Missão técnica é liderada pelo professor Igor Da Mata e deve fortalecer parcerias acadêmicas e comunitárias

O professor Igor Da Mata Oliveira, da Unidade de penedo da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), e o professor Johnattan Rupire, da Universidad Nacional Mayor de San Marcos (UNMSM), participaram de uma missão técnica em setembro na região de Yarinacocha, em Ucayali, na Amazônia peruana. O objetivo da visita foi articular parcerias acadêmicas e comunitárias com instituições de ensino, comunidades locais e povos indígenas amazônicos, a fim de compreender as dinâmicas socioambientais relacionadas à água e os impactos das inundações na região.

De acordo com o professor Igor, o período chuvoso amazônico — que ocorre entre dezembro e abril — provoca a elevação do nível da lagoa, resultando em inundações de grande magnitude. Nos últimos dois anos (2024 e 2025), foram registrados episódios especialmente severos, que causaram alagamentos extensos, danos materiais, interrupção de vias, perdas na pesca e na agricultura, além de riscos sanitários. “Esses eventos levaram à declaração de emergências, fechamento de áreas turísticas e ações de assistência às famílias afetadas, evidenciando a recorrência e a gravidade dos desastres hidrológicos na região”, explica o professor.

Ele também alerta que a situação é agravada pela urbanização desordenada e pela ocupação de zonas ribeirinhas vulneráveis, o que exige mobilizações emergenciais e a implementação de planos de contingência pelas autoridades locais. “Esses fatores reforçam a necessidade de planejamento territorial e gestão hídrica integrada para mitigar os impactos futuros”, comenta.

Parceria internacional

A missão ocorreu a partir de uma carta-convite da Universidad Nacional Mayor de San Marcos (UNMSM) — a mais antiga da América Latina — e resultou na assinatura de uma ata de cooperação técnica e científica entre a Universidade Federal de Alagoas (Ufal), a UNMSM e a Universidad Nacional Intercultural de la Amazonía (UNIA). O acordo consolida ações conjuntas de pesquisa, intercâmbio e extensão entre as instituições.

Durante a estadia no Peru, os professores Igor Da Mata Oliveira e Johnattan Rupire reuniram-se com o reitor da UNIA, Juan López Ruiz, e com os diretores Iris Katherine Morí Cairuna (Interculturalidade), Manuel Ramirez Pinchi (Convênios) e Nazario Aguirre Baike (Pós-Graduação). As universidades identificaram interesses convergentes voltados ao desenvolvimento de pesquisas colaborativas sobre inundações, gestão hídrica, mapeamento participativo e monitoramento ambiental.

O encontro culminou na assinatura d Ata de Entendimento, que prevê além do intercâmbio de professores e estudantes entre as universidades, a realização de formações em geotecnologias e gestão de recursos hídricos; o uso compartilhado de equipamentos e laboratórios; suporte técnico remoto contínuo; e envolvimento direto de estudantes e comunidades indígenas nos levantamentos científicos.

Outras atividades

A visita também incluiu o convite ao professor Igor Da Mata para participar da mesa-redonda sobre o filme Jene Nete – O Mundo da Água, primeira produção audiovisual do povo Shipibo-Konibo. O debate destacou a importância da água como elemento vital, espiritual e identitário, além de discutir os impactos das mudanças ambientais sobre as comunidades amazônicas.

Durante sua fala (em espanhol), o professor Igor observou: “O filme nos convida a observar e compreender os modos de vida, os costumes, a espiritualidade, a arte, o idioma e a cosmovisão da comunidade Shipibo-Konibo. Mas, além da estética visual, a obra nos confronta com questões profundas. Para mim, esse vídeo é um chamado para que a sociedade assuma responsabilidades. Todos nós, em nossas vidas cotidianas e profissões, podemos contribuir para que a Amazônia seja não apenas um cenário, mas um território de direitos e saberes”.

Em outra oportunidade, os professores também foram recebidos na comunidade indígena Santa Clara, do povo Shipibo-Konibo, onde apresentaram as intenções do projeto, dialogaram sobre a percepção local dos desastres hidrológicos e realizaram a entrega de uma sonda Deeper Pro. O equipamento, utilizado para medições batimétricas e monitoramento hidrológico, foi doado pelo Humanitarian OpenStreetMap Team (HOT) e pela fabricante Deeper, startup sediada na Lituânia.

A doação foi articulada pela ONG Canoa de Tolda, parceira institucional da Ufal, dentro de uma cooperação que resultou no desenvolvimento de um drone aquático para monitoramento batimétrico e de vazão — inicialmente aplicado no Baixo São Francisco, mas com potencial para ser replicado em qualquer parte do mundo, conforme interesse manifestado pelo HOT. Uma das sondas permanecerá sob a responsabilidade do professor Johnattan Rupire, emprestada pela ONG, para uso compartilhado nas atividades de pesquisa, fortalecendo a capacidade local de monitoramento e coleta de dados.

Próximos passos

Durante os encontros, foram definidos planos de trabalho conjuntos, que incluem a realização de capacitações técnicas em mapeamento participativo e geotecnologias; o intercâmbio de estudantes e professores entre Ufal, Unia e UNMSM; e a produção de relatórios e devolutivas comunitárias com base nos levantamentos realizados.

As ações serão acompanhadas tecnicamente pela Ufal, que oferecerá orientação remota e suporte metodológico, garantindo a continuidade das atividades e a formação de uma rede de pesquisa participativa sobre inundações e gestão da água. O professor Igor Da Mata Oliveira destaca que a parceria fortalece a pesquisa aplicada e participativa em regiões de alta vulnerabilidade ambiental, promovendo soluções compartilhadas entre universidades e comunidades. “O diálogo entre saberes tradicionais e científicos é essencial para enfrentar os desafios hídricos e climáticos, não apenas na Amazônia, mas em qualquer território que exija abordagens integradas, unindo tecnologia, ciência participativa e interculturalidade”, relata.

A cooperação entre Ufal, Unia e UNMSM integra esforços regionais e globais em torno dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), especialmente os ODS 6 (Água potável e saneamento), 13 (Ação contra a mudança global do clima) e 17 (Parcerias e meios de implementação).

Por Ascom Ufal