Ufra, instituições parceiras e populações tradicionais apresentam tecnologias sociais na Amazônia para a Agenda 2030 da ONU

Com objetivo de partilhar soluções transformadoras dos processos de produção e consumo na Amazônia, foi promovido o seminário com o tema “O papel estratégico das tecnologias sociais na Amazônia para a Agenda 2030”, dentro Diálogos Amazônicos no último sábado, 5, no Hangar Centro de Convenções, em Belém. A organização foi da Universidade Federal Rural da Amazônia (Ufra), Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Museu Paraense Emílio Goeldi, Instituto Mamirauá e Projeto Saúde e Alegria.

O evento contou com a presença de autoridades, pesquisadores e representantes dos povos amazônicos, que foram fundamentais no debate, que também reuniu pescadores e ribeirinhos que compuseram a mesa e apresentaram projetos de tecnologia social que são desenvolvidos nas ilhas próximas a Belém, em Santarém, Oeste do Pará, e no município de Tefé, no interior do Amazonas.

Durante a atividade foram apresentadas as dificuldades dos povos da Amazônia que não moram dentro dos grandes centros urbanos. Mary Bahia, agente de saúde da Ilha das Onças, que fica a 30 minutos de barco de Belém, comentou que boa parte da comunidade não tem saneamento, esgotamento sanitário, coleta de lixo, nem energia elétrica e, apesar de estar cercada por um rio, não tem nem água potável encanada.

Mary Bahia, moradora da Ilha das Onças, Barcarena-PA

Representantes das comunidades puderam sugerir propostas e conversar presencialmente com autoridades e destacaram as políticas públicas necessárias para as suas regiões, afirmando que “não queremos luxo, queremos o mínimo de dignidade, que é água, saneamento e transporte”.

A professora da Ufra, Vania Neu, comentou a necessidade de proporcionar uma vida dignidade aos povos da Amazônia e os enxergar como protagonistas para a preservação da floresta. “Se não dermos as condições mínimas para as pessoas viverem no meio rural, no meio da floresta, a gente não vai conseguir manter a Floresta Amazônica, porque essas pessoas estão indo embora do meio rural, porque elas não têm o mínimo, elas não têm água, não têm educação, e esse povo vai atrás de algum recurso. O que eles não podem é sucumbir lá no meio da floresta. E aí no momento que essas pessoas vão embora, esse lugar fica vazio e as grandes corporações chegam, desmatam. Entra desmatamento, entra garimpo, entra produção de soja em grande escala e fica aberto para grilagem e degradação. E os povos tradicionais que eram os guardiões daquele local, eles acabam indo para a periferia da cidade”, afirmou.

Um dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Organização das Nações Unidas (ONU) é “garantir a disponibilidade e a gestão sustentável da água potável e do saneamento para todos”. Apesar de a população ribeirinha, na região metropolitana de Belém, ser cercada de água doce, essa água está cada vez mais poluída.  Pensando nisso, a professora Vania Neu, da Ufra, coordena o projeto que garante água potável com a captação da água da chuva para famílias da Ilhas da Onças. Esse projeto foi apresentado pela moradora da comunidade, Mary Bahia, na sala do Hangar, e foi muito elogiado pelas autoridades presentes. Também foi distribuída uma cartilha, lançada em 2018, com detalhes de como montar o sistema de captação (cisterna) passo a passo.

Outro projeto de tecnologia social que visa contribuir para a agenda 2030 da ONU é o de banheiros ecológicos ribeirinhos, que transforma os dejetos que contaminariam a água e o solo, pela falta de saneamento e tratamento, em adubo orgânico para hortas por meio da compostagem. A cartilha do banheiro ecológico ribeirinho com detalhes de como montar, também foi distribuída no evento.

Uma das organizadoras do evento, a socióloga rural professora Ruth Almeida, da Ufra, contou que o evento “serviu de vitrine e alerta de como as instituições de ensino, pesquisa, extensão, o Estado e as populações tradicionais podem e devem trabalhar conjuntamente para a solução de problemas, sendo as tecnologias sociais um caminho viável.”

O espaço ficou lotado e contou com a presença do prefeito de Belém, Edmilson Rodrigues; o ministro do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome, Wellington Dias; Vicente Araújo Coordenador Geral de Desenvolvimento Sustentável do Ministério das Relações Exteriores; a Secretária executiva da Secretaria Geral da Presidência da República, Maria Fernanda Ramos; Secretária Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional do Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Lilian Rahal; a Presidente da Associação de Moradores e Produtores Quilombola de Abacatal/Bom Jesus (AMPQUA), Thamires Cardoso Teixeira; além dos pescadores e ribeirinhos que compuseram a mesa.

Texto originalmente publicado em UFRA