UFAL – Maior expedição científica do Brasil navega pelo sertão de Alagoas

Expedição partiu de Piranhas e percorrerá as cidades do baixo São Francisco coletando dados e promovendo ações de educação ambiental

Reunindo 100 expedicionários que passarão 10 dias embarcados, a maior expedição científica do Brasil, promovida pela Universidade Federal de Alagoas (Ufal) e vários parceiros, teve sua abertura oficial na manhã da última segunda-feira (1°), na cidade de Piranhas-AL. As embarcações, Maravilhosa e Magnífica, que abrigam os laboratórios e serão a casa dos pesquisadores nos próximos dias, atracaram no município histórico de Piranhas no último domingo (31). A solenidade de abertura contou com a presença de autoridades, parceiros e pesquisadores.

O prefeito de Piranhas, Tiago Freitas, deu abertura à expedição ressaltando a importância da excursão e do Rio São Francisco para a cidade, que é o terceiro destino turístico mais visitado do estado, graças ao rio. “Precisamos ter consciência de que é necessário fazer esse trabalho de base para preparar e integrar essa população ribeirinha e entender que é dever nosso preservar e dar condições para que o rio possa sobreviver, pois é desse rio que vem a subsistência dessas famílias. Por isso, a gente abraça essa expedição”.

Freitas ressaltou também o legado e a contrapartida social deixado pela expedição: palestras educativas, distribuição de kits de material escolar, doação de projetor multimídia [data show], notebook, caixa de som, entrega de fossa agroecológica em comunidade da zona rural, exames para prevenção do câncer de pele, doação de um mini trator e algumas plantadeiras. Para ele, as ações servem para aproximar a população e mostrar a função da expedição científica: “A essência desse movimento é mais que ver a comunidade por onde passa como um objeto de estudo, mas transformar vidas e formar uma sociedade mais consciente”, destacou.

A passagem da expedição pelos municípios do baixo São Francisco é determinante para a elaboração e a implementação de políticas públicas que r esgatem o Rio e possibilitem o desenvolvimento da região como destacou Maciel Oliveira, presidente do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (CBHSF): “A produção de conhecimento científico é extremamente importante para que o comitê possa tomar decisões, como a alocação de recursos e a priorização de projetos. Além de produzir dados científicos para que o comitê e outros órgãos possam se apropriar dessa informação e tomar decisões sobre como podemos melhorar a qualidade da água do São Francisco”.

Maciel Oliveira reforçou o compromisso do Comitê com a expedição e confirmou a parceria para a edição do próximo ano. O presidente do CBHSF revelou o desejo de expansão do projeto numa possível parceria com a Universidade Rural de Pernambuco para mapeamento do submédio, médio e alto São Francisco: “A expedição está dando tão certo que temos que levá-la rio acima”, ressaltou.

O reitor da Ufal, Josealdo Tonholo, destaca o tamanho e o impacto dessa realização para a ciência no Brasil: “Esse evento hoje não é só uma expedição. É a maior expedição científica brasileira da atualidade. É uma rara oportunidade em que a gente consegue ver ao vivo as heranças que nos restaram e olhar para o que vamos deixar para os nossos descendentes. Como saber o que de melhor podemos deixar para os nossos descendentes se não conhecemos o que o rio tem e os estragos que nós e nossos antepassados fizemos? O que vamos deixar pela frente se não tivermos educação, conhecimento e ciência? Num momento em que o Brasil trata tão mal a educação e a ciência, nós temos essa reação: 100 expedicionários que arregaçam as mangas e vão a campo para a fazer a sua parte”, enfatizou Tonholo.

A vice-reitora da Ufal, Eliane Cavalcanti, que também é expedicionária, destaca a generosidade e o desprendimento de toda equipe que se dispôs a deixar suas casas e famílias para se dedicar a essa experiência. Para ela, o objetivo da expedição é dar um retorno à sociedade: “Essa é a experiência de levar para a população tudo o que ela sempre investiu na gente, somos fruto do ensino público e somos fruto desse povo que paga para manter a gente funcionando e fazer a coisa acontecer”, acrescentou.

A principal marca da 4ª expedição científica promete ser a unidade de esforços em prol da defesa do Rio São Francisco e das comunidades ribeirinhas. O coordenador geral da expedição, professor Emerson Soares, ressalta a importância da colaboração das diversas instituições: “A coisa mais importante para a realização da expedição é a colaboração. A Universidade não consegue fazer nada sozinha, mas essa junção de instituições e pessoas por um bem comum, que no caso é o nosso Velho Chico e que merece toda atenção. O legado que a gente está deixando é um legado de parceria. Essa junção de pessoas e parcerias é o que vai fazer com que tenhamos uma voz ativa para defender o Velho Chico.”

E como resultado dessa união de forças, Emerson Soares anunciou um desdobramento da expedição em parceria com o CBHSF, o programa de biomonitoramento, que funcionará a partir de 2022, com coletas bimensais em todo o rio. Os dados coletados serão fundamentais para a elaboração de políticas públicas mais efetivas para o Rio São Francisco.

O primeiro dia da expedição contou com coleta e análise de amostras, ações de saúde bucal, prevenção de AVC, educação ambiental, palestras sobre terceira idade e qualidade de vida, plantio de mudas nativas da região no Bosque da Ciência, doações de mini trator à Cooperativa dos Produtores de Mel, Insumos e Produtos da Agricultura Familiar (Coopeapis) de Piranhas, e kits escolares multimídia e lives com pesquisadores embarcados sobre a atual situação do Rio e a importância da fauna no ambiente terrestre da bacia do Rio São Francisco. A expedição seguirá viagem e finalizará no dia 10 de novembro, na cidade de Penedo.

Acompanhe as ações da 4ª expedição pelo perfil @expedição_saofrancisco no Instagram.