UFRR contribui com estudos geológicos na Terra Yanomami e inovação científica no combate à malária

Objetivo dos estudos visa a produção de conhecimento para o desenvolvimento social, econômico e sustentável da Região Amazônica

Nesta edição do Pesquisa & Inovação, apresentamos as pesquisas científicas produzidas por docentes da UFRR, que contribuem com a sociedade roraimense e amazônica. 

Desta vez, destacamos os estudos feitos pelos professores do Departamento de Geologia em parceria com a Força Aérea Brasileira (FAB), que realizaram pesquisas geológicas na região Surucucu (Terra Indígena Yanomami). 

Outro trabalho contou com a participação de professor do curso de Química da UFRR e envolveu a identificação de um óleo, extraído de árvore típica do Tepequém, como larvicida natural do mosquito transmissor da malária.

Estudos geológicos para expansão de aeródromo do Surucucu

No período de 25 a 28 de abril, os professores Carlos Eduardo Lucas Vieira, Lorena Malta Feitoza e Vladimir de Souza estiveram em Surucuru, na Terra Indígena Yanomami (TIY), fronteira Noroeste de Roraima, para o desenvolvimento de mais uma fase de estudos da missão “SWUQ – Geologia”. 

Realizada por meio de convênio firmado entre o Instituto de Geociências (IGEO) da UFRR e a Comissão de Aeroportos da Região Amazônica (COMARA), a missão tem como objetivo o desenvolvimento de estudos geológicos que contribuam para a expansão da pista do aeródromo de Surucucu, tornando a pista operável para pousos e decolagens de aeronaves de grande porte.

O estudo passou por três fases, sendo a primeira, as pesquisas geológicas e geotécnicas de caracterização da área. Na segunda, foram desenvolvidas pesquisas para localização de fontes naturais de materiais geológicos úteis às futuras obras. Na última etapa, foi realizado o levantamento geofísico no morro Tchotchomary, junto à pista do aeródromo do 4° Pelotão Especial de Fronteira do Exército Brasileiro e cujo o topo do morro será implodido para possibilitar a referida expansão.

O professor da UFRR, Vladimir de Souza, explica como ocorreu toda a ação na área. “A gente levou equipamentos de geofísica para ver as camadas do solo e analisar o tipo de rocha que existe no local. Ocorrerá a expansão da pista então era necessário saber o tipo de rocha, a dureza, profundidade. O estudo envolveu os conhecimentos de geofísica, geologia para ver que tipo de rocha tem próximo a pista para continuidade do projeto”, revela o professor.

Conforme os professores, a expansão da pista do aeródromo de Surucucu será de fundamental importância para as operações militares na região e para melhorar a logística das missões humanitárias direcionadas para a Terra Indígena. “Com esse convênio, participamos desenvolvendo trabalhos técnicos especializados para auxílio em vários tipos de serviços, como a busca de água subterrânea, expansão da pista como foi nesse caso, questão de reconhecimento das unidades geológicas próximas, entre outros trabalhos”, destaca ainda o professor Vladimir.

Participação em estudo que descobriu alternativa natural para o controle de vetores da malária

O professor do Departamento de Química, Antonio Alves Filho, participou do estudo “Larvicidal potential of Trattinnickia burserifolia Mart. Essential oil in controlling the malaria vector in the Amazon”. A pesquisa é de autoria da doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Biotecnologia e Biodiversidade da Rede Bionorte – polo Rondônia, Gisele Guimarães de Oliveira, e foi desenvolvida pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) em parceria com a Universidade Federal de Roraima (UFRR), Universidade Federal de Rondônia (UNIR), Universidade Federal da Paraíba (UFPB) e o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa).

Publicado pela revista internacional Pharmaceuticals (com alto conceito acadêmico Qualis A1), o estudo demonstrou que o óleo essencial da planta amazônica Trattinnickia burserifolia, também conhecida como breu-sucuruba, é eficaz no combate ao mosquito Anopheles, transmissor da malária, doença com significativa incidência na Amazônia Legal.

A pesquisa foi orientada pelo professor da Fiocruz Rondônia, Andreimar Martins Soares e teve a coorientação de Antonio Filho. “Dentro da UFRR, temos o Núcleo de Pesquisa e Pós-graduação de Ciência e Tecnologia (NPPGCT) em que temos o Laboratório de Química Ambiental, que é um espaço que faz parte da rede Bionorte. Ali estão sendo realizadas direta ou indiretamente várias pesquisas”, afirma.

O professor explica que a pesquisa foi realizada a partir da casca de amostras da árvore amazônica. “Gisele trouxe a casca para o laboratório, higienizamos e fizemos a extração do óleo por um processo chamado de hidrodestilação. Esse processo usa a ação do vapor da água para liberar compostos que são oriundos da planta. A identificação do óleo e quantificação do óleo essencial foi feita na UFPB, a inibição do Anopheles, o mosquito da malária, foi feita na Fiocruz. Com a pesquisa detectamos que nas primeiras 24h, as larvas do Anopheles ficaram paralisadas e em 48h foram mortas”, explica o professor.

Para o professor, o trabalho em equipe realizado em rede, com contribuições de várias instituições de ensino e pesquisa é fundamental para o desenvolvimento da ciência em prol da Amazônia. “O trabalho em equipe é o segredo do sucesso em pesquisa. É uma pesquisa importante pela incidência da doença da malária na região e vamos continuar trabalhando com esse assunto. Incrível que um óleo essencial da Amazônia é um promissor produto para combater a malária no Brasil e no mundo. Fomos referendados pela Pharmaceuticals, que não é qualquer estudo que é publicado nessa revista. Eu sempre digo que uma andorinha só não faz verão, a gente trabalha em rede. Tenho muito orgulho da pesquisa e da nossa aluna que é macuxi, uma indígena vinda de dentro da UFRR”, analisa ainda.

O artigo é de acesso aberto e os interessados podem acessar a publicação por completo neste endereço eletrônico.

Sobre a Rede Bionorte e o curso de doutorado

A Rede Bionorte foi instituída em 2008 e busca unir instituições da Amazônia Legal com o intuito de acelerar a formação, desenvolver projetos de pesquisa e inovação com foco na biodiversidade e biotecnologia. O objetivo é gerar conhecimentos, processos e produtos que contribuam para o desenvolvimento sustentável da região. Já o Doutorado em Biodiversidade e Biotecnologia do PPG-BIONORTE é um curso presencial que possui duração de até 48 meses. O programa conta com duas áreas de concentração, sendo a primeira chamada de “Biodiversidade e Conservação” e a segunda denominada “Biotecnologia”.

Fonte: UFRR