Entre as centenas de instituições que participarão da COP30 – 30° encontro anual da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre mudanças climáticas, que neste ano acontece no Brasil, em Belém (PA), entre os dias 10 e 21 de novembro –, a Universidade Federal do Ceará (UFC) está bem representada por pelo menos 21 membros de sua comunidade acadêmica.
O grupo inclui alunos e professores da Faculdade de Direito integrantes do projeto Youth COP; a doutoranda Jaiane Alves Brasil, do programa de Pós-Graduação em Microbiologia Médica; a mestranda Natália Tatanka, do Programa de Pós-Graduação em Gastronomia; a estudante Sabrina Cabral, do curso de Engenharia Civil; a estudante Lorena Kelvia, do curso de Ciências Ambientais; a professora Mônica de Abreu, do departamento de Administração (Faculdade de Economia, Administração, Atuária, Contabilidade-Feaac); e alunos do curso de Jornalismo integrantes do projeto Cuida, Criatura!. Eles participarão de atividades em momentos distintos da programação da COP 30, junto a especialistas, pesquisadores, ativistas e representantes institucionais de diversos países.

REPRESENTANTE – Fundadora do projeto Ruma – voltado à capacitação de meninas e pessoas LGBTQ+ alunas de escolas públicas do Nordeste que tenham interesse nas áreas de ciências, tecnologia, engenharia e matemática –, Sabrina Cabral integra o comitê de Marcele Oliveira, brasileira eleita Embaixadora da Juventude pelo Clima da Presidência da COP30. No comitê, ela atua como representante do bioma Caatinga.
Entre as ações de engajamento das quais vem participando nos últimos meses, Sabrina realizou um diálogo do programa Balanço Ético Global durante os Encontros Universitários 2025 da UFC. O programa é uma iniciativa do governo federal que propõe levar à COP30 contribuições da sociedade civil para acelerar a implementação do Acordo de Paris e limitar o aumento da temperatura média do planeta.
Em Belém, Sabrina participa de diversas agendas dentro e fora dos pavilhões da conferência. A jovem está na coordenação de atividades na Green Zone, espaço aberto à participação da sociedade civil, com destaque para o painel “Justiça Climática para as Juventudes e Infâncias Brasileiras: Perspectivas sobre raça, gênero, deficiências e territórios”, que acontece no dia 18 de novembro.
PAINELISTA – Também graduanda, do curso de Ciências Ambientais no Instituto de Ciências do Mar (Labomar), a estudante Lorena Kelvia participa da COP30 acompanhando agendas relacionadas a gênero, transição energética justa, adaptação climática e juventudes. Ela integra a delegação brasileira pelo Instituto Soulest e pela Rede Nordestina Reaver, que tem apoio da Kindernothilfe – organização alemã que atua junto a ONGs brasileiras em temáticas socioambientais – e da organização brasileira Terre des Hommes.
A agenda de Lorena na Conferência inclui três contribuições como painelista – nos painéis “Democracia, não violência e paz”; “Direitos da Criança e Justiça Climática: Adaptação, Preparação e Resiliência Lideradas por Jovens no Nordeste Brasileiro”; e “Faça-os ouvir: Demandas para os formuladores de políticas” – e participação em dois eventos: “Empoderamento cilimático”, com a campeã da Juventude pelo Clima da COP29; e a mesa de abertura do Dia da Juventude (Youth Climate Leadership).
CARAVANA – Também voltado ao protagonismo jovem no debate climático, o Youth COP é um projeto organizado pela Universidade Sorbonne Abu Dhabi (Emirados Árabes), em colaboração com a Universidade Paris Cité (França) e a Universidade Federal do Ceará (Brasil). Aberta a estudantes universitários de todo o mundo, a iniciativa consiste em uma simulação virtual de negociação da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima (UNFCCC).

Na UFC, os estudantes que participam da delegação da Youth COP são integrantes do Grupo de Estudos em Direito e Assuntos Internacionais (Gedai), projeto de extensão e pesquisa que, há mais de uma década, promove uma análise interdisciplinar de temas vinculados ao Direito Internacional e suas interfaces com outras áreas do conhecimento. O grupo se dedica, principalmente, aos grandes desafios globais contemporâneos, como governança ambiental, direitos humanos, geopolítica e economia internacional.
Em 2021, o Gedai/UFC participou da Reunião das Altas Autoridades do Mercosul em Direitos Humanos (RAADH), apresentando os impactos sobre os direitos humanos associados à baixa cobertura de saneamento básico na região semiárida do Nordeste Brasileiro. Posteriormente, fez parte da Delegação brasileira na COP 26 (Glasgow), na COP 27 (Sharm el-Sheikh), COP 28 (Dubai) e COP 29 (Baku).
Na COP30, o Youth COP tem a participação de seis estudantes e dois egressos da UFC, além da professora Tarin Mont’Alverne – todos da Faculdade de Direito (Fadir). Também fazem parte da caravana a professora Julia Motte-Baumvol (Universidade de Paris e Sorbonne Abu-Dhabi) e uma aluna da Sorbonne Abu-Dhabi. O grupo participa de painéis e outras atividades, em diferentes espaços da Convenção.
MICROBIOLOGIA – Doutoranda em Microbiologia Médica na UFC e membro do Grupo Aplicado em Microbiologia Médica (GrAMM), a pesquisadora Jaiane Brasil está na COP30 para ministrar a palestra “Saúde Climática e Resistência Antimicrobiana: Conexões entre Microbiologia, Agricultura e Sustentabilidade na Amazônia.”
“As transformações ambientais e climáticas intensificam os processos de surgimento, evolução e disseminação de microrganismos resistentes através de diversos mecanismos tais como o aumento da temperatura global”, explica Jaiane.

Além das temperaturas elevadas, outros fatores, como inundações e chuvas intensas, secas e poluição também podem contribuir para a dispersão, o aumento da taxa de crescimento e a frequência de mutações nestes microrganismos. A palestra dedica uma atenção especial à Amazônia, destacando como o bioma se insere nessa crise.
A relação entre mudanças climáticas e resistência microbiana já havia sido abordada pela pesquisadora em 2024, na cúpula do G20, quando ela fez uma apresentação sobre desafios e colaborações globais relacionados ao tema. “Percebi que a relação entre clima, microbiologia e agricultura precisava ser ampliada. A COP30 representa a continuidade desse trabalho, agora com foco no território amazônico e na integração entre saúde, ambiente e desenvolvimento sustentável”, explica.
ALIMENTAÇÃO – Outra estudante da pós-graduação presente na COP30 é Natália Tatanka, aluna do mestrado em Gastronomia. Integrante do programa de extensão Gastronomia Social, ela estará representando o projeto Gastronomia e Terapia, que oferece capacitação profissional como ferramenta terapêutica e de geração de renda para pessoas em situação de vulnerabilidade social. Realizado em parceria com o Movimento de Saúde Mental do Bom Jardim, o projeto já formou turmas em especialidades culinárias como doces e sobremesas, pães, confeitaria contemporânea e chocolates.
Na Conferência, Natália vai participar de um “banquetaço” — ação que vai distribuir refeições para centenas de pessoas nas ruas de Belém, todas elaboradas com produtos da agroecologia. A estudante irá contribuir levando alimentos oriundos da biodiversidade cearense, além de uma bandeira com as marcas do programa de extenssão, do projeto e de seus parceiros. O “banquetaço” faz parte da programação da Cúpula dos Povos, evento da sociedade civil paralelo à COP30 que deve reunir milhares de pessoas de movimentos sociais, povos indígenas, quilombolas e comunidades tradicionais.
COBERTURA – O curso de Jornalismo também está bem representado, com a participação na COP30 de quatro integrantes do projeto de extensão “Cuida, Criatura!”, voltado à prática do jornalismo ambiental. Gabriel Matos, Maria Fernanda Melo, Bernardo Maciel e Ana Alice Freire farão a cobertura do evento, e já postaram conteúdo na página do projeto no Instagram (@cuida.criatura) neste primeiro dia de programação.

Desde a sua concepção, a proposta do grupo é abordar temas ligados à pauta do meio ambiente por meio de uma linguagem acessível e com doses de regionalismo. O projeto é coordenado pela professora Rosane Nunes.
Para a cobertura da COP30, o foco será em temas como juventudes, educação, povos originários e comunidades tradicionais, oceanos, sistemas alimentares e ciência e tecnologia – tudo sob um olhar atento para o nordeste brasileiro e a população jovem. Além da página no Instagram, o conteúdo também será veiculado na rádio Universitária FM 107.9, no site da Pró-Reitoria de Extensão (Prex) e no Portal da UFC.
Para Rosane Nunes, a participação dos alunos na COP30 é muito importante, ao proporcionar uma vivência única, em um evento internacional de grande porte e sobre um assunto de enorme relevância. “O contato com profissionais e lideranças da sociedade civil organizada de várias partes do mundo contribuirá para a formação profissional e cidadã desses estudantes, ampliando suas visões de mundo”, avalia.
TRANSIÇÃO ENERGÉTICA – Já a professora Mônica de Abreu, do Departamento de Administração, está na COP30 como integrante da comitiva do governador Elmano de Freitas. Representando os governadores do Nordeste, o chefe do Executivo cearense participou do painel “Do Nordeste para o Mundo: o papel da Caatinga e do Hidrogênio Verde para a Transição Energética Justa”, no qual falou sobre o potencial da região como principal fronteira energética renovável do Brasil, sendo líder na geração eólica.
Na ocasião, Mônica levou ao debate as pesquisas e iniciativas desenvolvidas na UFC, enquanto instituição membro do Comitê de Transição Energética do Estado do Ceará. Em sua fala, a docente resumiu os três grandes projetos atualmente em andamento na universidade, voltados à distribuição justa dos benefícios oriundos de empreendimentos do setor aos territórios e comunidades onde operam; à avaliação estratégica ambiental, para mitigar impactos ambientais negativos nesses territórios; e à promoção de um diálogo transparente com a sociedade ao longo desses processos.
INJUSTIÇA CLIMÁTICA – A bióloga Alanna Cristina Araújo Loiola Carneiro, mestranda em Ciências Marinhas Tropicais da UFC, participou da COP 30 representando o Ceará e a UFC como palestrante do painel “Energias Renováveis e Injustiça Climática”, no dia 11 de novembro, na Green Zone. Ela foi a convite da Defensoria Pública da União (DPU) e do Ministério Público Federal (MPF).

Alanna tratou de conflitos socioambientais intensificados pela expansão das energias renováveis no estado, especialmente aqueles relacionados à concentração de terras e territórios, ao avanço do desmatamento no bioma Caatinga e às injustiças socioambientais.
Sua participação em mesa da DPU e do MPF reforça a importância da pesquisa científica e do engajamento institucional da UFC em debates globais sobre justiça climática, sustentabilidade e proteção de populações vulnerabilizadas.
CONTATOS INSTITUCIONAIS – O professor Edson Vicente da Silva, conhecido como Cacau, docente do Programa de Pós-Graduação em Geografia e coordenador do Laboratório de Geoecologia da Paisagem e Planejamento Ambiental da UFC, participa da COP 30 como observador.

Ele tem trocado experiências, conhecido produções científicas e buscando possibilidades de parcerias com instituições de pesquisas do Amapá, do Pará, da Colômbia, de Angola, dentre outras. “Estou aprendendo e assimilando etnoconhecimentos que nos podem ser úteis em projetos de extensão, ensino e pesquisa [da UFC]. E também visualizando experiências de políticas públicas na efetivação de propostas de gestão socioambiental”, explicou o professor.
Na UFC, Cacau desenvolve projetos e pesquisas na área de geoecologia da paisagem, com as seguintes temáticas: análise ambiental, educação ambiental, análise geoambiental, recursos hídricos e desenvolvimento sustentável.
Fonte: Secretaria de Comunicação e Marketing UFC – e-mail: ufcinforma@ufc.br