Docentes da UFRJ decidem encerrar a greve que já durava 60 dias

Decisão foi definida por 255 votos contra 218, em assembleia no campus da Praia Vermelha

RIO — Em uma assembleia realizada ontem no campus da Praia Vermelha, os professores da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) decidiram pelo fim de sua greve, que já durava 60 dias. Mas a votação que determinou a retomada das aulas mostrou a grande divisão entre os docentes. Foram 255 votos a favor de voltar às salas de aula e 218 contra. Apesar do resultado, a reitoria vai manter suspensos os calendários da universidade e do Colégio de Aplicação (CAp-UFRJ), já que a greve dos funcionários técnicos e a paralisação dos alunos continuam.

— Os professores saíram da greve mas continuarão lutando. Como ter aula sem alunos e técnicos? Além disso, os cortes que a UFRJ vêm sofrendo impossibilitam a normalidade das atividades — disse Cláudio Ribeiro, diretor da Associação de Docentes da UFRJ (AdUFRJ), que não ficou satisfeito com o resultado.

A falta de coesão entre os diferentes segmentos da universidade não é novidade. As greves dos alunos e dos técnicos já ultrapassaram 90 dias. Sem técnicos, a UFRJ não pode, por exemplo, efetuar inscrições de matérias para o início do segundo semestre letivo, sendo que o primeiro ainda não terminou.

O problema não é exclusivo da UFRJ. Por todo o país, instituições federais de ensino superior lidam com greves de estudantes e funcionários. Somente na última quinzena, sete universidades federais iniciaram paralisações. Durante a assembleia de ontem, não faltaram apelos para a manutenção da greve.

— Essa semana será fundamental. Faremos uma marcha para Brasília, e o reitor deve se encontrar com o ministro. Sair da greve agora seria como dar um tiro no pé — afirmou Cláudio, antes da votação que acabou com a greve.

A reunião evidenciou uma polarização entre os professores que culminou com ataques pessoais e gritos durante a contagem de votos. Momentos antes, os discursos já geravam discussão.

— Dentro da situação política e econômica do Brasil, o movimento docente não passa de um sussurro no ouvido do governo. Além disso, essa assembleia não representa nem 10% dos docentes — discursou Milton Costa, professor de Matemática, que logo ouviu a reação de uma professora, que gritou: “Que então venham à assembleia”.

Críticas ao governo e a Janine

Mas as críticas ao governo e ao ministro da Educação, Renato Janine— que chegou a ser chamado de um “Mercadante decadente” —, perderam força quando as manifestações de docentes contra a greve ganharam volume.

— Fica parecendo que nós, contrários à greve, não queremos uma educação pública de qualidade. Se estamos contra, é por causa de outros pontos da pauta, mas não esses — afirmou uma professora.

A docente foi rebatida em seguida, por um colega de instituição.

PUBLICIDADE

— Você também não apoiou as últimas greves que tinham outras pautas, como previdência. Então, por qual causa você faria greve? — disse um docente.

A maioria das manifestações partiu de professores a favor da manutenção da paralisação. Os contrários, silenciosamente, chegavam e ficavam do lado de fora da assembleia esperando o momento da votação. No final, com o resultado anunciado, em meio aos gritos de vitória dos professores contrários à greve e ao protesto de quem berrava palavras de ordem (“Vai ter piquete”) dos derrotados, o porteiro de uma dos prédios próxima ao local comentou:

— Olha essa gritaria… Depois sou eu que não tenho educação.

Raphael Kapa – O Globo