Universidades brasileiras integram maior circum-navegação científica à Antártica

Equipe de pesquisadores brasileiros no Criosfera 1, na Antártica. – Foto: Foto: INCT da Criosfera / Divulgação

O navio quebra-gelo científico russo Akademik Treshnikov partiu do porto da cidade gaúcha de Rio Grande, no último dia 22, levando a bordo 61 pesquisadores de diversas nacionalidades que participarão da Expedição Científica Internacional de Circum-navegação Antártica, a ser desenvolvida no verão austral de 2024/2025. A expedição é uma ação do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia da Criosfera (INCT da Criosfera) e do Programa Antártico Brasileiro (PROANTAR) – cujas pesquisas são financiadas pelo CNPq – e será  liderada pela equipe do Centro Polar e Climático do Instituto de Geociências da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).

Segundo o coordenador-geral da expedição, Jefferson Simões, bolsista de Produtividade em Pesquisa do CNPq e professor titular de Glaciologia e Geografia Polar daquela universidade, o objetivo principal da expedição é investigar a resposta das geleiras antárticas às mudanças do clima. “Realizaremos, durante 60 dias, investigações multidisciplinares, incluindo coleta de amostras biológicas, geológicas, glaciológicas e da química atmosférica”, afirma.  As atividades serão realizadas ao longo de todo o percurso, com amostragem em estações no mínimo a cada 2 graus  de longitude.

Simões observa que o foco principal dos cientistas é o de investigar a estabilidade de uma série de frentes das geleiras antárticas. Ele diz que pesquisas a serem desenvolvidas os cientistas terão amostragens geofísicas, para levantar a posição de onde estão as linhas de flutuação, ou seja, onde o gelo do continente começa a flutuar. “Uma das principais preocupações da comunidade glaciológica é sobre a (ins)estabilidade dinâmica do manto de gelo antártico. Teme-se que o rápido aquecimento da atmosfera e do oceano Austral aumente a velocidade das geleiras em direção ao mar, o que levaria ao aumento do nível dos mares em escala maior do que apresentado por cenários do Painel Intergovernamental sobre Mudanças do Clima (IPCC)”, salienta.

Criado pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (ONU Meio Ambiente) e pela Organização Meteorológica Mundial (OMM) em 1988, com o objetivo de fornecer aos formuladores de políticas avaliações científicas regulares sobre a mudança do clima, suas implicações e riscos, o IPCC também propõe opções de adaptação e de mitigação, ao determinar o estado do conhecimento sobre a mudança do clima e em que áreas mais pesquisas são necessárias. O Brasil é um dos 195 países membros do IPCC.

De acordo com Simões, que também é o delegado do Brasil no Comitê Científico sobre Pesquisa Antártica (SCAR, sigla em inglês), do Conselho Internacional de Ciência (ISC, sigla em inglês), o navio quebra-gelo fará tentativa inédita de se aproximar o mais perto possível das frentes das geleiras antárticas, visitando várias estações científicas ao longo do percurso.

“Concomitantemente, apoiaremos logisticamente um levantamento geofísico aerotransportado de aproximadamente 14 mil quilômetros das linhas de flutuação das plataformas de gelo antártico associado ao projeto RINGS, do Scientific Committee on Antarctic Research (SCAR). Este estudo é essencial para se estabelecer cenários de aumento do nível do mar e mudanças nas correntes oceânicas nas próximas décadas devido ao derretimento do gelo antártico”, diz. O SCAR é o comitê encarregado de iniciar, desenvolver e coordenar pesquisa científica internacional de alta qualidade na região Antártica.

A expedição se tornou possível devido a doação de R$ 36 milhões para o Centro Polar e Climático da UFRGS (CPC/UFRGS) feita pela fundação suíça Albédo Pour la Cryosphère, dedicada  ao estudo e à preservação da massa de neve e do gelo planetário. O recebimento dos recursos se deveu à liderança do CPC/UFRGS na pesquisa glaciológica na América Latina. “O CPC é a única instituição latino-americana que pesquisa nas duas regiões polares (existem vários institutos antárticos na América do Sul, mas o CPC é o único com investigações no ártico)”, observa Simões. Os recursos financeiros cobrirão todas as despesas do navio quebra-gelo durante o cruzeiro científico.

Dos 61 pesquisadores que participarão da expedição, 34 são cientistas convidados estrangeiros, provenientes do Chile, da China, da Índia, do Peru, da Rússia e da Argentina. Os 27 pesquisadores da equipe brasileira são cientistas de instituições associadas ao INCT da Criosfera e a projetos vigentes de pesquisa do PROANTAR/CNPq, como a Universidade de Brasília (UnB),  Universidade de São Paulo (USP),  Universidade Federal de Pernambuco (UFPE),  Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG),  Universidade Federal do Rio Grande (FURG),  Universidade Federal Fluminense (UFF),  Universidade Federal do Paraná (UFPR),  Universidade Federal do Maranhão (UFMA), Universidade Federal de Viçosa (UFV) e  Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).

Fonte: Andifes, com informações da Agência Gov.