Andifes trata sobre atividades acadêmicas no pós-pandemia em seminário virtual

Durante toda a manhã de quinta-feira (15), a Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes) ouviu convidados sobre as atividades acadêmicas no pós-pandemia, em seminário virtual.

Os ex-presidentes das Andifes, professora Ana Lúcia Almeida Gazzola (UFMG), professor José Ivonildo do Rêgo (UFRN) e professor Jesualdo Pereira Farias (UFC), abriram o seminário reafirmando os fundamentos da universidade federal: autonomia, financiamento público, gratuidade, inclusão e excelência. Após essa reflexão, a reitora da UFRJ, professora Denise Pires Carvalho, e os professores Marcelo Knobel (Unicamp) e Abilio Baeta Neves discorreram sobre os futuros possíveis nas atividades de ensino, pesquisa e extensão.

Os palestrantes foram enfáticos em afirmar que qualquer futuro para as universidades federais precisa estar sustentado pelos fundamentos que garantem o ensino público, gratuito, inclusivo e de qualidade. Nesse sentido, eles destacaram a necessidade do financiamento público das universidades federais, a importância da rede federal universitária para a promoção de desenvolvimento e na provocação de mudanças sociais, sobretudo no pós-pandemia, a partir do aprendizado resultante da crise sanitária.

De acordo com o presidente da Andifes, reitor Edward Madureira (UFG), as relevantes experiências vivenciadas pelas universidades federais desde o início das atividades remotas levaram à inovação da gestão, resultando em novas ações ou na revisão daquelas já implementadas, como o aperfeiçoamento das atividades desenvolvidas de forma remota para adequações no ensino híbrido e na educação a distância, com maior acolhimento digital de estudantes em situação de vulnerabilidade. “O Promover Andifes é um exemplo dessas experiências. Com esse programa, tivemos um impacto extraordinário no fomento da integração das universidades federais. Agora iremos aprimorá-lo e consolidá-lo. Nós nos reinventamos e faremos isso todas as vezes que for necessário para os futuros possíveis do ensino superior público, mas sem jamais abrir mão dos alicerces que sustentam a universidade federal: autonomia, financiamento público, gratuidade, inclusão e excelência”, afirmou.

O professor José Ivonildo destacou que as 69 universidades federais, com campi distribuídos em todos os estados brasileiros, promovem desenvolvimento no contexto onde estão inseridas. “No meu estado, por exemplo, Rio Grande do Norte, que possui duas universidades federais. Se considerarmos apenas da UFRN, temos museus, teatro, escola de música, orquestra, editora, televisão aberta, rádio FM, três hospitais universitários, incubadoras de empresas, parque tecnológico, complexos de laboratórios das ciências da vida e das engenharias, milhares de profissionais formados, quase dois mil professores com doutorado. Se extrairmos isso do estado, certamente, entraríamos em colapso na cultura, na saúde, na educação, na competitividade industrial, sem mensurar as oportunidades negadas a jovens, que de outra forma não teriam acesso ao ensino superior e a importantes políticas públicas”, elencou.

Ao falar sobre a necessidade de respeitar as peculiaridades sobre o retorno às aulas de cada instituição, a professora Ana Gazzola afirmou que, além do que ela chama de “elementos constitutivos de uma universidade federal”, como autonomia, financiamento público, gratuidade, inclusão e excelência, é preciso acrescentar estabilidade ao referir-se às universidades. “O ensino é um bem público de valor inestimável. A universidade não pode ser reduzida a uma fábrica de diplomas ou àquela instituição que se atrela ao mercado e somente responde a interesses imediatistas. É a autonomia que garante à universidade uma ação de longo prazo, como política de estado e não de governo, porque educação deve ser um processo contínuo, com ações de curto e médio prazo, mas, sobretudo, no longo prazo é que se traduz a capacidade transformadora social de uma universidade. Por isso a estabilidade é tão importante: para que ninguém seja demitido por suas ideias e por seu livre pensar. A estabilidade é a garantia de que a universidade seja gerida de forma democrática. respeitosa e livre para exercer o papel transformador que lhe é inerente”, enfatizou.

Ao reforçar a necessidade de investimento público para que haja desenvolvimento do país, o professor Jesualdo Farias lembrou que é preciso considerar as individualidades de cada instituição que compõe a rede universitária federal. “Nós temos um sistema universitário robusto e em formação, pois é composto por universidades maduras, mas também por universidades recém-criadas, que carecem de um investimento diferenciado para garantir a consolidação de suas estruturas”, detalhou.

Apresentando dados que mostram o quanto as universidades federais são atuantes na pesquisa, a reitora Denise Pires reforçou a importância da flexibilidade em diversos procedimentos nas universidades, sobretudo para o retorno às aulas presenciais. “A rede federal de universidades deve ser protagonista da construção de futuros possíveis, que devem ser pensados no presente, em um compromisso com a redução das desigualdades sociais crescentes em nosso país. Portanto, o pós-pandemia deve ser muito planejado, sem achar que retornaremos para aquele cenário considerado normal antes. Mais do que ser resilientes, nós precisamos ser flexíveis e identificar os ganhos que esse ambiente de pandemia e do virtual nos trouxe”, afirmou.

Segundo o professor Marcelo Knobel, a urgência de adaptação imposta pela pandemia tornou os processos acadêmicos menos burocráticos. “A revisão de regras e exigências foi benéfica para os nossos professores e para os nossos estudantes. Vimos que é possível viver com mais tranquilidade e com menos rigidez nas universidades. E esse é um aprendizado que deve nortear o pós-pandemia e nossos processos daqui em diante”, encorajou.

Para o professor Abílio, ‘discutir o futuro’ é algo recorrente para as universidades federais, mas a crise sanitária obrigou a todos avançarem para além da discussão. “O que difere agora é que os tempos de pandemia trouxeram mais urgência e dramaticidade a essa reflexão e aos aspectos que ela envolve. Fala-se da inclusão digital e da exploração de oportunidades proporcionadas pela tecnologia de informação e comunicação há muito tempo na universidade. Mas quando veio a pandemia, nós tivemos que lidar mais seriamente com esse tema para garantir inclusão de fato. A qualidade da universidade envolve diretamente a capacidade que ela tem de promover mudanças na sociedade. E podemos afirmar que as mudanças estão apenas no início, inclusive na pesquisa. A partir das mudanças impostas por esse cenário, vimos que tudo aquilo que pode ser digitalizado irá para a internet”, refletiu.

O seminário pode ser assistido na íntegra no canal da Andifes no YouTube.