As assimetrias na distribuição de recursos federais para a educação superior terão consequências profundas no futuro, na medida em que os processos de desenvolvimento do Brasil e seus Estados se associam cada vez mais a fatores relacionados ao ensino superior, ressaltando-se: a ampliação da capacidade de criar e trabalhar com o conhecimento, com ênfase em tecnologia e inovação que contribuam com a agregação de valor aos produtos gerados nos processos socioeconômicos; o comprometimento da sociedade com a ampla formação de cidadãos qualificados e capazes de aprender ao longo da vida; formar e consolidar redes de confiança compartilhada entre as instituições e as pessoas.

Felizmente a Bahia conquistou, nos últimos dez anos, cinco universidades federais: UFRB, UNIVASF, UNILAB, UFSB e a UFOB. Elas se distribuem em 17 municípios e se somam aos dois campi da UFBA.

O amadurecimento da percepção de que não foram focos de investimentos federais na educação superior tem levado as regiões à mobilização para reivindicar a instalação de universidades que permitam a ampliação das possibilidades de desenvolvimento das suas potencialidades.

Isto acontece atualmente com o Nordeste da Bahia. Essa mesorregião constitui-se num dos maiores vazios da educação federal: é a única mesorregião do Nordeste Brasileiro que não possui um campus de uma universidade federal e foi a última região do Brasil a receber a instalação de uma instituição federal de ensino (Instituto Federal).

A presença da UNEB, sempre ela, impede que a ausência do ensino público superior na região seja completa. Aliás, toda a Bahia deve reverências às universidades estaduais (UESC, UEFS, UESB e UNEB) inclusive pelo pioneirismo na interiorização da educação superior pública de qualidade num período em que a Federação se omitiu de forma irresponsável de cumprir, nesse quesito, as suas obrigações para com a Bahia.

            A percepção de que os seus indicadores educacionais constituem-se no principal entrave para o seu desenvolvimento sustentável e que não é razoável pensar o futuro sem a presença de uma universidade federal que contribua com o processo de reinvenção coletiva da região, faz com que o Nordeste da Bahia realize uma campanha histórica de mobilização em favor da conquista dessa instituição, envolvendo educadores, políticos, empresários, movimentos sociais e, principalmente, a juventude.

A força demonstrada por milhares de pessoas que vão às audiências públicas e passeatas para manifestar o seu desejo de conquistar uma universidade federal, possivelmente, só se compara à ação mobilizadora que Antônio Conselheiro, com seu carisma messiânico, conseguiu realizar naquela região no final do século XIX, levando esperanças a um povo esquecido pelo País.

Na época de Conselheiro, o medo de que os seus seguidores representassem uma ameaça à República fez com que o Estado Brasileiro enviasse o Exército, que, ao fim e ao cabo, sob o comando do próprio Ministro da Guerra, destruiu aquela mobilização. Ali, em Canudos, ocorreu  o maior e mais violento massacre já ocorrido em terras brasileiras: cerca de 25.000 pessoas foram mortas.

Na mobilização contemporânea os poderes instituídos não precisam tremer: o que faz o Nordeste da Bahia se mobilizar é o sonho de uma universidade federal para todos os seus filhos, talvez o formato mais sublime no qual uma república efetivamente democrática pode se materializar.

A conquista da UFNB (Universidade Federal do Nordeste da Bahia) será o resultado do trabalho e da luta de milhares de pessoas que acreditam na educação como ferramenta fundamental para o desenvolvimento de seus territórios. Mas também é o resultado das ações dos seus antepassados, cuja capacidade de lutar pelo que acredita fez Euclides da Cunha criar a célebre frase que bem resume a saga de mais de 500 anos de Brasil:  “O sertanejo é, antes de tudo, um forte”.

Paulo Gabriel S. Nacif – Reitor da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB)