Creuzenice Maria de Jesus tentou vaga em 2007, mas acabou cursando administração em faculdade privada. Sonho foi retomado quando o filho chegou à idade de prestar o Enem.
Aos 54 anos, Creuzenice Maria de Jesus é a primeira da família a ser aprovada em uma universidade federal.
Neste semestre, ela passa a integrar o quadro de estudantes da Universidade de Brasília (UnB), no curso de Letras – Língua Portuguesa.
A aprovação só veio em 2025, mas a relação dela com a UnB é bem mais antiga. Creuza, como é conhecida, trabalha na universidade desde 2002.
O primeiro cargo foi no Hospital Universitário de Brasília (HUB), onde atuou como assistente administrativa. Após isso, já em 2006, foi transferida para a prefeitura do campus.
Em 2020, iniciou o trabalho de agente de portaria no prédio principal da universidade – o Instituto Central de Ciências (ICC), ou Minhocão.

Diferentemente dos novos estudantes da universidade, que se perdem pelos corredores e mal conhecem o caminho até a sala de aula, Creuza poderia contar, com detalhes, a história de cada prédio do local.
Ingresso na universidade
O sonho de ingressar na comunidade acadêmica também é antigo. Nascida no interior da Bahia, no município de Cariparé, chegou em Brasília aos 16 anos e, desde então, sonha com a universidade.
Ainda na adolescência, quando cursava o ensino médio no CEM 02 da Ceilândia, em Brasília, Creuza já buscava ser aprovada na UnB. Em uma dessas vezes, ela tentou ingressar no curso de Letras Japonesas:
“Eu sempre participava de vários vestibulares. Eu já participei, eu fiz prova uma vez para letras japonês, só porque eu queria entrar na UnB”.

Em 2007, ela fez a primeira tentativa. A nota no Exame Nacional de Ensino Médio (Enem) não foi suficiente para o ingresso na UnB, mas garantiu uma bolsa em universidade privada para cursar administração.
O incentivo para tentar novamente veio anos mais tarde, através do filho, de 19 anos, que ia fazer o Enem e chamou a mãe para realizar a prova com ele.
Creuza até aceitou o convite, mas achou que não iria conseguir – até ver seu nome na quarta chamada da lista de aprovados:
“Eu fiz a inscrição quando abriram, e até agora fiquei lá esperando, esperando. Falei: ‘Nunca vão me chamar’. Primeira chamada, segunda, terceira. Falei: ‘Desisto’. Aí veio a quarta e eu fui chamada”.

Agora, a presença de Creuza na universidade ganhou novos contornos. Além do trabalho na portaria, ela passa a ocupar também uma cadeira dentro do Instituto de Letras, da Universidade de Brasília (UnB).
A escolha do curso não foi um mero acaso – é parte de outro sonho particular da estudante.
Creuza sonha ainda em ingressar em um concurso público e acredita que a graduação vai auxiliar na melhor compreensão da língua portuguesa.
Por Thamires Almeida, g1 DF