Foram identificadas alterações celulares e fragmentação do DNA, há indícios de que os agrotóxicos foram os responsáveis

Um grupo de pesquisadores da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) identificou, em estudo, que agricultores paraibanos expostos à agrotóxicos tiveram quase 3 vezes mais danos ao DNA, em comparação com grupo controle que não trabalha com pesticidas. O estudo foi composto por 33 agricultores diretamente expostos a pesticidas das cidades de Itaporanga, João Pessoa, Mari, Pilar, Nazarezinho, Guarabira, Sousa e Pombal; e 29 indivíduos de um grupo controle não expostos a essas substâncias.
Aproximadamente 50% dos agricultores analisados apresentaram alterações celulares e danos ao DNA, como alterações nucleares e fragmentação do DNA; e há indícios de que, provavelmente, a exposição aos agrotóxicos possa ter sido a responsável por essas alterações.
O estudo foi realizado entre os anos de 2022 e 2023 por pesquisadores dos Departamentos de Tecnologia Sucroalcooleira, e Departamento de Ciências Farmacêuticas da UFPB, sob coordenação da professora Laís Campos Teixeira de Carvalho Gonçalves, do Centro de Tecnologia e Desenvolvimento Regional (CTDR).
Os pesquisadores analisaram 2100 células da mucosa bucal de cada um dos 33 agricultores, submetendo as amostras a teste de micronúcleo em células bucais (BMCyt) e ensaio cometa para avaliar marcadores de genotoxicidade. No ensaio cometa os danos foram pontuados visualmente com base no tamanho e na intensidade da cauda do cometa nas células, que representa o grau de dano ao DNA. Quanto maior a cauda, maior o índice de fragmentação do DNA.
Além disso, os trabalhadores rurais participaram de entrevistas e responderam questionários nos quais foram identificadas informações sobre hábitos de fumar e ingerir álcool, histórico familiar de câncer, radiografias dentárias recentes, uso de equipamento de proteção individual (EPI), duração da exposição ocupacional a pesticidas, e os agrotóxicos específicos que utilizavam.
Os resultados apontaram danos maiores ao DNA dos agricultores com mais de 50 anos de idade e com maior tempo de exposição a pesticidas. De acordo com a pesquisadora Laís Gonçalves, os riscos futuros para quem apresenta alterações nucleares vão depender da quantidade, persistência e tipo celular afetado.
“As alterações indicam danos genéticos ou celulares graves e podem estar associadas a risco aumentado de doenças, especialmente câncer, envelhecimento precoce e doenças degenerativas. Em nível celular, a maior parte dos efeitos são irreversíveis. Porém, esses danos não devem levar a alterações hereditárias, em se tratando de células somáticas”, informou a pesquisadora.
O objetivo da pesquisa foi identificar os grupos de risco mais vulneráveis às consequências nocivas da exposição a pesticidas e conscientizar sobre os problemas de saúde associados ao uso indiscriminado dessas substâncias.
Segundo Laís Gonçalves, parte dos experimentos foram realizados no Laboratório de Biotecnologia e Bioprocessos (DTS-CTDR), por alunos de iniciação científica, a partir da padronização de métodos de excelente custo-benefício para a investigação de alterações genotóxicas, e contou com a colaboração do professor Juan Gonçalves do Departamento de Ciências Farmacêuticas, do Centro de Ciências da Saúde (CCS).
Também contribuiu com a pesquisa a professora Márcia Cezar (DTS/CTDR), que articulou parcerias junto a diversos órgãos como Ministério Público da Paraíba (MPPB), Associação dos Revendedores de Produtos Agropecuários do Nordeste (ARPAN), além do IBAMA e da Associação de Plantadores de Cana da Paraíba (ASPLAN), que proporcionou a aproximação junto aos agricultores participantes do estudo.
Em conjunto com as colaboradoras Marcia Pontiere, Solange Vasconcelos e Angela Queiroz (DTS-CTDR) , o grupo de pesquisadores criou o projeto Cultivo Limpo. “Um grande fruto do nosso projeto, que segue fornecendo orientações aos agricultores da Paraíba frente ao uso indiscriminado dos agrotóxicos e seus principais impactos na saúde e no meio ambiente”, explicou Laís Gonçalves.
Um artigo com os resultados da pesquisa foi publicado no periódico Environmental Toxicology and Pharmacology. A pesquisa foi realizada a partir de um projeto do Programa Pesquisa para o SUS: Gestão Compartilhada em Saúde (PPSUS 2021), financiado pela Fundação de Apoio à Pesquisa do Estado da Paraíba (Fapesq-PB). Um novo projeto foi submetido e, caso seja aprovado, a pesquisa será continuada.
Texto: Elidiane Poquiviqui – Fotos: Divulgação