UFRA participa da Caravana Iaraçu, que levará experiências amazônicas à COP 30

 Universidade Federal Rural da Amazônia (Ufra) estará representada na Caravana Fluvial Científica, Cultural e Participativa Iaraçu, que navegará o rio Amazonas de Manaus até Belém a partir do dia 28 de outubro. A iniciativa, organizada por instituições brasileiras e francesas, reunirá pesquisadores e professores em um percurso que atravessará os estados do Amazonas, Amapá e Pará, com paradas em cidades e comunidades ribeirinhas para ouvir relatos e destacar iniciativas locais sobre as mudanças climáticas.

Entre os selecionados, estão os professores da Ufra Vania Neu e Gabriel Resque, que coordenam projetos em parceria com pesquisadores franceses. Durante a travessia, que passará por Manaus, Itacoatiara, Parintins, Óbidos, Alter do Chão, Almeirim, Porto de Moz, Gurupá, Breves e Belém, os projetos da Ufra estarão em evidência, reforçando o papel da universidade no debate global sobre o clima.

A professora Vania Neu irá participar com o projeto Rio de Saberes: Conectando saberes científicos e tradicionais como um caminho para a adaptação climática, ao lado do Engenheiro ambiental Lucas Romão, Coordenador da ONG Mural do Clima no Brasil. Para ela, a participação da Ufra em uma iniciativa internacional reforça a necessidade de articulação global frente às mudanças climáticas. “O desafio para a redução das emissões de gases de efeito estufa, assim como promover um desenvolvimento com menor impacto pelo planeta, exigem esforços para a conexão de saberes, o compartilhamento de experiências exitosas e um comprometimento global. As alterações em curso só serão freadas ou revertidas, se cada um fizer sua parte, não basta apenas alguns países cumprirem seus acordos. Não basta acabar com o desmatamento da Amazônia para reverter o aquecimento global, para ter efeito de reversão, o mundo precisa seguir na mesma direção”, afirmou.

Vania destacou também a emoção em ter o projeto selecionado. “Fiquei extremamente feliz por ter a oportunidade de levar o conhecimento que estamos produzindo para inúmeras comunidades pelas quais a expedição vai passar. Conhecer novas realidades pode trazer alternativas e soluções que ainda não haviam sido pensadas”, disse.

A professora lembra que as comunidades amazônicas acumulam um conhecimento fundamental para inspirar políticas públicas globais. “As comunidades da Amazônia, vivem e convivem ao longo de séculos com mudanças bruscas nos níveis das águas, elas possuem adaptações que permitem a elas viver num ambiente de extremos distintos, parte do ano suas casas estão sobre as águas e parte estão sobre o solo seco. Isso requer adaptações e alternativas nada simples, mesmo que seja para uma rotina simples como acesso à água, alimento e até o deslocamento das crianças para a escola.”, acrescentou.

A expectativa da docente é que as experiências vividas ao longo da Caravana possam ser levadas para a COP 30. “Esperamos encher nosso barco de experiências positivas. Deixar nas comunidades a pegada de conhecimento construído ao longo de anos de trocas com as comunidades. Esperamos levar de modo simples, alternativas de água potável para as comunidades, formas de adaptações para uma Amazônia em transição. Esperamos que as alternativas criadas junto às comunidades possam ser levadas ao mundo, como soluções simples e eficazes para a construção de políticas públicas equitativas, inclusivas, sustentáveis e com responsabilidade ambiental.”, afirmou.

O projeto coordenado por Vania Neu tem duas propostas, uma em terra e outra embarcado, as suas com Workshop Mural do Clima. O primeiro com atividades sobre soluções concretas envolvendo água e o segundo com adaptação ao perfil dos participantes e medições de água.

Em cada um dos pontos de parada do barco, terá 4 horas de atividades desenvolvidas com as comunidades ribeirinhas, abertas para pessoas a partir dos 10 anos de idade. Envolvendo as seguintes ações:

  • Workshop Mural do Clima sobre mudanças climáticas, além de coleta de propostas das comunidades sobre ideias de adaptação.
  • Aula prática sobre armazenamento de água da chuva e como torná-la potável.
  • Coletas e medições físico-químicas da água para ensaios de qualidade = análises microbianas e para a presença de microplásticos.
  • Visualização de microrganismos aquáticos em água coletada.

Já o professor Gabriel Resque coordena dois projetos. Um deles é o documentário Amazonie: un autre regard, desenvolvido com o Centro de Cooperação Internacional em Pesquisa Agronômica para o Desenvolvimento (Cirad), instituição francesa parceira da Ufra. O trabalho mostra modos de vida, dificuldades e potencialidades de comunidades amazônicas, a partir de estudos de caso em Paragominas, Santarém e no Amapá. “O documentário tenta mostrar a partir do ponto de vista das populações locais, e não apenas uma visão negativa. É uma visão realista: das dificuldades, mas também das potencialidades que temos na região amazônica. Ele já foi exibido no Brasil, na França e até em festivais na Europa”, explicou Resque.

O professor também coordena, ao lado da pesquisadora do Cirad, Marie Gabrielle Piketty, a mesa Redes ciência-sociedade panamazônicas frente às mudanças climáticas, que destacará a importância das redes de pesquisa participativa na Amazônia. “A Amazônia é uma região imensa que envolve nove países. Então a gente tem muitas coisas em comum para aprender uns com os outros, muitos contextos que são semelhantes. Então você conseguir estabelecer parceria entre esses diferentes países, como pesquisa, intercâmbios, missões cruzadas, é fundamental para que a gente consiga avançar juntos e conseguir buscar estratégias de desenvolvimento para a região. Não é uma tarefa fácil por diversas razões, como, por exemplo, a distância, uma logística complicada, os altos custos de deslocamento dentro da Amazônia, o próprio idioma. Mas somente se unindo e conseguindo traçar esses aprendizados cruzados que a gente consegue se desenvolver.”, ressaltou.

Para Resque, a Caravana também será uma vitrine para consolidar novas cooperações internacionais. “Essa parceria entre os países amazônicos e também com países europeus é importante pelo intercâmbio de conhecimentos. Temos recebido alunos estrangeiros na Amazônia e também enviado estudantes para a Europa, especialmente para debater temáticas sobre a região. Além disso, buscamos alavancar fontes de recursos, seja por meio de projetos, seja por diferentes mecanismos, para fomentar as atividades. Assim, trata-se de uma parceria que tem sido bastante frutífera ao longo do tempo”, concluiu

Cerca de 70 projetos foram selecionados para a Caravana Iaraçu e muitos deles contam com outros professores e pesquisadores da Ufra. A caravana aportará em Belém para a cúpula dos presidentes, nos dias 6 e 7 de novembro, e permanecerá durante as discussões da COP30, de 10 a 21 de novembro, conectando os relatos da Amazônia aos debates internacionais sobre o clima.

Texto: Bruno Chaves, jornalista, Ascom Ufra