em Química na UFMG, explica que os métodos de preparo de amostras (urina, sobretudo) em doping são divididos basicamente em derivatização, extração e pré-concentração e inserção da amostra. “A etapa de derivatização tem a função de modificar o analito (componente químico presente na amostra), de forma que se torne mais suscetível a extração, permitindo que fique mais fácil a remoção da fase aquosa. Contudo, na derivatização, há desvantagens econômicas (pois os reagentes são caros), de tempo de análise (podendo levar horas ou mesmo dias) e de repetibilidade e reprodutibilidade (pode ocorrer diversas reações paralelas, podendo resultar em problemas na validação)”, conta.
Dessa maneira, o pesquisador, em seu trabalho, buscou validar um novo dispositivo de preparo de amostra, o IT-Fex, desenvolvido pelos alunos do grupo de pesquisa InTechLab, para análises antidopings. Esse dispositivo, diz Jhonatan, evita a etapa de derivatização. “Outras vantagens são que, devido à sua característica, permite que haja maior extração de todos os compostos e maior diversidade de classes pode ser analisada. Por tudo isso, constatei que o IT-Fex foi uma alternativa barata, rápida e obteve resultados semelhantes e até melhores que métodos já existentes para determinação de doping”, conclui Jhonatan, que se graduou em Química no CEFET-MG.
Doping nos Jogos Olímpicos
De acordo com o Comitê Olímpico Brasileiro (COB), o uso de substâncias para aumentar a performance esportiva ocorre desde a Grécia Antiga, quando se comia testículo de carneiro acreditando-se na melhora do desempenho atlético. Nos Jogos Olímpicos, o primeiro registro foi em 1904, quando, na maratona, houve uso de conhaque e estricnina.
Somente em 1967, o Comitê Olímpico Internacional (COI) criou uma comissão médica e divulgou a primeira lista de substâncias proibidas. Sendo que, em 1968, nos Jogos Olímpicos da Cidade do México, foi registrado o primeiro teste positivo para doping, do pentatleta sueco Hans-Gunnar Liljenwall, que confessou ter ingerido cerveja antes da prova de tiro para se acalmar.
Um dos registros mais impactantes de teste positivo para doping nos Jogos Olímpicos foi o do velocista canadense Ben Johnson, que, nos Jogos de Seul, na Coreia do Sul, em 1988, conquistou o ouro 100m rasos e bateu o recorde mundial da prova. Na ocasião, Johnson testou positivo para estanozolol, um tipo de esteroide que, segundo o artigo científico “Efeitos do estanozolol na pressão arterial sistólica de ratos sedentários”, coordenado pelo fisiologista Gyl Maciel, promove aumento de força sem ganho de peso extra e ajuda na perda de gordura preservando a massa muscular. Por isso, Johnson perdeu a medalha de ouro e foi suspenso por dois anos.