UnB cria solução tecnológica para viabilizar retorno às aulas na rede pública do DF

Aplicativo permite que estudantes acessem de casa conteúdos indicados pelos professores e que tráfego de dados seja custeado pelo governo distrital

O retorno às aulas em modo remoto na rede pública de ensino do Distrito Federal, antes marcado para o dia 29 de junho, foi adiado para 13 de julho. As aulas presenciais estão suspensas desde março por conta da pandemia de covid-19. Segundo a Secretaria de Educação (SE-DF), a mudança da data de volta às atividades dará mais prazo para o acolhimento dos estudantes.

Afinal, muitos dos 460 mil alunos ainda têm dificuldades para acessar a internet, seja por falta de equipamentos em casa, como computador, celular smartphone ou tablet, ou por não terem condições de pagar pacote de dados que permita acompanharem as aulas remotamente. Mesmo com a decisão quanto à data, as escolas e os professores da rede seguem no esforço de retomar o ano letivo da maneira mais adequada. A Universidade de Brasília foi contatada em março para apoiar o Governo do Distrito Federal nessa missão.

Em abril, as contribuições para o processo se tornaram um projeto de fato e culminaram no desenvolvimento de um aplicativo de celular que permitirá aos estudantes acessarem de casa os conteúdos recomendados pelos docentes, sem custo para a família. O app Escola em Casa DF será lançado nesta semana pela SE-DF.

“A iniciativa partiu da equipe de Inovação do GDF, que já vem acompanhando o trabalho realizado pelo Laboratório Avançado de Produção, Pesquisa e Inovação em Software (Lappis/UnB). No início, estávamos somente auxiliando em termos de requisitos para o sistema e viabilidade, e acabamos também assumindo o desenvolvimento”, conta a professora do curso de Engenharia de Software da Faculdade UnB Gama (FGA) Carla Rocha, que coordena o laboratório e está à frente do projeto.

Os outros responsáveis pelo desenvolvimento do aplicativo são também vinculados ao curso de Engenharia de Software: o estudante de graduação do décimo semestre Guilherme Guimarães e os recém-graduados Laércio Silva de Sousa Júnior e João Guilherme Silva. O grupo tem reuniões virtuais quase todos os dias desde então para tirar os planos do papel.

“Participar de um projeto de tal dimensão é muito gratificante, não somente pela grande quantidade de alunos que irão utilizar o aplicativo (algumas milhares de pessoas), mas também pelo impacto que terá na vida desses alunos. Tenho conseguido aplicar todos os conhecimentos adquiridos em sala de aula e no laboratório. Em quesito técnico, o processo de desenvolvimento deste aplicativo é bem similar aos processos aprendidos. A aplicação da teoria na prática sempre é muito construtiva”, avalia Guilherme Guimarães, que integra o Lappis desde o quarto semestre.

“O curso de Engenharia de Software nos prepara muito bem para desenvolver um projeto do zero da melhor maneira possível. Somos muito bem preparados tanto na parte teórica quanto na prática”, acrescenta Guimarães.

DIFERENCIAL – Parte dos alunos da rede pública do Distrito Federal já utilizava anteriormente a plataforma on-line de aprendizagem Google Sala de Aula (ou Google Classroom), que é gratuita e permite a criação de turmas no ambiente virtual, a organização e a distribuição de tarefas, além da comunicação entre professores e estudantes.

Equipe do Lappis se reúne virtualmente para desenvolver solução tecnológica que auxiliará 460 mil estudantes do DF. Acima, Laércio Júnior (esq.) e Guilherme Guimarães (dir.); abaixo, João Guilherme Silva e a docente Carla Rocha. Montagem: André Gomes/Secom UnB. Fotos: Arquivos pessoais

Porém, os custos com internet ou pacote de dados para acessá-la onerava os usuários. Com o aplicativo desenvolvido pela equipe do Lappis, todo o acesso ao conteúdo pelo celular passa a ser custeado pelo GDF.

“Não só permitimos acessos a plataformas como o Google Classroom, Wikipedia e, posteriormente, a outras plataformas que auxiliem no processo de ensino/aprendizagem, quanto medimos o uso de dados, de forma que o GDF financie todo o consumo do aluno por meio do app. Além disso, todo o consumo de dados, assim como o uso da plataforma (adesão do aluno ao conteúdo) são monitorados e disponibilizados para os gestores. Dessa forma, a ferramenta permite a gestão orientada a dados e também uma contra prova para o governo do consumo cobrado pelas operadoras”, explica Carla Rocha.

Para acessar o Escola em Casa DF, o estudante deverá baixar o aplicativo gratuitamente pelas lojas Google Play ou Apple Store e entrar no sistema com login e senha já cadastrados para navegarem no Google Sala de Aula.

“Ele terá todas as funcionalidades necessárias para as aulas remotas em um só aplicativo. Já as operadoras repassarão a conta para o GDF e nós vamos monitorar o uso para gerar dashboards com o consumo em tempo real, garantindo assim uma contra prova de uso”, esclarece a docente.

Segundo ela, a solução fornecida pela UnB usa um SDK (kit de desenvolvimento de software) que permite criar uma espécie de túnel direto com a operadora de celular para que o tráfego referente ao acompanhamento das aulas fique separado. Assim, é possível ter controle absoluto sobre o dado que passa pelo app.

“A única limitação é que o GDF só patrocina os dados desse aplicativo específico. Por exemplo, o vídeo e o material do professor estão todos no Google Classroom, e cada aluno do GDF tem um cadastro único a essa plataforma. Se o vídeo for postado pelo professor, entra na franquia. Se o aluno por algum acaso quiser assistir a um vídeo no YouTube que não foi indicado pelo professor, o dado referente a esse vídeo não é patrocinado. Fizemos vários filtros de segurança nesse sentido”, detalha a coordenadora do Lappis.

PÚBLICO E GRATUITO – Outro diferencial do aplicativo desenvolvido pela equipe da FGA é que ele foi todo feito em software livre, o que facilita sua reprodução e customização por outros municípios que assim desejarem.

“Disponibilizamos toda a documentação e o próprio código fonte. Isso possibilita que outros municípios e instituições que queiram aderir à plataforma tenham custo muito baixo, pois a solução está pronta e disponível, permite a réplica e o reúso em qualquer outro contexto desejado, reaproveitando nosso trabalho e customizando para a necessidade específica”, destaca a professora Carla Rocha.

ACESSO – A SE-DF informa que a utilização do aplicativo pela comunidade escolar depende somente que a Secretaria de Economia, responsável pela gestão dessa área, faça a inserção do app nas lojas virtuais, o que deve acontecer nesta semana. Cumprida esta etapa, os estudantes poderão adquiri-lo gratuitamente.

Quem já estava conectado ao Google Sala de Aula também deve baixar o app para ter acesso ilimitado ao conteúdo do programa Escola em Casa DF. O único pré-requisito é ter um chip de celular ativo.

O investimento na parceria entre o laboratório da UnB e a SE-DF foi de R$ 17,6 mil.