UFSC – Abertura da Sepex aborda ameaças à Amazônia e necessidade de uma nova bioeconomia

Teve início na manhã desta quinta-feira, 22 de outubro, a 18ª Semana de Ensino, Pesquisa, Extensão e Inovação (Sepex) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). A cerimônia de abertura, transmitida ao vivo pelo Youtube e com gravação disponível na mesma plataforma, contou com a apresentação de três músicos da Camerata Florianópolis – Roger Corrêa (gaita de fole), Iva Nunes Giracca (violino) e Érico Miranda Schmitt (violoncelo) – e a palestra A Amazônia próxima a um ponto de não retorno. Necessidade de uma nova bioeconomia de floresta em pé, ministrada pelo pesquisador Carlos A. Nobre.

Em sua apresentação, Nobre faz um panorama dos riscos que a Amazônia corre – com uma séria ameaça de desaparecimento e próxima de um ponto de não retorno – e apresenta uma proposta de “bioeconomia de floresta em pé”. Nobre, que é colaborador do Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo (USP) e aposentado do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), dedicou a maior parte de sua carreira à Amazônia, uma entidade regional chave no sistema terrestre, com papel central no ciclo global de carbono, poderosa hidrologia, a maior biodiversidade do planeta e uma enorme diversidade cultural e étnica.  

A Floresta Amazônica vem, contudo, sofrendo com desmatamentos e queimadas decorrentes da ocupação desenvolvimentista praticada nos últimos 50 anos. As mudanças climáticas globais, combinadas com o aumento do desmatamento local, podem resultar na conversão da floresta em savana. Maior frequência de eventos climáticos extremos (secas e enchentes), estação seca mais longa no sul da Amazônia, florestas mais vulneráveis ao fogo, menor remoção do dióxido de carbono da atmosfera e a elevação da taxa de mortalidade de espécies de árvores são algumas das evidências que revelam como estamos próximos do ponto de não retorno da savanização da floresta. “Ainda acredito que esteja em nossas mãos, há cientistas que acham que parte da Amazônia já entrou na savanização, no ponto de não retorno, mas eu acredito que ainda podemos evitar. E a escolha é nossa”, afirma Nobre. “O mundo tem que sair da pandemia em outra direção, talvez esta seja uma das décadas mais importante da história da humanidade. Nós temos que transformar o modelo econômico”, enfatiza.

Além de trazer dados que desmontam a falácia de que é preciso desmatar para produzir produtos agropecuários (a taxa de taxa desmatamento entre 2004 e 2016 reduziu 75%, enquanto dobrou a produção de carne e soja), o pesquisador também apresenta a proposta Terceira Via Amazônica e o Projeto Amazônia 4.0, sua estratégia de implementação. Trata-se de “uma vibrante bioeconomia de floresta em pé com rios fluindo, com base na sociobiodiversidade amazônica” e na combinação dos conhecimentos científico e das comunidades tradicionais.

Os produtos da biodiversidade amazônica possuem enorme potencial de produção e lucratividade, garante Nobre. Como exemplos, temos componentes utilizados para fragrâncias e perfumes, ativos cosméticos, moléculas e ingredientes para medicamentos, além, é claro, de produtos usados para alimentação, como castanhas e frutas diversas. Para se ter uma ideia, a produção de carne e soja nos seis estados amazônicos brasileiros rende R$ 14,5 bilhões por ano e ocupa uma área de 240 mil km² (ou seja, 604 reais por hectare), enquanto a produção de açaí, cacau e castanha em sistemas agroflorestais rende R$ 5,1 bilhões por ano, em uma área de somente 3,5 mil km² (ou, 12,4 mil reais por hectare).

Entre as atividades em desenvolvimento hoje no âmbito do Projeto Amazônia 4.0, destacam-se os Laboratórios Criativos da Amazônia, que funcionam como minibiofábricas de industrialização de produtos específicos. Instalados juntos às comunidades, os laboratórios proporcionam a capacitação da população local e visam possibilitar a atração de capital e investimentos. Os primeiros, em vias de implementação, abordam as cadeias do cacau e do cupuaçu, também já foram desenhados laboratórios voltados à castanha, à genômica e aos óleos comestíveis e está em planejamento um para o açaí.

“Essa bioeconomia tropical do século 21 não existe ainda, nós temos que criá-la. Por isso o papel inovador das universidades, dos jovens universitários. E eu coloco muito esse desafio a vocês: vamos criar essa nova bioeconomia tropical e vamos transformar o Brasil na primeira potência ambiental da sociobiodiversidade”, incita Nobre ao final de sua palestra.

Sepex em Casa

Neste a ano, a Sepex ocorre em formato 100% online. Sua programação segue até sábado, 24 de outubro, e inclui três eixos principais – Ciência e Tecnologia, Bioeconomia e Conheça a UFSC –, que contemplam palestras ao vivo e gravadas, debates, tours nos laboratórios de pesquisa da UFSC, Mostra de Ciências Virtual, Diálogos sobre o Vestibular, apresentação de cursos de Pós-Graduação da UFSC, além de minicursos e oficinas.

Como destacou a vice-reitora Alacoque Lorenzini Erdmann durante a cerimônia de abertura, o evento é “uma atividade vital para mostrar o quanto a nossa instituição, a Universidade Federal de Santa Catarina vem produzindo de conhecimento científico e tecnológico e vem interagindo com a comunidade, levando informações e conhecimentos importantes para promover o desenvolvimento humano e social e para cumprir com sua missão enquanto universidade pública”.

“A Semana de Ensino, Pesquisa, Extensão e Inovação da UFSC é uma tradição da nossa Universidade. É a oportunidade que temos de todo ano mostrar o que fazemos, prestar contas à sociedade. Estamos acostumados ao burburinho que é os campi da UFSC em semana de Sepex. Os ônibus estacionados, crianças e adultos. Pessoas de todas as idades ficam maravilhados com tanta ciência, tanto a descobrir”, ressalta o reitor Ubaldo Cesar Balthazar.

Com o tema da Semana Nacional de Ciência e Tecnologia 2019 – Bioeconomia: diversidade e riqueza para o desenvolvimento sustentável – a Sepex em Casa, além de trazer ao público um pouco do que é produzido no ensino, na pesquisa, na extensão e na inovação da UFSC, tem a proposta de despertar o interesse pela ciência em pessoas de todas as idades. “O conteúdo está muito diversificado, preparado com muito cuidado, com muito primor, para que todos possamos participar como estaríamos se tivéssemos na UFSC, sob as tendas montadas na Praça da Cidadania, visitando os estandes e acompanhando todo o burburinho”, complementa Ubaldo.

Um site especial foi lançado, com a programação completa e informações sobre como participar das atividades. Todo o material do evento ficará disponível para consulta no site especial e no canal da UFSC no YouTube, onde a maioria dos eventos serão transmitidos.

Os programas de pós-graduação da UFSC também prepararam conteúdo especial para a Sepex, e os campi de AraranguáBlumenauCuritibanos Joinville trarão, em seus sites e redes sociais, uma programação especial sobre a ciência nos campi.

 

Camila Raposo/Jornalista da Agecom/UFSC