Um ano após ataques, patrimônio dos Três Poderes passa por restauração

Bens de valor inestimável foram quebrados, rasgados e saquedos.

Os ataques antidemocráticos do 8 de janeiro completam um ano nesta segunda-feira. E o patrimônio histórico das sedes dos Três Poderes da República foi um dos alvos. Bens artísticos de valor inestimável do acervo da União foram quebrados, rasgados e saqueados.

No Supremo Tribunal Federal, o custo para a reconstrução do Plenário foi de quase R$ 3,5 milhões, totalizando cerca de R$ 12 milhões, considerando os 951 itens furtados ou destruídos. Até o momento, foram restaurados 116 itens, entre esculturas, telas, além de tapeçarias e mobiliário. No STF, 3 espelhos e 9 cadeiras ainda não tiveram a restauração concluída, por causa da necessidade de material específico. 106 itens de valor histórico foram perdidos.

No Palácio da Alvorada, um laboratório especial foi montado no subsolo da capela para recuperar as obras do patrimônio público depredadas pelos vândalos. A equipe de dez restauradores da Universidade Federal de Pelotas iniciou o trabalho sobre as 20 obras do acervo da Presidência. Segundo a professora Andréa Lacerda, haverá um revezamento para a continuidade da restauração.

“Vamos ficar com uma técnica permanente durante o ano todo e os professores vão se revezar a cada 15, 20 dias, acompanhando os alunos. Porque é um projeto educativo também. Se isso se perder, não somos um país. Um país sem memória não é um país”, afirma a professora.

O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, que assumiu todos os custos, produziu laudos sobre o estado de conservação dos bens danificados, como a pintura “As mulatas”, de Di Cavalcanti, a principal peça do Salão Nobre do Palácio do Planalto, encontrada com sete rasgos, e que está estimada em R$ 8 milhões. E esculturas, como de Victor Brecheret e Frans Krajcberg. Esta, estimada em R$ 300 mil.

Três das 20 obras também tiveram que receber cuidados da diretoria de Engenharia e Patrimônio: uma escultura de ferro, de Amilcar de Castro, uma marquesa em metal e palha, feita por Anna Maria Niemeyer, filha de Oscar Niemeyer, e a mesa-vitrine, do arquiteto e designer Sérgio Rodrigues.

Já o relógio do séc. XVII, que pertenceu a Dom João VI e foi derrubado duas vezes durante os atos de vandalismo, será revitalizado com apoio da Embaixada da Suíça. Um produtor suíço ofereceu o apoio de especialistas, levando em conta os graves danos sofridos e a complexidade da obra.

Além disso, outras intervenções de engenharia foram feitas para remediar os danos causados no Palácio do Planalto pelo 8 de janeiro. As mais caras delas foram as de vidraçaria: mais de R$ 200 mil; seguido pelo elevador danificado, R$ 39 mil. Além de portas e divisórias, pintura, parte elétrica, mármore e até peças sanitárias, que foram vandalizadas pelos invasores. Ao todo, os custos das intervenções de engenharia chegaram a R$ 297 mil.

No Congresso, a coordenadora do Museu Histórico do Senado Federal, Maria Cristina Monteiro, lembra como o museu parecia um “cenário de guerra” no dia seguinte aos ataques e conta sobre a complexidade do restauro das peças.

“Essa tapeçaria foi contaminada com urina, com pó de extintor, foi molhada… então, ela precisou passar por todo um processo. Ela teve que passar por uma radiação gama no Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares, pra poder neutralizar as substâncias contaminantes do tecido”, explica a coordenadora do Museu.

O Congresso Nacional não respondeu à nossa solicitação sobre patrimônio depredado e os custos.

Foto do destaque: Joedson Alves/Agência Brasil

Fonte: Agência Brasil EBC