Iniciou-se em 11 de setembro a segunda expedição de pesquisadores pelo estuário do Rio Pará, considerado o quinto maior rio do mundo. O trabalho é liderado pela professora Vania Neu, professora da Universidade Federal Rural da Amazônia (Ufra) e envolve cientistas de outras sete instituições de pesquisa, com financiamento do governo do estado. Essa é a primeira vez que um estudo desse porte é realizado no estuário. Os pesquisadores devem ficar 18 dias embarcados, realizando medições diárias ao longo de 10 municípios, em um trajeto de quase 900km, de Belém ao município de Breves, no Marajó, e entrando no rio Tocantins até o município de Baião.
Expedição passará por 10 municípios durante 18 dias
Durante a expedição os pesquisadores vão realizar medições sobre a quantidade de água que está saindo, de todos esses rios e canais, ou seja, a vazão do rio; gases de efeito estufa dióxido de carbono (CO2) e metano (CH4) lançados do rio para a atmosfera, e que podem influenciar nos dados sobre mudanças climáticas; avaliação da qualidade da água e monitoramento de sedimentos presentes no rio e a quantificação de microplástico nas águas do Pará, incluindo os efeitos sobre o pescado (peixes e camarões), o que influencia diretamente na segurança hídrica e alimentar da comunidade que depende do rio.
Equipamentos auxiliam no monitoramento dos gases do efeito estufa emitidos pelo rio, assim como temperatura, salinidade, ph, temperatura turbidez, dentre outros. Foto: Bruno Chaves
Segundo a pesquisadora, 20% de toda a água doce que chega ao oceano vem da foz do rio Amazonas, o maior rio do mundo. Avaliar a contribuição do rio Pará nesse cenário é de extrema importância. “Além desse levantamento e monitoramento hidrobiogequimico do estuário do Rio Pará nunca ter sido realizado, com a pesquisa nós também podemos ter a primeira estimativa do microplástico que está saindo do rio Pará e o que está indo para o oceano, ou seja, são dados com impacto internacional que podem contribuir para a agenda ambiental do estado, especialmente nesse momento em que Belém vai sediar a Conferência Mundial do Clima em 2025. O que chega no rio é resultado de todo o processo que acontece no ambiente terrestre, ou seja, mineração, desmatamento, esgoto, lixo, tudo o que é jogado no ambiente terrestre vai chegar ao rio e ao oceano.”, disse.
Pesquisadores realizam monitoramento e coletas completas diárias no rio. Foto: Bruno Chaves
A pesquisadora explica que os dados também contribuem para previsões futuras do nível de água e correntes, o que pode gerar um sistema de monitoramento para previsão de riscos e desastres para a população do Pará. “Uma das pesquisas também envolve modelos matemáticos que podem realizar previsões hidrodinâmicas sobre as áreas que podem sofrer inundações futuramente, além do aumento do nível do mar. A medida que a água do oceano entrar a maiores distâncias nas regiões estuarinas, mais comunidades terão maiores dificuldades em obter água doce, o que impacta diretamente com a segurança hídrica e alimentar dessas comunidades”, explica.
O grupo se desloca em um barco laboratório, o percurso da expedição é georreferenciado e a coleta de dados ocorre durante todo o dia, tanto por meio de equipamentos, tanto por coletas completas, realizadas pelos pesquisadores em sete pontos específicos, de acordo com o ciclo da maré, totalizando 13h diárias. Ainda está prevista mais uma expedição do grupo, já que toda a parte química e hidrodinâmica do rio é variavel, daí a necessidade que o estudo seja realizado ao longo do ano e em diferentes períodos.
Parte da equipe do projeto, que inclui sete instituições de pesquisa. Foto: Buno Chaves
Além de pesquisadores da Ufra, o estudo “Influência dos Processos Hidrodinâmicos sobre as Trocas de carbono e nitrogênio no Sistema estuarino do rio Pará” também reúne professores, mestrandos, doutorandos e estudantes de iniciação científica vinculados ao PCT Guamá, Universidade Federal do Pará (UFPA), Museu Emílio Goeldi, Universidade de São Paulo (Usp), Universidade Federal do Rio de Janeiro (Ufrj), Universidade federal do Oeste do Pará (Ufopa) e Embrapa.
Por Vanessa Monteiro
Texto originalmente publicado em UFRA