Uma equipe de pesquisadores da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) e da Universidade Federal de Alagoas (UFAL) desenvolveu um alimento para nutrição enteral com uso da farinha de inhame, a fim de apoiar pacientes que necessitam se alimentar por meio de sonda, por estarem impossibilitados de realizarem a ingestão oral de alimentos.
A invenção realizada com insumos in natura e minimamente processados se destaca por garantir uma dieta com adequado aporte nutricional, por meio da adição da farinha de inhame. A dieta é isenta de glúten e conservantes, além de possuir ótimas características nutricionais, sendo adequada em calorias, carboidratos, lipídeos, proteínas e fibras.
O depósito do pedido de patente da invenção já foi realizado junto ao Instituto Nacional de Propriedade Intelectual (Inpi), por meio da Agência UFPB de Inovação Tecnológica (INOVA-UFPB), e é fruto de pesquisa iniciada pela professora Cinthia Karla Rodrigues do Monte Guedes, enquanto era docente na UFAL. Atualmente, ela é professora do Departamento de Nutrição, do Centro de Ciências da Saúde (CCS) da UFPB.
Na UFPB, a pesquisa foi finalizada com o desenvolvimento do produto, que se deu ao longo de dois anos e envolveu o Programa de Pós-graduação em Ciências da Nutrição (PPGCN/ UFPB), por meio da pesquisa para o mestrado do aluno Sandy Ferreira Martins, sob orientação da Profa Maria da Conceição Rodrigues Gonçalves e Coorientação da Profa Cinthia Rodrigues.
A pesquisa contou, ainda, com a participação das alunas de iniciação científica Talita Silveira Queiroga e Maria Tatiana Ferreira dos Santos, por meio de um projeto do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC). Na Universidade, também se envolveram na pesquisa docentes do CCS e do Centro de Tecnologia e Desenvolvimento Regional (CTDR).
De acordo com Cinthia Rodrigues, a escolha da farinha do Inhame (Dioscorea cayenensis) como substituta para produtos industrializados em alimentos enterais deve-se ao fato deste alimento conferir tanto propriedades nutricionais como pela presença de compostos fitoquímicos, relacionados com diversos benefícios ao organismo humano.
“Quando pensamos em usar a farinha de inhame foi justamente por ela ser rica em alguns nutrientes, como o amido, capaz de ajudar no aumento da densidade energética, ou seja, aumentar as calorias da dieta. Assim como por possuir alguns antioxidantes e componentes funcionais, ajudando a aperfeiçoar este alimento especial”, explica a pesquisadora.
O produto foi desenvolvido em dois anos de pesquisa, resultando em um alimento para nutrição enteral com insumos in natura e minimamente processados contendo a farinha de inhame, que proporcionou um aumento de 11% no teor de energia, 22% no teor de carboidratos, 5% no teor de proteína e 18% no teor de fibra da dieta, em relação à versão sem a inclusão da farinha de inhame.
“É difícil desenvolvê-la por que ao manipularmos produtos naturais precisamos ter um excelente controle microbiológico, já que é um perecível, e também precisamos atingir a quantidade de calorias, o que é algo difícil por se tratar de uma dieta líquida e, portanto, de baixa densidade energética”, explicou Cinthia Karla Rodrigues.
Para a professora, outra vantagem do alimento é a utilização de ingredientes naturais e minimamente processados, em contraponto aos alimentos industrializados, uma vez que estes ainda que tenham todas as constituintes nutricionais, também têm conservantes, corantes, e são feitos para durarem muito tempo, por vezes com o uso de ingredientes ultraprocessados.
“Então, quando nós pensamos em fazer uma dieta para nutrição enteral com alimentos in natura e minimamente processados foi justamente para tentarmos suprir, através da alimentação natural, as necessidades de pacientes enfermos”, disse a docente.
O alimento desenvolvido pode ser utilizado por grupos populacionais, como pacientes em tratamento com nutrição enteral domiciliar, indivíduos cuja condição clínica impossibilite a ingestão oral alimentar e indivíduos com doença celíaca ou intolerantes ao glúten, por não apresentar o composto na sua constituição.
Estudos do grupo indicam que o inhame tem, ainda, efeito preventivo para muitas doenças, como diabetes, hipertensão, controle da hipercolesterolemia e outras propriedades medicinais. Dentre tantas outras funções, o inhame é uma matéria-prima de vasta produção no Nordeste e, na Paraíba.
Para a professora, utilizar o Inhame tem ainda um potencial no quesito sustentabilidade. “É realmente um universo pouco estudado que apresenta um grande potencial. Uma questão de regionalidade, sustentabilidade, desenvolvimento de meio ambiente, muito importante aqui para a Paraíba e para o Nordeste de forma geral”, explicou a docente.
O estudo contou com financiamento parcial da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Alagoas (FAPEAL). Enquanto aguarda o resultado da análise do depósito de patente, Sandy Ferreira Martins e Cinthia Rodrigues estão desenvolvendo um artigo científico sobre o produto.