Ufam investiga potencialidades comunitárias para incentivar energia solar em comunidades rurais do Amazonas

Objetivo é verificar de que forma as mulheres da floresta podem contribuir com o processo de iluminação, por intermédio da energia solar, no âmbito de suas práticas sociais de organização dos moradores.

Pesquisa investiga potencialidades comunitárias para aquisição de energia solar em cinco comunidades rurais do Amazonas – imagem: Divulgação/Ufam

Com abordagem inovadora e perspectiva voltada para o protagonismo das mulheres, a pesquisa intitulada “Potencialidades comunitárias para a aquisição de energia solar no âmbito das práticas sociais das mulheres da floresta: diagnóstico e inventário em cinco comunidades rurais do Amazonas”, coordenada pela professora Iraildes Caldas, líder do Grupo de Estudo, Pesquisa e Observatório Social: Gênero, Política e Poder, da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), fez um inventário científico sobre as potencialidades dos moradores de cinco comunidades.

As comunidades são Santa Rita de Cássia, São Paulo da Valéria, Samaria, Brasileia e São José do Paricá. As três primeiras localizam-se na zona rural de Parintins (AM), e as duas últimas na zona rural de Maués (AM),  para atuarem com a energia solar de base comunitária. 

O estudo considera as mulheres como os sujeitos centrais na organização dessas comunidades, podendo criar  uma tecnologia social (uma associação) para monitorar  empreendimentos de energia solar. O projeto de pesquisa, desenvolvido no período de 2022 a 2024, foi financiado pelo Edital 010/2021/CT&I – Áreas Prioritárias da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam), sob o Termo de Outorga 014/2022, e contou com a participação de dez pesquisadores e pesquisadoras da Universidade Federal do Amazonas (Ufam),  Universidade do Estado do Amazonas (UEA/Parintins) e Instituto Federal do Amazonas (Ifam/Parintins e Maués).

O objetivo foi verificar em que sentido as mulheres da floresta podem contribuir com o processo de iluminação, por meio da energia solar, no âmbito de suas práticas sociais de organização dos moradores, a partir do associativismo e de suas aptidões para operar com empreendimentos solidários e autogestionários.

Investigação aponta para que se construam  sistemas descentralizados de energias renováveis no Amazonas, com a estratégia de inclusão social – imagem: Divulgação/Ufam

Demandas, desafios e oportunidades

Segundo a coordenadora do Projeto, professora Iraildes Caldas, a investigação possibilitou uma compreensão mais abrangente das demandas, dos desafios e das oportunidades das comunidades rurais, além de reconhecer o papel central das mulheres nas dinâmicas sociais e econômicas dessas localidades. “Os resultados são múltiplos: formação da consciência política de mulheres e homens; formação em novas metodologias das tecnologias sociais, em metodologias de gênero; discussão em torno do empoderamento das mulheres; e formação no âmbito do tema da liderança comunitária. São grandes contribuições científicas para a temática de gênero, que estudo há mais de 30 anos”, afirma.

A professora falou também sobre os impactos educacionais no âmbito da formação de consciência, elevação da autoestima das mulheres como impacto social; somado aos efeitos econômicos, culturais e ambientais, já que elas têm na natureza o seu ponto de mutação e referência. “Um ecofeminismo que luta pela manutenção da floresta, pelo uso de  alimento orgânico com uso de sementes crioulas (de variedades locais, que foram utilizadas e guardadas por agricultores, durante um longo período de tempo); e ainda, mulheres que estão na organização de suas comunidades como sujeitos  centrais, estão na cooperativa, em grupos de mulheres e agora na energia solar. São impactos imensuráveis para a educação, estocagem de alimentos para venda, melhora geral da saúde, melhora na saúde da mulher, diminuição da poluição, do desmatamento da floresta, entre outros”, explica a docente.

Os critérios de escolha das cinco comunidades foram implementados em dois níveis: 1) tamanho das comunidades (pequena, média e grande); 2) liderança em energia solar. São José do Paricá e Brasiléia, localizada na zona rural de Maués, foram referências para a pesquisa porque têm energia solar de modo pontual.

Relevância social

Ao explorar as potencialidades comunitárias para a adoção de energia solar, especialmente sob a perspectiva das mulheres da floresta, a investigação aponta para que se construam  sistemas descentralizados de energias renováveis no Amazonas, com a estratégia de inclusão social na qual as mulheres indígenas, quilombolas  e os pivôs tradicionais de modo geral sejam incluídos como público-alvo dessa política pública.

“A pesquisa contribui para o desenvolvimento regional com um tipo de inovação capaz de transferir tecnologias para outras comunidades. A inserção de mulheres é extremamente original no tema da energia solar, inclusive porque essa discussão sempre esteve associada aos homens”, esclarece a coordenadora da pesquisa.

Para a professora, a pesquisa aponta que as mulheres são os sujeitos diretamente associados à energia solar, pois exercem funções ligadas a essa demanda, como serviços domésticos, ajudam as crianças nas tarefas escolares e estudam à noite. Além de comercializar seus produtos agrícolas, como polpas de frutas e alimentos orgânicos, armazenados para a venda na feira de Maués, com maior segurança. “A energia solar alavancará a economia feminista”, destaca a pesquisadora.

Mulheres na Ciência

A professora Iraildes Caldas finaliza lembrando que essa investigação atua em consonância com a chamada da Unesco (2009) para que os países estimulem as mulheres na Ciência, promovendo igualdade de gênero em várias frentes das práticas de trabalho e de políticas públicas. “A Fapeam começou a disponibilizar editais para as mulheres na Ciência. Esse edital de CI & T/Áreas Prioritárias-Fapeam contemplou apenas esse Projeto da área de Ciências Humanas. Trata-se de um projeto pioneiro”, enfatiza. 

O estudo assume envergadura científico-social no que diz respeito à inclusão de mulheres na política de Ciência e Tecnologia, um aspecto inovador no âmbito das relações de gênero, ao mesmo tempo em que possui significativa importância para o desenvolvimento local e regional.

Fonte: UFAM