Exibição traz curiosidades sobre estrelas, astros e universo, e questiona o baixo número de cientistas negros.

“Ciência é para todo mundo.”A frase da astrofísica e professora do Curso de Ciências da Natureza na UNIPAMPA, Eliade Lima, faz referência ao desejo de ver e formar, cada vez mais, cientistas brasileiros – e também negros. Eliade é coordenadora da exposição “Astrofísica dos Corpos Negros”, aberta ao público nesta quarta-feira (13), no Planetário de Brasília, com entrada gratuita.
“Uma mãe ficou muito emocionada falando que iria levar o filho na exposição para ele se imaginar um astrofísico. Outra mãe, de uma criança autista e com altas habilidades, disse que espera ver o rosto do filho nesse painel”, continua Eliade Lima.
A exposição vai até 28 de dezembro. Já na entrada, uma ilustração mostra dez astrofísicos negros e suas áreas de estudo. Com uma perspectiva antirracista, o projeto traz, por meio da tecnologia, curiosidades sobre estrelas, astros e o universo visto e pesquisado por homens e mulheres negros.
“A gente precisa entender que a ciência não é neutra, ela não é pura, ela não é ingênua. As nossas trajetórias, as nossas formas de pensar o mundo, elas precisam estar nesse lugar”, afirma o professor do Instituto de Física da UFRGS Alan Alves Brito, organizador da mostra e um dos homenageados.
Curiosidades da astrofísica
A exposição conta com:
- Óculos 3D: as histórias dos pesquisadores são contadas por meio de ilustrações e vídeos
- Painéis: imagens e textos são expostos sobre a área de estudo de cada um
- Vídeos projetados na cúpula do planetário: imagens exibem explicações sobre a origem das estrelas
- Clique aqui para acessar a exposição online.
Barreiras para pessoas negras na área acadêmica
Segundo os pesquisadores Eliade Lima e Alan Alves Brito há várias barreiras enfrentadas por pessoas negras na área acadêmica:
- Falta de modelos de cientistas negros: para romper essa barreira, segundo os pesquisadores, é preciso mostrar que este lugar nas ciências é uma possibilidade de realização profissional
- Dificuldade de permanência na universidade: trajetória é atravessada por questões estruturais, econômicas e sociais com a barreira do racismo
- Racismo estrutural: dentro das instituições, faculdades e universidades
- Assédio moral e sexual: marginalização dos pesquisadores negros e hipersexualização de pesquisadoras negras
Veja relatos dos pesquisadores sobre situações enfrentadas durante a trajetória acadêmica
“A questão do assédio sexual é muito forte e foi o que mais impactou na minha carreira”, diz Eliade Lima. Ao g1, a pesquisadora contou que teve que desistir da astrofísica e passar para uma outra área durante a trajetória acadêmica.
“O que eu sofri é o que a maioria das mulheres sofre, em especial, nas ciências exatas. Quando você tem a questão relacionada com a questão racial, isso se torna mais excludente ainda, tanto para homens que são marginalizados e não são vistos como pesquisadores, como para mulheres que são vistas como objetos dentro das universidades”, diz a professora.
“Nós, quando estamos em um congresso, não enxergamos pessoas como nós. Obviamente que esse espaço acaba sendo desestimulante para a carreira científica de pessoas negras”, diz o professor do Instituto de Física da UFRGS Alan Alves Brito.
Alan é baiano e dá aulas no Rio Grande do Sul. O pesquisador negro também afirma que enfrentou preconceitos.
“Há sempre um preconceito, como se aquele lugar não fosse um lugar possível para nós”, afirma.
De acordo com o estudo “A Liderança negra nos grupos de pesquisa no Brasil : um panorama regional de 2000 a 2023”, divulgado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), houve um avanço na inclusão de pesquisadores negros, mas há um longo caminho para garantir equidade na liderança.
“Embora o percentual de grupos de pesquisa com pelo menos um membro negro tenha alcançado 89,6% em 2023, o percentual de grupos com pelo menos um líder negro é de apenas 28,1%””, diz o líder da pesquisa Túlio Chiarini.
Diversidade na ciência
Para a professora Eliade Lima é preciso solucionar a questão da ausência de pesquisadores negros na física, na astrofísica e em outros campos da área acadêmica.
“Só tem desenvolvimento com diversidade. […] Falar em representatividade é falar em desenvolvimento, é falar em oportunidade. Fazer com que crianças e jovens e adultos se imaginem sendo aquilo que muitos pensam que não é pra eles. […] A gente vem aqui para mostrar que nós existimos, resistimos e a gente quer muito mais diversidade na ciência”, diz a coordenadora da exposição “Astrofísica dos Corpos Negros”.
A exposição acontece no Planetário de Brasília, até 28 de dezembro, das 7h às 19h30.