UFG – Estudo detalha oito espécies de orquídeas do Cerrado

Artigo de pesquisadores do ICB ganhou prêmio internacional e foi publicado em renomada revista científica. 

Um estudo do Instituto de Ciências Biológicas (ICB) da Universidade Federal de Goiás (UFG) destacou a anatomia de oito espécies de orquídeas do gênero Cyrtopodium R. Br., popularmente conhecidas como sumarés, que ocorrem no Cerrado brasileiro. O artigo, publicado no periódico científico internacional Flora, foi um dos vencedores da sétima edição do Prêmio Internacional de Pesquisa em Ciência de Redes e Análise de Gráficos.

O estudo foi realizado por Igor Soares dos Santos durante o mestrado em Ciências Ambientais da UFG, sob orientação do professor Marcos José da Silva. Os pesquisadores investigaram as estruturas dos órgãos vegetativos das plantas sob uma perspectiva taxonômica, macro e micromorfológica, evolutiva e ecológico-adaptativa, correlacionando-as com os ambientes em que as espécies ocorrem (Veredas, cerrado rupestre, matas ciliares, dentre outros).

O objetivo foi levantar caracteres que permitam reconhecer melhor essas espécies e que reflitam as condições ambientais em que elas ocorrem. Igor explica que, apesar de serem do mesmo gênero, algumas das espécies são facilmente reconhecidas, enquanto outras nem tanto, sendo confundidas, erroneamente identificadas ou mesmo não identificadas em coleções de herbários e em campo.

Essa realidade demonstra a importância dos caracteres levantados pelos pesquisadores para a distinção das espécies e o entendimento das diferentes estratégias ecológico-adaptativas das orquídeas.

“Algumas [espécies] possuem uma cutícula mais espessa que as protegem da insolação e perda de água, outras um pseudobulbo aéreo ou enterrado, presença ou ausência de cristais ou tricomas na epiderme, alguns tipos e estruturas celulares peculiares, dentre outros. Cada característica pode revelar adaptações das espécies como, por exemplo, a proteção contra o fogo e contra a desidratação, comuns em regiões do Cerrado”, explica Igor.

Segundo o pesquisador, quanto mais detalhes de cada espécie forem conhecidos, mais informações estarão disponíveis para reconhecê-las não só na natureza, mas em herbários, além de entender suas estratégias e adaptações aos ambientes em que vivem e sua história evolutiva.

Colaboraram para a pesquisa a professora da Universidade de São Paulo (USP) Gladys Flávia de Albuquerque Melo-de-Pinna e o Laboratório Multiusuário de Microscopia de Alta Resolução (LabMic), do Instituto de Física (IF) da UFG. No laboratório foi realizada a Microscopia Eletrônica de Varredura (MEV) para entender os padrões de cera e ornamentações foliares das plantas estudadas.

Novas estruturas

O trabalho também descreve alguns tipos celulares e estruturas novas ao gênero, o padrão de ceras foliares e o peculiar sistema radicular do tipo trash basket – emaranhado de raízes ascendentes que atuam na captação de matéria orgânica, no estabelecimento de comunidades epifíticas e que servem de abrigo para pequenos animais e microrganismos.

Além disso, algumas das espécies coletadas são raras e não há informações sobre seu status de conservação. É o caso da C. confusum L.C. Menezes, uma espécie endêmica do Cerrado. Igor conta que foi a terceira pessoa que conseguiu coletar a planta e o primeiro a coletá-la no estado de Goiás.

Ele também destaca que o desmatamento, a mineração, a expansão de áreas urbanas e a agropecuária exercem pressões sobre essas espécies, como é o caso da C. withneri L.C. Menezes, outra espécie endêmica do Cerrado que cresce sobre rochas. Daí a importância das Unidades de Conservação e da elaboração de planos de manejo e políticas públicas a partir dos dados científicos, visando salvaguardar a biodiversidade do Cerrado, que ainda é pouco conhecida.

Acesse aqui o artigo “Comparative anatomy of the vegetative systems of eight Cyrtopodium R. Br. species (Orchidaceae, Epidendroideae) occurring in Central Brazilian savannas”.

Conheça algumas das espécies estudadas:

Orquídea

Cyrtopodium blanchetii Rchb. f.
Espécie ocorrente no Brasil e na Bolívia. Pode ser encontrada em campos rupestres, sujos ou limpos, e em cerrado rupestre, ralo ou denso. É terrestre e a única que apresenta pseudobulbos ovoides esbranquiçados enterrados, além de flores com calo do labelo lamelado (Fotos: Arquivo Pessoal)

 

Orquídea

Cyrtopodium confusum L.C. Menezes
Espécie endêmica do Cerrado do DF, GO, MG e SP. Cresce em matas de galeria. É terrestre com folhas largas, pseudobulbos ovoides vináceos e enterrados

 

Orquídea

Cyrtopodium eugenii Rchb. f. & Warm
Espécie ocorrente no Brasil e na Bolívia. Pode ser encontrada em cerrado típico e rupestre, e em campos sujos e rupestres. É terrestre com pseudobulbos aéreos curto-fusiformes verde-amarelados e flores amarelo-avermelhadas

 

Orquídea

Cyrtopodium paludicolum Hoehne
Espécie ocorrente no Brasil e na Bolívia. É terrestre, sendo comumente encontrada em campos limpos, sujos em Veredas, solos usualmente hidromórficos. Apresenta pseudobulbos aéreos curto-fusiformes esverdeados e flores amarelas com pintas alaranjadas

 

Orquídea

Cyrtopodium parviflorum Lindl.
Espécie amplamente distribuída pelo Brasil, Guianas, Suriname, Trinidade e Tobago, e Venezuela. Cresce em campos sujos, limpos e rupestres. É terrestre com pseudobulbos aéreos curto-fusiformes verde-amarelados, folhas persistentes e flores vináceas

 

Orquídea

Cyrtopodium saintlegerianum Rchb. f.
Ocorre no Brasil e no Paraguai. É encontrada em matas ciliares, estacionais e em palmeirais, sendo a única espécie epífita de Goiás, que cresce sobre árvores e coqueiros e apresenta pseudobulbos longo-fusiformes e raízes emaranhadas em trash basket

 

Orquídea

Cyrtopodium vernum Rchb. f. & Warm.
Espécie endêmica do Cerrado do DF, GO e MG. Pode ser encontrada em cerrado típico e em campos sujos e rupestres. É terrestre com pseudobulbos aéreos curto-fusiformes verde-amarelados e flores amarelo-avermelhadas

 

Orquídea

Cyrtopodium withneri L.C. Menezes
Espécie endêmica do Cerrado do DF, GO e MG. É a única de GO que cresce sobre rochas em áreas de floresta estacional com afloramentos rochosos, possui pseudobulbos longo-fusiformes e tricomas nas folhas

Kharen Stecca

Fonte: Secom UFG