Coleta e análise de amostras do continente gelado ajudarão a compreender os impactos das mudanças climáticas no planeta

Após 70 dias de pesquisas científicas na Antártida, pesquisadores retornaram ao Brasil na sexta-feira (31/1). Durante a expedição, os 57 integrantes da equipe percorreram mais de 29.316 km da costa antártica, coletaram amostras e fizeram estudos que ajudarão a compreender os impactos das mudanças climáticas no planeta.
A Expedição Internacional de Circum-navegação Costeira Antártica foi coordenada pelo professor Jefferson Cardia Simões, do Centro Polar e Climático da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), e contou com 57 pesquisadores de sete países: Argentina, Brasil, Chile, China, Índia, Peru e Rússia. Entre eles, 27 brasileiros vinculados ao Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia da Criosfera (INCT) e a projetos do Programa Antártico Brasileiro (Proantar/CNPq).
“O Brasil nunca havia participado de pesquisas na Antártica Oriental. Isso demonstra que a comunidade científica brasileira tem capacidade não apenas de conduzir pesquisas de ponta, mas também de organizar logisticamente suas próprias missões”, destacou Jefferson Cardia Simões
Segundo o professor Jefferson Cardia Simões, foi possível observar algumas ocorrências que sinalizam efeitos da mudança climática na Antártica:
- Formação de córregos de derretimento sobre geleiras e plataformas de gelo;
- Redução da salinidade do oceano Austral (principalmente perto da costa);
- Presença de microplásticos em amostras da neve Antártica;
- Observações da intensificação do derretimento das geleiras na ilha Rei George e expansão dos campos de musgo.
“Até 2100 temos uma projeção de aumento médio do nível do mar entre 28 e 110 centímetros, sendo que 50% derivam do derretimento das geleiras e 50% da expansão térmica do mar. Atualmente, a Antártica contribui com 15 milímetros desse aumento em cada década”, explica Simões.
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A pesquisadora Venisse Schossler relatou um aumento do nível do mar dinâmico (oceano e atmosfera) em 12 centímetros nos últimos 10 anos, em uma taxa de 4 milímetros por ano. Segundo ele, essa elevação impacta diretamente o nível do mar dos estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina. “A questão costeira sofrerá e é preciso lembrar que Porto Alegre está, geograficamente, na planície costeira”, diz.
A longo prazo essas regiões não serão afetadas apenas pelo nível do mar, mas também pelos ventos que estão mais fortes e atuam no represamento das águas dos rios, como ocorreu com o Guaíba na enchente de maio de 2024. “Esses são fatores associados”, frisa Venisse.
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Os cientistas também observaram que a fuligem das queimadas e o microplástico chegaram ao gelo antártico. O pesquisador Filipe Lindau aponta que o alto consumo de plástico no mundo associado com o descarte nos oceanos faz com que a água e o vento o levem para longas distâncias.
Fonte: Correio Braziliense