Com foco inicial na adulteração de combustíveis, tecnologia do Instituto de Química tem eficácia comprovada em testes com bebidas alcoólicas e cosméticos

Cinco mortes, 29 casos confirmados e outros 217 em investigação. Os dados atualizados do Ministério da Saúde justificam a apreensão nacional diante das ocorrências de intoxicação por metanol após o consumo de bebidas alcoólicas contaminadas. A detecção prévia da presença da substância pode combater esse quadro e torna-se viável com o uso de recursos como o kit colorimétrico desenvolvido no Laboratório de Bioprocessos, Materiais e Combustíveis do Instituto de Química (LMCerva/IQ/UnB). A tecnologia de aplicação simples e versátil permite avaliar a presença de metanol já nos primeiros minutos de teste.
Com disponibilidade de aplicação desde 2014, o kit resulta de pesquisas iniciadas dois anos antes em dissertação de mestrado de Guilherme Martins no IQ, orientada pelo professor Paulo Suarez. O alvo à época era a adulteração de combustíveis por metanol. Entretanto, os mesmos procedimentos de análise e detecção foram bem-sucedidos em amostras de bebidas alcoólicas e em produtos que incluem cosméticos, tinturas de cabelo e itens de higiene pessoal.
Suarez explica que o uso do kit se assemelha à aplicação de testes para avaliar a concentração de cloro em piscinas ou de análise do pH em aquários. “Ele é um teste colorimétrico. Pingamos alguns reagentes na amostra, aguardamos alguns minutos e observamos. Se a cor for alterada, existe a presença do metanol”, diz o docente, que é ex-diretor do Centro de Apoio ao Desenvolvimento Tecnológico (CDT) da Universidade de Brasília. O professor pondera que o teste não detecta o percentual de metanol na amostra, mas que a coloração se torna mais intensa quando há maior concentração desse solvente tóxico.
O estojo do kit contém dispensadores, frascos de reagentes, micropipetas e tubos de ensaio. Com cuidado e atendimento a instruções simples, pode ser utilizado com segurança mesmo pelo público leigo. O kit dispõe de cinco reagentes: água destilada, solução diluída de etanol e metanol, solução de permanganato de potássio em ácido fosfórico, solução de ácido oxálico em ácido sulfúrico e uma mistura com metabissulfito de sódio denominada Reagente de Schiff.
A coordenadora do LMCerva, Grace Ghesti, destaca a “maturidade tecnológica” da pesquisa da UnB em relação a outras em curso e ressalta a simplicidade de aplicação. “Entre outros produtos, [o kit] pode ser aplicado para detecção de metanol em bebidas, evitando as contaminações. Por ser colorimétrico e de fácil aplicação, pode ser testado de forma rápida e prática”.
O kit da UnB chegou a ser licenciado por empresas, mas não tem contrato de transferência de tecnologia vigente, informa a Agência de Comercialização de Tecnologias (ACT/CDT/UnB), responsável por licenciamentos. No momento, o kit colorimétrico pode ser acessado por meio de contrato de prestação de serviços especializados com o LMCerva. Os contatos são mediados pelo Núcleo de Conexões e Serviços Tecnológicos (NCST/CDT). (Ver contato abaixo)
ATENÇÃO À COMUNIDADE – Os riscos de intoxicação por metanol foram destacados em nota técnica da Coordenação de Atenção em Vigilância em Saúde (CAVS/Dasu), emitida em 6 de outubro. O texto explica que, além da ingestão, os danos à saúde podem ocorrer após a inalação ou absorção cutânea do metanol. Vômitos, dor abdominal e cefaleia estão entre os sintomas de intoxicação, que têm início entre 12 e 24 horas após o contato com a substância.
A comunidade acadêmica pode buscar mais orientações nos Núcleos de Atenção e Vigilância (NAVs) nos campi ou por meio do endereço eletrônico nvsaude@unb.br.
SERVIÇO
Por: Hugo Costa/Secom – UnB. Fotos: Anastácia Vaz/Secom UnB