Nesta segunda-feira, 17, mais uma autoridade desembarcou na COP-30: Nathan Barros, professor e pesquisador do Departamento de Biologia da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). Especialista em sustentabilidade ambiental, econômica e social em produções aquícolas e hidrelétricas, Barros participa da principal conferência do clima para apresentar pesquisas que têm despertado atenção de tomadores de decisão no Brasil e no exterior.

Foto: Leandro Mockdece
Na cúpula da ONU, Barros está como representante da Associação Brasileira de Limnologia (ABLimno) e integrante da comitiva do Ministério da Pesca e da Aquicultura (MPA), do Governo Federal. Na UFJF, é coordenador do Programa de Pós-graduação em Biodiversidade e Conservação da Natureza e o 20º entrevistado do IdPesquisa, programa em que explica como seus estudos sobre produção aquícola podem orientar políticas públicas para diminuir emissões de gases de efeito estufa.
Hidrelétricas e aquiculturas
No doutorado, Barros foi um dos pioneiros a falar sobre o real impacto das emissões de Gases de Efeito Estufa (GEE) no mundo – essencialmente dióxido de carbono (CO₂), metano (CH₄) e óxido nitroso (N₂O). Hoje, o professor segue falando desse assunto no Laboratório de Ecologia Aquática (LEA) do Instituto de Ciências Biológicas (ICB) da Universidade, agora com projetos relacionados a hidrelétricas e pegada de carbono de produções aquícolas.
O LEA é um dos mais preparados laboratórios do país em estudos limnológicos (aqueles relacionados a águas continentais como tanques, viveiros, lagos, rios, reservatórios e áreas alagadas). Equipado com alguns dos mais modernos instrumentos para estudos de emissão de gases em ambientes aquáticos, o laboratório possui parceria com a Hidrelétrica de Itaipu e pretende realizar o balanço de carbono no reservatório – medir quanto é capturado e quanto é emitido de GEE nos sedimentos da usina. “A gente vai tentar, pela primeira vez, fechar o balanço do carbono em Itaipu aplicando métodos recentes e avançados para o estudo de carbono.”
Recentemente, Barros e sua equipe foram desafiados a tentar estimar a pegada de carbono da produção aquícola. “Quanto é emitido de GEE para produzir um quilo de peixe?”, exemplifica o professor. Dentro desse desafio, projetos são desenvolvidos com parcerias nacionais e internacionais, como com a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig); Governo Federal, por meio do Ministério da Pesca e da Aquicultura (MPA); centro de sustentabilidade da Cornell University; e outras instituições, como Embrapa, Emater, Epamig, Unirio, UFRJ, Unemat, Radboud University of Nijmegen e Texas University.roduções aquícolas. (Foto: Carolina de Paula/UFJF)
Inventário nacional
Segundo o cientista, os projetos são financiados por diversas instituições e têm enorme impacto para o país. Tanto os projetos da eletricidade quanto os projetos relacionados à aquicultura visam fornecer para o Brasil dados inéditos e robustos para serem utilizados no Inventário Nacional de Gases de Efeito Estufa.
Em 2019, Barros teve a oportunidade de participar do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC), que aprovou, na sua 49ª reunião, em Quioto, no Japão, a inclusão de áreas alagadas no contexto dos inventários nacionais de gases de efeito estufa. “Já no próximo relatório é obrigatório que os países façam o inventário das emissões que acontecem nessas áreas, que incluem reservatórios, tanques, canais, rios desviados. Qualquer ambiente aquático construído pela atividade humana precisa ser mapeado para entrar no inventário nacional.”
Tecnologia associada à IA
Com apoio do Departamento de Ciência da Computação da UFJF, o LEA avançou no desenvolvimento de uma tecnologia associada à inteligência artificial para detectar esses ambientes menores e quantificar suas áreas. “Esse é um projeto que me emociona muito por dois motivos. Primeiro, porque a gente está fornecendo dados inéditos”. Num futuro bem próximo, será possível olhar para trás e ver onde a construção de lagos cresceu, como e quais apoios técnicos e políticas públicas podem ser utilizadas para, por exemplo, incentivar a aquicultura em determinado lugar. “E me emociona também porque a gente tem parcerias e equipes que vêm realizando esse mapeamento de forma brilhante”.
Aquicultura é a ciência que estuda a forma de produzir alimento e outros produtos no ambiente aquático. Um meio de cultivo que produz gases de efeito estufa, “mas muito, muito menos do que em produções de carne bovina, suína ou de frango”, esclarece o professor. Para ele, é importante estudar de que forma a aquicultura acontece para que seja possível propor formas de reduzir ainda mais seu impacto no meio ambiente.Foto: arquivo pessoal)
Trabalho coletivo
Laís Coura Soranço está no último ano do doutorado e faz parte do grupo de pesquisa do professor há aproximadamente seis anos. Grande parte das atividades que desenvolve no LEA integra os estudos apresentados por ele na COP-30, especialmente aqueles relacionados ao impacto climático da aquicultura.

“Os experimentos que realizo – incluindo avaliações de qualidade da água, análises de nutrientes, medições de emissões de CH₄ e CO₂ e estudos sobre eficiência dos cultivos – fornecem dados essenciais para compreender como a piscicultura pode reduzir emissões, otimizar o uso de recursos e se consolidar como uma forma mais sustentável de produção de proteína animal”, explica Laís.
Para a pesquisadora, esses estudos são importantes porque ajudam a compreender como diferentes práticas de cultivo influenciam o meio ambiente, principalmente no que diz respeito à emissão de gases de efeito estufa; à qualidade da água e impactos nos ecossistemas; ao manejo sustentável da piscicultura; e ao desenvolvimento de estratégias que tornam a produção de peixes mais responsável e eficiente.
“Essas informações são fundamentais para orientar políticas públicas, melhorar práticas de produção, reduzir impactos ambientais e promover uma aquicultura mais sustentável – o que beneficia tanto o meio ambiente quanto produtores e consumidores”, completa.

Pedro Macedo está no último semestre do mestrado pelo Programa de Pós-graduação em Biodiversidade e Conservação da Natureza e atualmente está na fase de qualificação e defesa da pesquisa sobre os ciclos biogeoquímicos do carbono em sedimentos de viveiros de aquicultura. Seu trabalho faz parte de um projeto maior, aprovado pelo laboratório juntamente com a Fapemig, e fornece dados que complementam os estudos sobre a dinâmica do carbono em outras regiões do Brasil (para além de Minas Gerais).
“As pesquisas desenvolvidas no LEA pelo professor Nathan e pelos alunos abordam diretamente as mudanças climáticas que temos observado ao redor do mundo e como desacelerá-las. O laboratório hoje tem foco em entender como funciona a matriz de produção de proteínas, seus impactos e quais são as possibilidades para o futuro. É produzir de forma responsável, diminuindo onde pudermos as emissões de gases de efeito estufa”, enfatiza o aluno.
Cada qual com suas especificidades de estudo, Laís, Macedo e Barros trabalham pela sustentabilidade ambiental, econômica e social de seus objetos. Nas palavras do professor, o objetivo é que as pesquisas desenvolvidas façam “com que um produtor, primeiro, possa produzir o alimento que ele produz com o menor impacto ambiental; depois, que ele possa ter um ganho econômico melhor e, por fim, que possa despertar a consciência de que aquela produção precisa ser, também, socialmente justa”.
Fonte: UFJF