Estudo em parceria com Universidade de Stanford acompanhou quase mil pacientes por mais de uma década para avaliar uso do aparelho de avanço mandibular. Trabalho mostra que pequeno dispositivo reduz sintomas e melhora qualidade de vida.

Você sabe o que é o “pijama dos dentes“? Pode parecer brincadeira, mas é sério!
Esse é o apelido que o professor Jorge Faber, pesquisador da Universidade de Brasília (UnB), deu para o aparelho de avanço mandibular — uma alternativa eficaz no tratamento da apneia do sono, segundo trabalho que acompanhou quase mil pacientes por mais de uma década (saiba mais abaixo).
“Eu falo para o paciente: é o ‘pijama dos dentes’. Então, na hora de dormir, você coloca na boca. O interessante é que as pessoas se adaptam a isso com muita facilidade. O clássico é o paciente não se dar nem conta que está usando alguma coisa durante o sono. A pessoa esquece”, diz Faber.
O estudo da Universidade de Brasília (UnB), em parceria com a Universidade de Stanford, foi publicado em maio no Journal of the American Dental Association (em português, Jornal da Associação Odontológica Americana). 📊
O trabalho mostrou que 44,6% dos pacientes seguiram usando o aparelho no longo prazo, sendo uma alternativa confortável para muitos pacientes que não se adaptam ao CPAP, sigla em inglês para pressão positiva contínua do ar (veja imagem acima).
O estudo da UnB revelou que o “pijama dos dentes”:
- Melhora a qualidade do sono;
- Reduz as dores de cabeça matinais;
- Traz mais disposição para o dia.
A principal função do aparelho é avançar a mandíbula e aumentar o espaço da via aérea, evitando o colapso que causa a apneia do sono, diz Jorge Faber.
O especialista, que há quase 30 anos trata pacientes com o dispositivo, destaca a importância do diagnóstico correto, feito por polissonografia, para definir o tratamento mais adequado. Segundo Faber, a apneia do sono é um problema sério que atinge cerca de um terço da população adulta. E não é só sobre dormir mal:
Aumenta o risco de:
- AVC
- Infarto
- Alzheimer mais precoce
- Demência senil
O pesquisador explica que muitos abandonam o tratamento por não compreenderem a gravidade do problema. “Até mesmo apneia leve é uma condição grave, mas isso é pouco comunicado por profissionais de saúde”, reforça.
Por isso, de acordo com ele, alertar sobre a gravidade da apneia aumenta a adesão ao tratamento. Para Faber, o maior incentivo para tratar a apneia não é o medo da doença, mas a vontade de não perder momentos importantes da vida.
“É sobre não ver o casamento da filha, não acompanhar o desenvolvimento dos netos, não ver a formatura do seu filho ou o sorriso da sua filha no dia da formatura. É sobre não ter propósito no longo prazo. E o nosso trabalho é ajudar as pessoas a caminhar na direção de ter uma vida longa, saudável, com propósito e com objetivos”, diz o pesquisador.
Faber explica que o ronco muitas vezes está associado à apneia do sono. Segundo o professor, o “barulho” fragmenta o sono do parceiro, prejudicando a capacidade de lidar com conflitos e afetando a convivência.
“Em muitos relacionamentos, o ronco é começo do fim. A privação do sono diminui a capacidade do indivíduo de administrar conflitos, e assim os casais têm mais problemas […] que acabam sendo solucionados com pior eficiência porque a pessoa com essa privação não consegue executar essa tarefa”, diz o pesquisador.
Um dos pontos mais curiosos identificados na pesquisa é que pacientes que dormem acompanhados tendem a manter o tratamento.
“Essa foi uma das descobertas importantes: ter uma pessoa que se sinta incomodada com o ronco é um forte preditor de adesão. Eu passei a prestar atenção especial àqueles que não têm um companheiro de quarto”, afirma o pesquisador.
O que pode melhorar ainda mais a adesão?
Em resumo, entre os principais fatores apontados no estudo como determinantes para a adesão ao tratamento estão:
- Ter consciência das consequências da apneia;
- Sentir alívio de sintomas como a cefaleia matinal;
- Ter alguém próximo que perceba o ronco ou incentive o uso do aparelho.
Fonte: G1