UFRR certifica primeira turma da EJA na Terra Indígena Waimiri Atroari

Reportagem especial do Bom Dia Brasil destacou a certificação do EJA realizada no território Waimiri-Atroari, uma conquista que simboliza o compromisso da Universidade Federal de Roraima com a inclusão, o respeito e o fortalecimento dos povos indígenas. Assista o vídeo a, abaixo, matéria da UFRR.

UFRR certifica primeira turma da EJA na Terra Indígena Waimiri Atroari

A Universidade Federal de Roraima (UFRR), por meio do Colégio de Aplicação (CAp/UFRR), realizou no último sábado (1º), a cerimônia de certificação da primeira turma da Educação de Jovens e Adultos (EJA) do Nível Fundamental I na Terra Indígena Waimiri Atroari. O evento ocorreu no Núcleo de Apoio Waimiri Atroari (NAWA) e contou com a presença da comunidade local, professores e representantes da universidade.

50 alunos indígenas concluíram a etapa do Ensino Fundamental I e poderão seguir o processo de continuidade nos estudos, agora na fase do Fundamental II, oferecida pelo CAp/UFRR – Foto: Pablo Felippe – Coordcom/UFRR

Ao todo, 50 alunos indígenas concluíram a etapa do Ensino Fundamental I e poderão seguir o processo de continuidade nos estudos, agora na fase do Fundamental II, oferecida pelo CAp/UFRR. A cerimônia também foi marcada pela homenagem ao indigenista José Porfírio Fontenele de Carvalho, e incluiu uma apresentação cultural da dança “Maryba”, símbolo de alegria, união e identidade do povo Waimiri Atroari.

A aula inaugural do curso ocorreu em 16 de março deste ano com o objetivo de proporcionar à comunidade indígena o acesso à educação formal, respeitando suas particularidades culturais e territoriais. De acordo com a coordenadora do projeto, professora Edjane Scacabarossi, o ensino foi estruturado com base na Pedagogia da Alternância, que combina períodos de vivência e estudo tanto na escola quanto nas comunidades. O intuito é promover uma troca constante entre os saberes tradicionais e os conteúdos escolares.

“A EJA vai além do ensino formal. É um fortalecimento da identidade cultural, da autonomia e da valorização dos saberes tradicionais. É um encontro de conhecimento e pertencimento. Foi um momento de muito aprendizado e para nós do Colégio de Aplicação é um momento histórico e emocionante poder partilhar esses conhecimentos juntos”, destaca a professora.

O ensino dos alunos foi estruturado com base na Pedagogia da Alternância, que combina períodos de vivência e estudo tanto na escola quanto nas comunidades – Foto: Pablo Felippe – Coordcom/UFRR


Durante a cerimônia, o reitor da UFRR, professor José Geraldo Ticianeli, ressaltou a importância do projeto para a missão institucional da universidade. “Hoje reafirmamos o papel da UFRR em transformar realidades sociais, indo até as comunidades. Vir à comunidade indígena Waimiri Atroari foi um desafio maior, não só pela distância, mas principalmente por ser uma comunidade em que o acesso até a língua portuguesa era muito difícil. Estamos felizes, pois vimos uma comunidade que possui grandes sonhos e a UFRR se fortalece institucionalmente com a sua missão de transformar a vida das pessoas”, afirma o reitor.

O reitor da UFRR, professor José Geraldo Ticianeli, participou das tratativas para a implantação da turma do EJA na Terra Indígena Waimiri Atroari, iniciadas no final de 2024 – Foto: Pablo Felippe – Coordcom/UFRR


O vice-reitor da UFRR, Silvestre Lopes da Nóbrega, destacou a consolidação do trabalho da universidade. “Esse é um momento de muita alegria para a UFRR, pois a UFRR se transforma em uma universidade de portas abertas para receber os seus alunos e a sociedade. Nós nos consolidamos também como uma universidade itinerante que vai atender a demanda no lugar onde a comunidade está. Esse processo de certificação é um marco para a interiorização da instituição”, corrobora Silvestre.

O projeto, iniciado em 2024, nasceu de uma parceria entre a UFRR e a comunidade Waimiri Atroari, que desde 2017 mantém diálogo com a universidade por meio de cursos de extensão e capacitação. A proposta da EJA foi construída de forma participativa, conforme destaca o professor da UFRR Carlos Alberto Marinho Cirino.

“Foi uma forma de usar o conhecimento para dialogar e ter a condição de a comunidade escolher o que é bom para a cultura deles. Esse projeto surgiu, pois tínhamos a experiência de um projeto de capacitação, de extensão, que foi solicitado por eles em 2017. No caso, eles escolheram os cursos dependendo de suas necessidades. Foi a partir dessa experiência que a comunidade começou a pensar na possibilidade de a universidade trazer também o ensino regular”, revela Cirino.

Com a conclusão do Fundamental I, o projeto chega para um novo desafio de dar continuidade à formação. As turmas do Fundamental II seguirão o mesmo modelo de alternância, agora com maior carga horária. “Nos anos iniciais, eram 300 horas. Eles ficaram duas semanas no tempo-escola e duas semanas no tempo-comunidade. Agora, eles vão ter duas etapas. Nosso desejo é que, no futuro, esses alunos se tornem professores e que possam construir escolas dentro da própria comunidade, formando os próximos estudantes e multiplicando o conhecimento”, explica a professora Edjane.

Conheça um pouco sobre a pedagogia da alternância

A proposta de EJA apresentada aos indígenas utiliza a metodologia da Pedagogia da Alternância. Esse método foi criado na França em 1930 e tem por objetivo uma formação que traga períodos alternados de vivência e estudo tanto na escola como na comunidade em que os alunos residem. O intuito é que ocorra uma intensa troca de conhecimentos entre os ambientes que fazem parte da vida desses alunos.

O projeto da EJA para os Waimiri Atroari na primeira etapa teve a realização de 150h de tempo-escola e 150h de tempo-comunidade visando essa troca de conhecimento em que os professores irão até a comunidade indígena.  O chamado “Tempo-Escola” “é constituído por ações educativas realizadas nos espaços institucionais em que os processos educativos são ofertados na escola e o “Tempo- Comunidade” é constituído por ações educativas realizadas nos espaços onde os educandos desenvolvem o trabalho em interação com os bens da natureza através da agricultura, da pesca, da caça e do extrativismo, além de ações coletivas nos movimentos e organizações sociais, suas práticas culturais de convivência como as religiosas, esportivas, de lazer, na família, nas comunidades.