“Perdas e evasão na educação básica impactarão na formação superior”, afirma reitor da UFRN

O reitor José Daniel Diniz (UFRN) falou sobre o futuro da educação e da ciência pós-pandemia no evento Motores do Desenvolvimento. (Foto Alex Regis – Tribuna do Norte)

A definição sobre o retorno das aulas presenciais na Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) ainda não aconteceu e, assim como a adoção do modelo híbrido para o pós-pandemia, depende de planejamento e diálogo constante com a comunidade universitária. O reitor José Daniel Diniz Melo abriu a 39ª edição do seminário Motores do Desenvolvimento do Rio Grande do Norte na última segunda-feira (22) e enfatizou a preocupação com as perdas na aprendizagem da educação básica durante a pandemia da covid-19, isto porque, essa perda vai impactar na formação superior dos próximos anos se nada for feito, especialmente no tocante à evasão escolar, que apesar de ter diminuído na UFRN, na educação básica aumentou. Por outro lado, o corte no orçamento da universidades é um grande desafio apontado pelo reitor para a retomada do ensino e também para o desenvolvimento do estado e do país, já que uma coisa está diretamente relacionada a outra.

Qual a maior dificuldade que o senhor aponta para o futuro da educação diante do atraso provocado pela pandemia?
As perdas na educação básica impactarão também na educação superior, em médio e longo prazo. Não há como tratar esses níveis de maneira descolada. A evasão é outro problema que poderá causar conseqüências desastrosas se não forem enfrentadas, visto que indicadores apontam para uma regressão de dez anos na educação básica. Isso compromete o futuro do nosso estado e a oportunidade de um crescimento profissional para os potiguares.

A universidade registra um índice alto de evasão?
Na UFRN, devido ao contexto da pandemia da covid-19, o Consepe regulamentou, temporariamente, a suspensão de cancelamento de cursos por abandono, decurso de prazo ou insuficiência de desempenho acadêmico. Nessa perspectiva, registramos uma redução na quantidade de evasão, já que, em 2019.1, tivemos 2.447 alunos evadidos e, em 2021.1, 740. Também tivemos um aumento na quantidade de matrículas, visto que no período de 2019.1 houve 26.492 matriculados e chegamos a 28.216 estudantes matriculados, em 2021.1.

O senhor relacionou a educação com o futuro e o crescimento profissional. O desenvolvimento econômico dialoga diretamente com a educação?
Vejo que estão necessariamente atrelados. Não existe desenvolvimento socioeconômico em nenhum lugar do mundo sem o crescimento e fortalecimento da educação. Penso que é isso que precisamos reforçar, mostrando a necessidade de mais investimentos da educação para que o país possa evoluir.

Falando em investimento, o cenário é confortável, do ponto de vista orçamentário?
Os desafios orçamentários afetam gravemente a rede das universidades federais brasileiras, visto que as instituições enfrentam reduções desde 2014, com o agravamento da situação ano após ano, atingindo despesas essenciais para o funcionamento das atividades acadêmicas e administrativas, como os pagamentos de contratos de terceirização e despesas de energia elétrica. Na UFRN, por exemplo, o orçamento de capital deste ano chegou a zero, o que significa a indisponibilidade para a continuidade de obras e para compra de equipamentos e materiais permanentes necessários ao funcionamento da instituição.

O que tem sido feito para repor o orçamento que foi reduzido?
A UFRN integra a Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes), que vem trabalhando para restabelecer o orçamento de 2019, com correções pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA).

O que a sociedade tem a ganhar quando se valoriza o ensino superior, a ciência e a pesquisa?
O desenvolvimento socioeconômico de uma nação tem como base a educação e a ciência. Podemos citar, de forma bem prática, a importância da atuação das universidades públicas brasileiras na pandemia da covid-19, que vêm auxiliando nosso país com diversas ações, como vacinação, testagem, pesquisas científicas, produção de material informativo, atendimento hospitalar, entre outras iniciativas.

Neste contexto, a UFRN vai retomar 100% das aulas presenciais em 2022?
Esperamos evoluir com as aulas presenciais. Nosso próximo semestre inicia no final de março e esperamos que a pandemia nos permita que o próximo semestre seja presencial. Os estudantes, a comunidade universitária querem isso. Para o próximo ano letivo de 2022 a instituição de ensino segue realizando planejamento, em diálogo constante com a comunidade universitária e com a assessoria do Comitê Covid-19, formado por especialistas em virologia, medicina do trabalho, infectologia e pneumologia.

Quais os desafios que a UFRN enfrenta para a retomada das atividades presenciais?
Nossa retomada presencial ocorre de forma gradativa. As atividades acadêmicas práticas vêm sendo realizadas desde novembro de 2020, se aprovadas pelas instâncias universitárias e asseguradas as condições de biossegurança. O trabalho presencial técnico-administrativo também vem sendo retomado de forma gradual e segura, com avanço maior em setembro de 2021, quando ocorreu o retorno presencial dos gestores, seguido das equipes. Nessa perspectiva, um grande desafio é a vacinação da comunidade universitária, que é fundamental para garantir a segurança de todos.

A universidade pretende adotar ou reforçar o ensino híbrido?
Para os próximos períodos letivos, seguimos realizando o planejamento, em diálogo com as representações de estudantes, técnicos e professores; ouvindo as Direções de Centro, Instituto e Unidade Acadêmicas Especializadas sobre o que é discutido nos colegiados dos cursos e plenárias de departamentos; bem como com a assessoria do Comitê covid-19. Qualquer decisão sobre o modelo de ensino ocorrerá após amplo debate e deliberação do Consepe.

Qual a importância de se colocar a educação no centro dos debates nesse momento de retomada da economia, como ocorreu no Seminário Motores do Desenvolvimento do Rio Grande do Norte?
Ao propor a discussão do “Futuro da educação e da ciência no pós-pandemia”, nossa intenção é colocar a temática em destaque e possibilitar que diversas representações da sociedade, que participarão do evento, possam analisar e construir, coletivamente, soluções para a educação e a ciência do nosso estado e do nosso país. O “Motores do Desenvolvimento” discute temas importantes para o desenvolvimento do estado há 14 anos e a educação é o tema mais atual do momento. Sabemos como foi penalizada neste período de pandemia, as dificuldades enfrentadas em todos os níveis desde a educação básica até a superior. Por isso viemos com a missão de debater os temas, com experiências trazidas por palestrantes de peso e esperamos que as discussões tenham contribuído para o estado enfrentar esse momento ainda tão difícil de retomada.

Fonte: Tribuna do Norte