Nesta quarta-feira, 8, as três enviadas especiais nos temas Mulheres, Igualdade Racial e Periferias e Direitos Humanos e Transição Justa da 30ª Conferência das Partes (COP30) da Organização das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, Janja Lula da Silva, Jurema Werneck e Denise Dora, estiveram na Cidade Universitária, em Campo Grande, para o projeto Vozes dos Biomas – Pantanal, acompanhada das ministras do Planejamento e Orçamento, Simone Tebet, e dos Povos Indígenas, Sonia Guajajara.



O encontro teve a participação de representantes de organizações e movimentos sociais para a construção coletiva das cartas que serão entregues às autoridades na COP30. Com as credenciais para acessar a Zona Azul, espaço oficial das negociações entre governos, as enviadas especiais vão levar as vozes, demandas, diagnósticos e propostas colhidas nas oficinas realizadas em um cada dos seis biomas do Brasil, para dentro da conferência.
A reitora Camila Ítavo destacou a honra de receber a oficina na Universidade. “A UFMS tem hoje 46 mil estudantes, quase 4 mil servidores e é responsável pela formação de pessoas em todos os cantos de Mato Grosso do Sul, levando ensino a quem mais precisa. Gostaria de estar aqui, mas recebam o meu abraço, o meu carinho e o sentimento de honra que temos em receber essa oficina na nossa Universidade. […] Um bom evento e nos vemos na COP30”, disse.
O vice-reitor Albert Schiaveto também compartilha do sentimento de felicidade em receber o evento. “Nada melhor do que estarmos na Universidade para recebermos essa oficina aqui em Mato Grosso do Sul e para trabalharmos com o bioma do Pantanal. Temos pesquisadores, temos pessoas da comunidade civil, temos ambientalistas que estão participando e este é o local apropriado onde a gente pode discutir, trabalhando com as pesquisas, e para a nossa comunidade isso é riquíssimo”, pontuou.
Este foi o primeiro encontro do Vozes dos Biomas realizado em uma universidade, como explicou Janja. “A gente quis fazer porque é importante a academia estar presente na busca de soluções para as mudanças climáticas e, principalmente, para valorizar as mulheres pesquisadoras, as mulheres professoras. A academia é esse espaço em que a gente vai levar para a COP30 tudo o que a gente ouviu aqui sobre o Pantanal”, reforçou.
Jurema Werneck acrescentou que muitas pessoas não contribuíram diretamente para as mudanças climáticas, mas são afetadas, e reforçou o papel da ciência nesse cenário. “Temos de, juntos, levantar a voz para denunciar quem precisa denunciar e frear essa tragédia, para mudar o mundo. A comunidade universitária tem um papel na produção de conhecimento, na disseminação do conhecimento e na valorização dos conhecimentos que já existem nos territórios. Boa parte do que a gente sabe sobre a mudança climática foi anunciada por cientistas e por pessoas que vêm da comunidade universitária. É preciso continuar produzindo conhecimento, caminhos e soluções. Todo mundo tem um papel nisso”, disse.
Já Denise Dora falou sobre a riqueza do Pantanal e a importância de sua preservação. “A gente também teve uma oportunidade única de ouvir as mulheres cientistas desse bioma que estão trabalhando com a fauna, com a biodiversidade, com a conservação da riqueza da experiência do Pantanal, que inclui as águas, os rios, as pessoas, os animais, as árvores e a combinação de tudo isso, os hábitos, todas as espécies para que o planeta seja preservado, a região seja preservada e que a humanidade tenha a chance de conviver muito melhor com os recursos naturais belíssimos dessa região de todo o país”, acrescentou.
A ministra Sonia observa a oportunidade de escuta das mulheres dos povos originários com grande importância. “Aqui hoje a gente pôde escutar muito do que elas vivem, esperam e recomendam para estar no texto final da COP30. Então, essa carta, com certeza, vai ser uma carta muito rica, porque traz demandas reais do dia a dia, dos impactos que essas mulheres já vivem, já enfrentam, seja no território ou nas periferias das grandes cidades e que apontam caminhos. Elas não só reclamam, não só trazem aqui o que estão sofrendo, mas apontam caminhos”, ressaltou.
Para a ministra Simone Tebet, o projeto Vozes dos Biomas vem com um recado claro. “A COP acontece na Amazônia, no bioma amazônico pela importância do bioma para o mundo, mas a COP é do Brasil, é uma COP que está com a seguinte mensagem: nós vamos levar para o mundo as fragilidades sobre todos os nossos biomas, Cerrado, Caatinga, Pampa, Pantanal, Mata Atlântica e Amazônia, e vamos levar também os nossos pedidos, o que o Pantanal precisa para sobreviver, como cuidar do assoreamento […], como cuidar das águas, como cuidar das queimadas. O Pantanal estará na COP30 e vai ter um olhar especial de como cuidar desse Pantanal para que esse bioma tão frágil continue e seja preservado”, afirmou.
Painel
O Vozes dos Biomas têm como premissa a escuta qualificada para uma construção coletiva. As participantes foram recebidas com a Dança MBO’ÍNU e depois ouviram o painel com representantes locais Da savana alagada do Pantanal à COP30: desafios e realidades, com participação da liderança indígena e cofundadora da Articulação Nacional de Mulheres Indígenas Guerreira da Ancestralidade, Val Eloy Terena; a representante da associação quilombola dos descendentes de Tia Eva, Vania Lucia Duarte; e a presidente da organização não governamental Ecoa – Ecologia e Ação, Nathalia Ziolkowski.
“Eu acho que esse momento é um momento muito importante, é um momento de uma construção coletiva, é um momento de escuta a partir da gente mesmo, a partir das mulheres indígenas, das meninas, anciãs e lideranças. […] É com muita honra que ocupo este espaço de fala como mulher indígena do povo terrena e como representante nacional de articulação das mulheres indígenas guerreiras da ancestralidade. Que este momento de escuta seja um marco de diálogo e compromisso com o Bioma Pantanal, a justiça climática e o respeito aos direitos humanos”, comentou Val Terena.
“Em Mato Grosso do Sul, nós somos 22 comunidades quilombolas, em 15 municípios do Estado e com três comunidades quilombolas em Campo Grande, três quilombolas ali em Corumbá, mais mesmo no Pantanal, que é essa discussão nossa. A nossa principal pauta é o território, porque a partir do território a gente luta para as outras coisas”, disse Vania Lucia.
Nathalia Ziolkowski falou sobre os monocultivos e as queimadas figuram entre as principais ameaças do Pantanal. “Isso tem repercutido e reverberado o que a gente está vendo no Pantanal hoje, que são as secas, os incêndios, todos esses eventos extremos que têm assolado a vida das comunidades e todas as formas de vida. Então agradeço inclusive por esse momento e aproveito para dizer que o Pantanal é muito invisibilizado na agenda climática nacional, internacional, então a gente precisa olhar mais o Pantanal”, frisou.
Após o painel, o grupo foi dividido para o trabalho de escuta, possibilitando múltiplas perspectivas, observando os diferentes desafios e soluções, e construindo de forma conjunta uma narrativa sobre o bioma. As pró-reitoras de Cidadania e Sustentabilidade, Vivina Sol; de Extensão, Cultura e Esporte, Lia Brambilla; e de Planejamento e Desenvolvimento Institucional, Dulce Tristão, entregaram os Planos de Gestão Temático dos programas Sou Mulher UFMS, UFMS 60+ e UFMS Indígena.
O projeto Vozes dos Biomas já foi realizado em Manaus (Amazônia), Porto Alegre (Pampa), Rio de Janeiro (Mata Atlântica) e Caruaru (Caatinga), com próximo destino em Brasília, onde se discutirá o bioma Cerrado.