Andifes analisa cooperação internacional e defende foco no desenvolvimento interno

Em conferência livre realizada pelo MCTI e MRE, presidente da Andifes afirmou que a mobilidade internacional deve ter visão estratégica para evitar “fuga de cérebros”.

Palestrantes da conferência livre sobre internacionalização da ciência, tecnologia e inovação
Crédito: Andifes

A Andifes discutiu a internacionalização da ciência, tecnologia e inovação e defendeu um modelo de cooperação internacional atrelado à uma agenda estratégica de desenvolvimento social e econômico que possa beneficiar toda população brasileira.

Com esse entendimento, a presidente da Andifes, a reitora Márcia Abrahão Moura (UnB), reiterou a relevância da participação das universidades federais na pesquisa nacional, na conferência livre, sobre esse tema, realizada pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) e pelo Ministério das Relações Exteriores (MRE), na tarde da última sexta-feira, 5 de abril, no Palácio do Itamaraty, em Brasília.

“A cooperação internacional tem de estar vinculada à uma visão estratégica de desenvolvimento de país. Quando a gente fala de cooperação Sul-Sul, Sul-Norte e Norte-Sul, tudo isso tem uma concepção de país. Do contrário, teremos, a vida inteira, uma cooperação internacional e uma ciência que servem a poucos”, destacou a presidente da Andifes.

Na prática, a cooperação técnica internacional configura-se como um instrumento auxiliar de promoção do desenvolvimento de uma nação e um importante mecanismo de estreitamento das relações entre países.

Na conferência, que foi mediada pelo Secretário de Ciência e Tecnologia para o Desenvolvimento do MCTI, Inácio Arruda, a presidente da Andifes avaliou ainda que a mobilidade acadêmica internacional deve ter visão estratégica para evitar a chamada “fuga de cérebros”.

Presidente da Andifes, reitora Márcia Abrahão Moura (UnB), fala sobre internacionalização das universidades federais
Crédito: Andifes

Para a reitora, são necessários incentivos para que os pesquisadores brasileiros possam retornar ao país e contribuir com o desenvolvimento nacional.

“Falamos tanto de mobilidade internacional, mas que tipo de mobilidade queremos? Queremos uma mobilidade em que os nossos cérebros saiam do país e não voltem? Ou queremos uma mobilidade em que eles sejam incentivados a voltar?”, disse e prosseguiu. “A mobilidade internacional, ainda que teoricamente benéfica, caso não orientada em prol do desenvolvimento nacional, pode resultar na ‘fuga de cérebros’”, alertou.

Em sua participação, a dirigente da Andifes apresentou dados do Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE/MCTI), de março do ano passado, segundo os quais o Brasil pode ter perdido cerca de 6,7 mil cientistas nos últimos anos, em razão de falta de investimentos, congelamento de bolsas de pesquisa e de corte de verba para manutenção de equipamentos.

Nesse contexto, a reitora considerou fundamental rediscutir o modelo de cooperação internacional praticado pelo Brasil considerando o histórico nacional. “A crise da educação no Brasil não é uma crise, é um projeto”, lamentou a reitora parafraseando Darcy Ribeiro. “Infelizmente, neste País, temos que lutar o tempo inteiro para que a educação, a ciência e tecnologia sejam colocadas na pauta do desenvolvimento.”

Por fim, a presidente da Andifes apontou os desafios para internacionalização de forma autônoma, soberana e solidária e disse que, nesse caso, são necessários traçar diretrizes e planejamento; garantir o financiamento permanente da educação superior pública e da ciência brasileira; assegurar autonomia às universidades federais; e traçar  esforços conjuntos entre os diversos órgãos federais (MRE, MCTI, Ministério da Educação e as instituições) a partir de uma visão estratégica e compartilhada sobre o papel da universidade pública na promoção do desenvolvimento.

Em outra frente, o embaixador Ruy Pereira, diretor da Agência Brasileira de Cooperação (ABC), defendeu o modelo de ciência aberta para acelerar a difusão do conhecimento científico e aumentar a colaboração internacional. Paralelamente, ele alertou que a desigualdade global representa hoje fortes ameaças ao desenvolvimento sustentável, à estabilidade econômica e social, além da democracia. “O compromisso com a cooperação internacional é um compromisso com a busca de soluções para reduzir os índices de desigualdade principalmente nos países em desenvolvimento”.

Participaram ainda da conferência livre, no Palácio do Itamaraty, o pesquisador Marcelo Augusto Boechat Morandi, assessor de Relações Internacionais da Embrapa, e Camile Sachetti, assessora da presidência da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).

A conferência livre pode ser acessada pelo canal Youtube do MCTI:

DIA 05/04: Conferência Livre sobre Internacionalização da Ciência, Tecnologia e Inovação