UFRN pesquisa soluções para  doenças respiratórias crônicas em parceria com a União Europeia

As doenças respiratórias crônicas são a quinta causa de mortalidade em toda a população brasileira. Mundialmente, o percentual de mortalidade ultrapassa 60%, principalmente entre idosos. Além das perdas de vidas, esse quadro causa um impacto significativo em todo o sistema de saúde, em países de baixa e média renda. Uma parceria entre Brasil, Portugal e Grécia propõe facilitar o enfrentamento dessas doenças por meio do projeto Multipulm, uma iniciativa de investigação e implementação científica que beneficiará pacientes no Brasil, na Sérvia e na Turquia. Todo o financiamento para o Multipulm é do Horizon Europe, principal programa de financiamento da União Europeia para pesquisa e inovação.

O projeto tem co-autoria do Laboratório de Inovação Tecnológica em Saúde (LAIS/UFRN), em parceria com o Centro de Informática e Sistemas da Universidade de Coimbra (CISUC/UC) e com a UNIGR, acrônimo para Uni Systems Systimata Pliroforikis Monoprosopi Anonymi Emporiki Etairia, da Grécia. Também participam do consórcio outras 16 instituições de pesquisas de 10 países. Nos primeiros 48 meses previstos para o desenvolvimento das atividades, o projeto deve atender 3.200 pacientes no Brasil, na Sérvia e na Turquia. O objetivo é desenvolver um ecossistema de saúde digital integrado de cuidados dos pacientes participantes da pesquisa. Serão utilizadas ferramentas já testadas e validadas, a fim de melhorar a gestão das doenças crônicas e reforçar a prevenção secundária em pessoas com multimorbidades associadas a doenças respiratórias crônicas.

Ao desenvolver o ecossistema de saúde digital, sugere um modelo de atendimento integrado. Tal modelo reúne a expertise e a experiência das instituições envolvidas na linha de cuidado da doença para facilitar o compartilhamento de informações estruturadas e intervenções de saúde. Dessa forma, os pesquisadores consideram que será possível aprimorar a coordenação do atendimento, bem como a aplicação de estratégias baseadas em resultados centrados no paciente. Cabe destacar que poderão ser adaptadas para abranger realidades socioeconômicas distintas em países de renda baixa e média.

De acordo com o professor Jorge Henriques, diretor do Centro de Informática e Sistemas da Universidade de Coimbra, a implementação do projeto será guiada por um plano detalhado e atividades locais de formação para capacitar os principais intervenientes no setor da saúde. O projeto será testado em larga escala, envolvendo pacientes com multimorbidades nos três países referidos. Avaliações socioeconômicas e financeiras serão realizadas para apoiar os gestores políticos na continuidade das ações do projeto, assegurando sua sustentabilidade a longo prazo e contribuindo para a melhoria do índice de Cobertura Universal de Saúde nos países participantes.

“O Multipulm pretende melhorar a qualidade de vida dos doentes e das suas famílias, ao mesmo tempo que combate as desigualdades sociais, econômicas, políticas e organizacionais associadas à gestão complexa da multimorbidade. Assim, este projeto poderá servir de modelo para outros países”, ressaltou o pesquisador português.

A aprovação do Projeto Multipulm demonstra a maturidade científica e o reconhecimento internacional que o LAIS alcançou. Essa maturidade foi conquistada por meio de cooperações profícuas, como a realizada com o grupo de pesquisa do CISUC. “O LAIS se especializou também em desenvolver redes internacionais de pesquisa, networks que fortalecem a cooperação técnico-científica entre as nações e, assim, contribuem para o fortalecimento dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). Trata-se de um olhar diferenciado para a Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU), particularmente, no contexto da saúde global”, argumentou o diretor executivo do LAIS, Ricardo Valentim.

O diretor explicou, ainda, que o Multipulm é um trabalho de pesquisa transdisciplinar, centrado no cuidado e na atenção à saúde de pacientes com doenças respiratórias crônicas. Portanto, alinha-se totalmente com a natureza epistemológica e o fazer científico do LAIS. “Estamos realmente muito orgulhosos, principalmente, por saber que esse projeto será desenvolvido no Brasil, no estado do Rio Grande do Norte, nas cidades de Natal e de Mossoró. Isso significa que o nosso país e o nosso estado estão sendo um dos protagonistas do desenvolvimento científico mundial no campo da inovação em saúde”, complementou. 

Financiamento da União Europeia

Para ser aprovado para financiamento, o projeto Multipulm foi composto por uma cooperação internacional entre 18 instituições de 10 países, como Grécia, Reino Unido, Bélgica, Romênia, Chipre, Sérvia, Turquia, Suíça, além de Brasil e Portugal, que estão à frente com o LAIS e o CISUC. Ao todo, concorreram 75 projetos de todo o mundo, sendo apenas cinco aprovados no edital do Programa Horizon Europe. Os custos do projeto foram aprovados, em sua totalidade, um montante de aproximadamente 4,3 milhões de Euros, para ser executado durante 48 meses. É de notar que o projeto do consórcio integrado pelo LAIS/UFRN obteve excelente pontuação final, isto é, 14,5 de um total de 15 pontos.

Para submeter propostas ao programa Horizon, é necessário, além de descrever o impacto científico do projeto na sociedade e na economia, apresentar parcerias, expertise, infraestrutura e o desenvolvimento de pesquisas científicas relevantes. Assim, a nota final conquistada reflete o excelente alinhamento das instituições aprovadas às exigências do programa.

O Horizon Europe é o principal programa de financiamento da União Europeia para pesquisa e inovação. O programa colabora com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU, impulsiona a colaboração entre entidades europeias e países associados; além disso, fortalece o impacto da pesquisa e da inovação no desenvolvimento, suporte e implementação de políticas públicas, fomentando conhecimento e tecnologia.

O Research and Innovation Actions (RIA) é um tipo de programa financiado pelo Horizon Europe que requer projetos colaborativos, de pesquisa e inovação, que tenham como objetivo explorar novas tecnologias, serviços, métodos e produtos; ou melhorar aqueles existentes, geralmente resultando em um protótipo funcional.

Cooperação Internacional 

A aprovação do Multipulm é mais um fruto da cooperação internacional entre o LAIS e o Centro de Informática e Sistemas da Universidade de Coimbra (CISUC), com reconhecimento e benefícios para as duas instituições reconhecidas internacionalmente.

O CISUC tem uma longa história de investigação em ciências da computação, desenvolvendo e implementando metodologias inovadoras em diversos domínios, especialmente na área da saúde. Por outro lado, o LAIS se destaca em inovação tecnológica aplicada à saúde, procurando sempre encontrar soluções que tenham um impacto social positivo, principalmente na qualidade de vida das pessoas. Para Jorge Henriques, a convergência das competências do LAIS e do CISUC tem resultados importantes, permitindo a criação de projetos interdisciplinares que abordam desafios complexos nas áreas de saúde e tecnologia. “A combinação de conhecimentos do CISUC em algoritmos avançados, inteligência artificial e processamento de dados com a expertise do LAIS, em aplicações práticas na área da saúde oferece base sólida para o desenvolvimento de soluções inovadoras e com grande impacto social”, argumentou.

O pesquisador da Universidade de Coimbra enfatizou que a cooperação tem contribuído para reforçar a visibilidade internacional de ambas as instituições, destacando-as como referências em suas áreas de atuação. “A aprovação do Multipulm representa uma oportunidade única, capaz de gerar um impacto positivo e concreto na sociedade, por meio da aplicação prática de tecnologias inovadoras na área da saúde, melhorando a qualidade de vida das pessoas e promovendo um acesso mais equitativo e eficiente aos cuidados de saúde”.

O desenvolvimento de projetos por meio de cooperações internacionais possibilitam o avanço mais rápido e efetivo da ciência para resolução dos problemas urgentes da sociedade. O Projeto Multipulm se enquadra fortemente neste contexto, em que a articulação internacional, por meio da cooperação técnico-científica, contribui para furar a bolha da endogenia científica. Tal aspecto proporciona o compartilhamento multilateral de conhecimentos e experiências no qual todos os participantes aprendem e ensinam. Logo, são coautores em modelo de cooperação horizontal.

Valéria Credidio de LAIS/UFRN
Edição: Marcos Neves Jr.
Revisão: Rebeca Ribeiro