UFG sedia etapa regional de seminários sobre autonomia universitária

Representantes de instituições ensino superior de diversas partes do País participam do evento

Reitora da UFG, Angelita Pereira de Lima, durante abertura do Seminário 

A UFG sediou na quinta-feira (10/7) a etapa Centro-Oeste do Ciclo Nacional de Seminários sobre autonomia universitária, ação que teve início em 2024 sob a organização da UFG, da Universidade de São Paulo (USP), da Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc) e das Universidades Federais do Pará (UFPA) e de Pernambuco (UFPE). Confira aqui galeria de fotos do evento.

Durante a mesa de abertura do seminário, a reitora da UFG, Angelita Pereira de Lima, destacou a aproximação entre instituições federais, estaduais e municipais para o debate que, segundo ela, é muito complexo. “O tema da autonomia faz-se urgente e necessário. Precisamos estar conectados com a conjuntura e aonde a conjuntura nos levará para um ensino superior mais consistente e conectado com o desenvolvimento do País”, disse Angelita.

O representante da UFPA Antônio Gomes Moreira lembrou que o objetivo do ciclo de seminários é que as conclusões sistematizadas nas cinco cartas sirvam de base para um documento a ser levado aos poderes executivo e legislativo para pautar uma proposta de regulamentação da autonomia universitária no Brasil.

Arlindo Felipe Junior, representante da USP, ressaltou a importância das atividades para a união de forças das universidades públicas em prol de um planejamento das ações, a partir das discussões sobre a autonomia financeira.

A vice-reitora da Udesc, Clerilei Aparecida Bier, enfatizou a relevância da regulamentação sobre a autonomia universitária para que “não se permita que governos de turno modifiquem as tratativas em seus estados e no âmbito federal conforme vontades políticas”.

Para a reitora da Universidade Estadual do Rio Grande do Norte (Uern), Cecilia Raquel Maia Leite, representando a Associação Brasileira dos Reitores das Universidades Estaduais e Municipais (Abruem) falou sobre o momento oportuno para essa discussão pois nesse momento está sendo debatido o Plano Nacional de Educação (PNE).

Representando a Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes), a reitora da Universidade Federal de Catalão (UFCat), Roselma Lucchese, falou sobre a expectativa de que a carta final do evento contenha propostas de diretrizes e encaminhamentos sobre a autonomia universitária.

Perspectivas

O evento contou com três mesas-redondas sobre diferentes aspectos do tema da autonomia: os modelos de financiamento das universidades públicas brasileiras; a autonomia e a percepção social das universidades e as questões políticas e jurídicas da autonomia, com palestrantes de diversas partes do País.

O professor da UFG Nelson Cardoso Amaral explicou que a autonomia universitária está garantida por lei, de acordo com os artigos 207 e 211 da Constituição Federal e o artigo 55 da Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB). Ele ressaltou que o financiamento “tem que ser para ensino, pesquisa e extensão; não só para pagar água e luz”. O palestrante abordou o modelo de financiamento das estaduais paulistas, onde um percentual do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) que fica no estado é direcionado ao fomento das instituições de ensino superior e explicou que a Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes) propôs uma lei orgânica para as universidades que não caminha para esse tipo de vinculação.

Mesa-redonda discutiu modelos de financiamento das universidades públicas no Brasil

O vice-reitor da UFG, Jesiel Carvalho, demonstrou que o sistema de financiamento da pesquisa e inovação no Brasil é melhor articulado, mas que no caso da graduação isso ainda é um desafio, diante da necessidade de manutenção de equipamentos de laboratórios de graduação, de novos equipamentos, de espaços de ensino mais modernos e melhor equipados e de uma assistência estudantil mais abrangente e mais eficaz.

O reitor da Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD), Jones Dari Göettert, apresentou um outro ponto de vista: o da autonomia territorial. Ele falou sobre a interiorização das universidades e defendeu que a autonomia não é apenas das instituições, mas precisa ser recíproca. “Quem estende a mão, quem convida quem? Quais são nossos territórios de atuação?”, questionou o reitor, dizendo que as universidades precisam pensar também na construção de territórios autônomos fora delas, de forma que alcancem outros territórios e pratiquem uma “ética do encontro”.

Sociedade

Na mesa-redonda sobre a percepção social das universidades, a reitora da Universidade Federal do Sul da Bahia (UFSB), Joana Angélica Guimarães da Luz, afirmou que a academia ainda é muito conservadora e que no Brasil as universidades chegaram muito tardiamente devido ao projeto de poder das elites, mas que esse quadro tem mudado a partir de políticas que começaram a deslocar um pouco a universidade para uma “periferia que nunca pensou na universidade como dela”. “A gente precisa sair do patamar do orçamento, a gente precisa tratar de outras temáticas que vão fazer a gente brigar pelo orçamento com mais força. As universidades periféricas têm importância e precisam ter um olhar diferenciado”, disse a palestrante.

Para a reitora da Universidade de Brasília, Rozana Naves, é preciso “pensar a autonomia da universidade em diálogo com a sociedade”. Ela lembrou que as universidades enfrentam um discurso extremista sobre elas, em um contexto que envolve questões como polarização e negacionismo científico. A gestora defendeu que é necessário falar sobre a função social da universidade, enfrentar a desinformação nas esferas administrativa, judicial e política. “Todas as políticas de inclusão e acesso fortaleceram muito as nossas identidades e precisamos usar isso como potencialidade para agregar valor às discussões internas”, disse.

Programação também incluiu debate sobre a percepção social da universidade

Aspectos políticos e jurídicos

Na última mesa-redonda do evento, o reitor da Universidade Estadual de Goiás (UEG), Antônio Cruvinel, falou sobre a autonomia no contexto das universidades estaduais. Ele explicou que a UEG teve um incremento no orçamento nos últimos e defendeu a importância da gestão baseada em projetos. “A liberdade de decisão, para uma estadual, a gente precisa muito do respaldo do governador. A autonomia política é a primeira autonomia emancipatória da universidade. Para nós, a habilidade de se relacionar com o governo é muito forte”, pontuou o dirigente.

O consultor legislativo do Senado Federal Luiz Alberto Santos fez um breve histórico sobre o arcabouço legal acerca da autonomia universitária e reiterou que “a universidade tem de fato a necessidade de autonomia pela preservação de sua liberdade para conduzir sem ingerências externas, assegurando pluralidade de pensamento e um ambiente para que as ideias floresçam, para que o debate possa ocorrer”. Ele citou alguns desafios em termos de normas, que para ele precisam ser mais efetivas. Entre as questões críticas a considerar, elencou “conciliar autonomia com responsabilidade pública, capacidade fiscal, transparência e eficiência”.

Ao final das mesas-redondas, os representantes das instituições organizadoras do ciclo de seminários definiram alguns encaminhamentos para a continuidade da discussão, incluindo a realização da etapa nacional do evento em Brasília, no segundo semestre deste ano. A Carta de Goiânia, documento com os principais pontos discutidos, será divulgada até o fim do mês de julho. Durante todo o dia, vários representantes de instituições de ensino superior de diversas partes do País participaram das discussões, além de gestores da UFG.

Texto: Ana Paula Vieira. Fotos: Júlia Barros e Carlos Siqueira