UFRJ desenvolve pesquisa em parceria com outras universidades e preenche lacuna de 10 milhões de anos no registro de dinossauros

Restauração do esqueleto do Itaguyra occulta, com elementos conhecidos na cor rosa. Ilustração: Produzida pelo periódico Scientific Reports para o artigo número 18.498 (2025) e recortada para a reportagem do Conexão UFRJ por Caio Caldara.

Uma nova espécie de silessauro descoberta no Brasil pode lançar luz sobre uma das maiores lacunas no entendimento da evolução dos dinossauros. Batizada de Itaguyra occulta, a espécie foi descrita por uma equipe de paleontólogos brasileiros e argentinos com base em fósseis coletados em Santa Cruz do Sul (RS) e armazenados por décadas na coleção da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).

 Os silessauros eram répteis que possuíam cerca de um metro de comprimento, com bico na mandíbula e membros longos. Essa espécie faz parte dos ornitísquios, um dos dois grupos principais de dinossauros, que eram animais herbívoros, com estrutura pélvica semelhante a das aves e bico no focinho. A única região no Brasil em que foram encontrados foi no Rio Grande do Sul.

A pesquisa foi publicada no periódico científico Scientific Reports (da Nature Publishing Group) e revela que o fóssil, com cerca de 237 milhões de anos, representa um dos registros mais antigos da linhagem dos ornitísquios. Voltaire Paes Neto, paleontólogo e pesquisador do Museu Nacional/UFRJ é o principal autor do estudo. Alexander Kellner, diretor do Museu, também participou do estudo e é coautor do artigo.

 O achado sugere uma presença contínua dos silessauros no território sul-americano ao longo do Triássico, primeiro período geológico que teve ascensão do número de dinossauros, preenchendo um intervalo pouco documentado entre 240 e 233 milhões de anos.

“A descoberta preenche um hiato temporal crítico e sustenta a ideia de que os silessauros não apenas são próximos dos dinossauros, mas podem ser os primeiros representantes dos ornitísquios. Se essa hipótese for confirmada, Itaguyra occulta passa a figurar entre os dinossauros mais antigos do mundo”, afirma Voltaire Paes Neto.

O estudo ajuda a entender melhor a origem dos dois principais dinossauros. “Toda a diversidade de dinossauros que conhecemos se divide em duas grandes linhagens: os saurísquios e os ornitísquios, grupos reconhecidos há mais de um século e meio pela ciência. Contudo, como se deu a origem dessas linhagens ainda é um enigma”, explica Alexander Kellner.

Os fósseis, inicialmente atribuídos a cinodontes, animais parecidos com os mamíferos de hoje em dia, foram reinterpretados após uma revisão conduzida por Paes Neto e Agustín G. Martinelli (do Museu Argentino de Ciências Naturais Bernardino Rivadavia), que reconheceram características diagnósticas dos silessaurídeos, como os ossos da cintura pélvica. O nome da nova espécie remete à origem do achado: “Itaguyra” combina termos tupi para “pedra” e “ave”, enquanto “occulta” faz referência ao fato de os restos terem permanecido “escondidos” entre outros materiais por décadas.

“A presença contínua de silessauros no Brasil reforça o papel do sul do país como um território-chave para entender a origem e diversificação dos dinossauros”, destaca o paleontólogo Flávio A. Pretto (Cappa-UFSM), coautor do estudo.

O trabalho envolveu pesquisadores do Museu Nacional/UFRJ; da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS); do Centro de Apoio à Pesquisa Paleontológica da Quarta Colônia (Cappa-UFSM); da Universidade Federal do Pampa (Unipampa) e do Museu Argentino de Ciências Naturais Bernardino Rivadavia, com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj) e do projeto INCT-Paleovert. A nova espécie já conta com uma reconstrução artística e está em exibição no Museu Municipal Aristides Carlos Rodrigues, em Candelária (RS), dentro do projeto Geoparque Vale do Rio Pardo.

Por Vanessa Almeida da Silva. Pesquisa: Tatiana Moura. Com informações do Museu Nacional/UFRJ.