UFT – Pesquisa de mestrado se torna política pública federal

Dissertação de Marcus Vinicius Mendonça embasou a criação de uma Portaria Federal que reconhece o Corredor Ecológico Carajás-Bacajá

Egresso do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Regional (PPGDR), Marcus Vinicius Mendonça foi o responsável por esse feito, conciliando, em sua pesquisa, áreas de conservação com as atividades econômicas da região (Foto: Arquivo Pessoal)

Já imaginou sua pesquisa acadêmica se tornar uma política pública e beneficiar algo que você ama? Isso aconteceu com o egresso do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Regional da Universidade Federal do Tocantins (PPGDR/UFT), Marcus Vinicius Mendonça. Sob orientação do professor Rodolfo Alves da Luz, sua tese intitulada “Corredor ecológico entre as áreas protegidas de Carajás e da Terra do Meio, Pará” alcançou reconhecimento significativo e forneceu as informações científicas necessárias para a criação de uma Portaria Federal. Publicada pelo Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima, o órgão reconheceu o Corredor Ecológico Carajás-Bacajá e o transformou em uma área que concilia conservação ambiental com as atividades econômicas realizadas na área. 

Desenvolvida a partir de 2017, a temática surgiu da experiência profissional de Marcus, que atuava desde 2009 no Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), onde a criação do corredor ecológico era uma meta na Floresta Nacional de Carajás. Ele identificou, junto ao seu orientador, a oportunidade de abordar o tema em sua dissertação, especialmente após a publicação do Plano de Conservação Estratégico do Território de Carajás (PCE Carajás), que discorria sobre zonas potenciais para conexão da biodiversidade entre as áreas protegidas de Carajás e a Terra Indígena Trincheira Bacajá. A pesquisa abordou também a problemática das áreas protegidas no sul do Pará estarem “ilhadas” por projetos de assentamento e fazendas com alto índice de desmatamento.

Segundo Mendonça, a dificuldade principal era conciliar as atividades agropecuárias realizadas na região com a conservação da biodiversidade a longo prazo diante de ameaças que são aceleradas no contexto das mudanças climáticas. “Diante do desafio de conciliar a conservação ambiental com as atividades econômicas das áreas agropecuárias, minha formação como agrônomo me capacitou a encarar essa complexa questão. O resultado foi a dissertação ‘Corredor ecológico entre as áreas protegidas de Carajás e da Terra do Meio, Pará’”, disse Marcus. Após se formar na Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da Universidade de São Paulo (USP), em 1997, o sul do Pará se tornou seu lar logo depois, prestando assistência técnica a assentamentos de reforma agrária, como parte do projeto federal Lumiar. 

E provando que a caminhada para a política pública não foi fácil, Marcus retornou a região de Carajás ao finalizar seu mestrado, em 2019. Dando ínicio a implementação do projeto, construíram o Plano de Conservação Estratégico de Carajás, onde o corredor era um dos objetivos estratégicos, começaram a capacitação da equipe técnica do ICMBio através de reuniões temáticas sobre o assunto e realizaram de encontros virtuais abertos a sociedade com convidados que tratavam sobre temas relacionados. Além disso, ele e sua equipe mobilizaram um comitê técnico interinstitucional, envolvendo universidades, movimentos sociais e entidades de assessoria, a fim de discutir a proposta com a participação de atores sociais da região. E, assim, chegaram ao dia 24 de junho de 2025: publicada a Portaria GM/MMA 1.424, que reconhece o Corredor Ecológico Carajás-Bacajá, com 58.112,42 hectares.

Quando questionado sobre a sensação de ver o seu trabalho se tornando uma política pública tão importante de conservação, Mendonça descreve seu sentimento de realização: “Fico com a sensação de que contribuí com uma ação importante para um território onde vivi por muitos anos e que meu trabalho e conhecimento propiciaram as condições necessárias para a implementação de uma política que pode se tornar uma referência e transformar a realidade local e regional, buscando um caminho para o uso do território com mais qualidade ambiental e qualidade de vida à população.”

O orgulho se espalha pela Universidade…

Para o orientador de Marcus, professor Rodolfo, a produção dessa dissertação foi de grande satisfação. “Foi uma grande satisfação orientar o Marcus. Sua vasta experiência no Instituto Chico Mendes trouxe um conhecimento prévio significativo, tornando nossa colaboração muito produtiva. Aprendi muito com sua competência no mestrado. A troca foi ótima: ele trouxe a vivência do desenvolvimento rural, e eu contribuí com geotecnologia e análise geográfica.”, disse ele. E ao saber sobre o grande feito de seu orientando, ele diz: “Ver seu trabalho se tornar uma política pública e ser efetivamente implantado é imensamente gratificante, pois é um retorno direto à população da região. Isso também reforça como o conhecimento geográfico, ao integrar aspectos físicos, naturais, sociais e econômicos do espaço, é capaz de se unir a outras ciências, como a agronomia, para gerar políticas de desenvolvimento para o Brasil.”

E esse sentimento não fica somente entre os dois. O coordenador do PPGDR, professor Cleiton Milagres, comemora o sucesso da pesquisa e afirma o seu impacto para o Programa e, ainda mais, para a instituição. “A adoção dessa proposta como política pública nacional reforça o papel estratégico da universidade pública na geração de conhecimento transformador, sempre atento às realidades locais e aos desafios globais. No PPGDR da UFT, temos intensificado o debate sobre nossa atuação na região Centro-Norte brasileira. Dessa forma, a implementação de uma política pública nascida do trabalho de nossos orientandos é um marco para a UFT, demonstrando como a ciência, a política e o compromisso social podem convergir para um desenvolvimento verdadeiramente sustentável e inclusivo”, comentou ele. 

E, finalizando sua fala, Milagres parabeniza os dois pelo feito. “Reconhecemos e parabenizamos o corpo docente do PPGDR por essa conquista coletiva, em especial o professor Rodolfo, pela orientação, e Marcus Vinicius, pela pesquisa e aprofundamento da proposta.”.

Mais um exemplo inspirador do impacto da pesquisa desenvolvida na Universidade Federal do Tocantins e da grandeza de nossos acadêmicos.

Por Paulo Lourenço Dias e | Revisão: Paulo Aires (UFT)