UFMA se prepara para lançar dois satélites ao espaço no primeiro voo comercial do Brasi

No dia 22 de novembro, a Universidade Federal do Maranhão (UFMA) viverá um momento histórico com o lançamento dos nanossatélites Jussara K e Pion BR2 – Cientistas de Alcântara, durante a Operação Spaceward 2025. Partindo do Centro de Lançamento de Alcântara (CLA), ambos seguirão a bordo do foguete sul-coreano HANBIT-Nano, no primeiro voo comercial de um veículo espacial a partir do território brasileiro.

A ocasião marca a primeira vez em que cargas úteis, como satélites, serão inseridas no espaço, partindo de solo nacional em uma operação comercial. Para o professor do curso de Engenharia Aeroespacial da UFMA, Carlos Brito, trata-se de um divisor de águas para o Programa Espacial Brasileiro e para a própria Universidade. “Então, é um evento histórico para o Programa Espacial Brasileiro. E a UFMA está participando disso justamente com a entrega de satélites, né, sendo uma em parceria com a Pion Labs e a outra feita aqui no nosso laboratório, no LABESEE.

Esses satélites são importantes na medida em que trazem todo um conhecimento relacionado ao ciclo espacial, ou seja, nós aprendemos desde a fazer, a ter o conhecimento de produzir um satélite até o passo de fazer o lançamento”, destacou ele. A expectativa é acompanhar o início da operação espacial e, posteriormente, coletar os dados transmitidos diretamente na estação terrestre da UFMA, um avanço que fortalece a consolidação da universidade em todo o ciclo de desenvolvimento, operação e monitoramento espacial.

“A gente está se sentindo com o dever cumprido. A nossa função aqui é justamente trazer as tecnologias mais avançadas, ou pelo menos os conceitos que a gente possa aplicar de uma forma que os alunos possam vivenciar isso. Então, eu acho que a sensação, o meu sentimento, é de dever cumprido. Além disso, é uma grande satisfação tanto pessoal quanto profissional. É uma satisfação profissional saber que nós estamos contribuindo, enfim, finalmente, para a questão espacial no Maranhão”, declarou Carlos Brito.

No processo de preparação e integração dos satélites, o professor relatou uma vivência inédita e marcante para a equipe: “Isso foi uma experiência maravilhosa em termos de vivência mesmo, de algo que nós nunca tínhamos participado antes. O ambiente lá na sala limpa que eles construíram, a INNOSPACE construiu uma sala limpa para o CLA, onde a gente faz a integração tanto do satélite quanto do deployer, que é um dispositivo que vai levar o nosso satélite. E esse deployer também foi testado lá por uma outra parceira, que também é uma startup, a Bizu Space. Então, por exemplo, o nosso satélite Jussara-K vai estar viajando unicamente num deployer”, explicou o professor.

Todos os equipamentos passaram por testes na sala instalada pela INNOSPACE no CLA, etapa que confirmou o pleno funcionamento tanto do satélite quanto do deployer. Segundo a equipe, as sucessivas testagens foram determinantes para o sucesso na integração.

Os satélites que representam a inovação nacional.

O Jussara-K é um CubeSat desenvolvido no Laboratório de Eletrônica e Sistemas Embarcados Espaciais (LABESEE) da UFMA e reúne diversas tecnologias nacionais. Entre elas estão as antenas produzidas em parceria com o Laboratório LISE, da Universidade Federal de São João Del-Rei (MG), e o sistema de energia, incluindo os painéis solares, fabricados no próprio laboratório da UFMA. Sua missão principal é coletar dados ambientais de plataformas terrestres equipadas com sensores em áreas de lagoas, florestas e regiões de cultivo.

O satélite será capaz de captar informações como temperatura, umidade e níveis de monóxido de carbono, que é útil para identificar focos de queimadas. Além disso, o Jussara-K leva um módulo de processamento de inteligência artificial, fruto de parceria com a startup paulista Epic of Sun, para testar o desempenho da tecnologia em ambiente espacial.

Já o Pion BR2 – Cientistas de Alcântara é fruto de uma parceria entre a UFMA, por meio do DARTi Lab e do BAITES, com a Agência Espacial Brasileira (AEB), a Fundação Sousândrade, o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) e a startup brasileira PION, especializada em nanossatélites.

O satélite nasceu do projeto “Cientistas de Alcântara”, que tem o objetivo de aproximar as comunidades da cidade de Alcântara, NO Maranhão, das tecnologias espaciais, com foco no protagonismo das crianças quilombolas. O satélite levará ao espaço mensagens produzidas por cerca de 300 crianças participantes do projeto.

Após o lançamento, o PION-BR2 – Cientistas de Alcântara enviará sinais que poderão ser captados por estações de telemetria em diversas partes do mundo. Além da missão educacional, o satélite também será utilizado para testes e validações tecnológicas, incluindo o gerenciamento de energia e desempenho dos painéis solares, testes e qualificação do módulo de comunicação e antena, testes e qualificação do computador de voo.

A proximidade geográfica com o Centro de Lançamento de Alcântara (CLA), principal centro de lançamento do país, fortalece projetos, parcerias e vivências práticas dos estudantes. Para Carlos Brito, essa conexão transforma a UFMA em um polo estratégico para a pesquisa aeroespacial no Brasil. “Essa proximidade com Alcântara traz muitos benefícios para a universidade em termos de pesquisa, desenvolvimento, extensão, além de aprimorar os nossos conhecimentos voltados para um campo tão específico quanto o espaço”, pontuou.

O avanço também consolida o curso de Engenharia Aeroespacial da UFMA como uma das novas referências nacionais na área. Ver dois satélites com forte participação da comunidade acadêmica sendo lançados no mesmo mês representa mais do que um marco técnico, é a afirmação da capacidade científica e formadora da universidade. “E assim, a gente está se tornando realmente referência. E isso eu observo pelos comentários externos. Então, para mim, o sucesso é esse. É ver meus estudantes saindo e ocupando espaços importantes no mercado espacial. E isso está acontecendo”, concluiu Carlos Brito.

Por: Giovanna Carvalho. Fotos: Carlos Brito e INNOSPACE