UFMS – Professores e acadêmicos atendem crianças com autismo

 Trabalhando cores e coordenação motora fina.

Desde 2019, um grupo de professores, profissionais e acadêmicos participam do projeto de extensão InterTEA: intervenção dirigida ao Transtorno do Espectro Autista em Paranaíba. Coordenada pela professora do curso de Psicologia do CPAR Ana Luiza Bossolani Martins, a ação busca preencher uma lacuna de atendimento no município que não possui escolas ou instituições especializadas para tratamentos necessários a indivíduos com TEA.

“Paranaíba não possui escolas ou instituições especializadas. A Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae) e o Centro de Atenção Psicossocial são muito procurados para os tratamentos de fonoaudiologia, terapia ocupacional, fisioterapia. Entretanto, notamos na cidade, a escassez de serviços e profissionais treinados para o atendimento de crianças com TEA. Assim, esse projeto busca preencher essa lacuna de atendimento na cidade, ao mesmo tempo que capacita futuros psicólogos para o atendimento especializado em casos de autismo”, destaca Ana Luiza.

Além da coordenadora, que possui 12 anos de experiência com autismo, genética e aconselhamento genético, participam do projeto os professores/psicólogos Lucas Delfino Araújo e Vinicius dos Santos Ferreira, com experiência, respectivamente, em TEA e Análise do Comportamento Aplicada (ABA), Análise do Comportamento, além da psicóloga Monique Luzia de Souza que atua no ensino de autistas e tem experiência em ABA. “Nosso objetivo é atender famílias que possuem indivíduos com TEA para que estes possam aumentar e desenvolver suas habilidades em diversas áreas do desenvolvimento e assim promover sua independência, autonomia e inclusão social”, ressalta Bossolani.

Com uma parceria estabelecida com Secretaria de Educação Municipal e a Apae, crianças com diagnóstico de TEA na faixa etária de 2 a 5 anos são encaminhadas para participar do projeto, que se divide em duas etapas, basicamente: formação teórico-prática dos estudantes de Psicologia e intervenção prática em indivíduos com TEA em diferentes ambientes de sua rotina diária.

“O período de formação dura cerca de seis meses com a leitura e discussão de temas dentro do autismo (características, causas e reconhecimento de sinais clínicos), comportamento operante, análise do comportamento aplicada, comportamento verbal e avaliação pelo instrumento VB-MAPP. Após essa etapa, os acadêmicos fazem uma parte de observação de indivíduos com TEA e seus comportamentos por meio de situações reais e vídeos. Assim, estão prontos para entrar em contato com a família, estabelecer vínculo e trabalharem em duplas ou individualmente, segundo os indivíduos com TEA que serão encaminhados para intervenção prática”, explica a coordenadora do projeto.

O acadêmico do último ano Cristian Donat participou por dois anos do projeto. “No último semestre de 2019, participamos da formação para a atuação prática no projeto de extensão, quando estudamos o desenvolvimento humano e o TEA a partir da Psicologia Histórico-Cultural, o que coloca a necessidade de compreender o transtorno como uma condição produzida socialmente e, portanto, tendo também a necessidade de superar os déficits e dificuldades por meio das mediações sociais que possibilitem o desenvolvimento pleno das potencialidades humanas de crianças com deficiências e/ou transtornos”, conta Cristian.

Atendimentos

 Autonomia também é um dos pontos trabalhados.

Antes do início do atendimento, é realizada uma triagem com a presença da família e a criança atendida para obtenção dos dados pessoais, histórico de gestação e seu desenvolvimento, alimentação e medicação. A triagem é feita por Ana Luiza. Após, a família assina um termo de ciência, informando que está de acordo em participar. Em seguida, é apresentada ao estudante ou dupla de estudantes que acompanham a criança durante todo o processo interventivo.

“Em uma segunda etapa, os estudantes fazem avaliação dos comportamentos em seis áreas do desenvolvimento como linguagem, coordenação motora, autocuidado, cognição e socialização, por meio de escalas específicas. Os dados são compilados na forma de gráfico e as áreas mais comprometidas são selecionadas para planejamento da intervenção”, diz Ana Luiza. Segundo a professora, as intervenções são aplicadas na casa e na Clínica Escola do curso, localizada no CPAR, durante dez horas por semana. “Esse processo dura cerca de seis meses e, após isso, uma nova avaliação dos comportamentos é realizada e compilada na forma de gráfico. Os atendimentos semanais serão registrados na forma de relatório elaborado pelos acadêmicos e corrigidos pelos supervisores do projeto”.

De modo geral, Bossolani detalha que as atividades se estruturam da seguinte forma: o estudante tem as atividades semanais distribuídas em seis horas para intervenções com a criança e pais, duas horas para supervisão do caso e duas horas para confecção do relatório de sessão. “Além disso, se o projeto também prevê uma reunião semestral com todos os pais e familiares, uma no início do projeto para explicação do seu funcionamento, os objetivos e que resultados esperamos atingir, além da possibilidade desses pais estabelecerem uma rede de contato com os outros pais, no sentido de se apoiarem e trocarem experiências”, comenta.

“Em média, atendemos três crianças com TEA por ano, com todos os integrantes das famílias e da escola (professores). Essa quantidade de famílias está vinculada ao número de acadêmicos que participam do projeto. Podemos estimar em torno de 50 pessoas atendidas contando, pais e irmãos, crianças com TEA e professores, desde 2019. Já em relação aos acadêmicos, nos três anos do projeto, 41 participaram, entre bolsistas e voluntários, e hoje têm formação em TEA”, fala a coordenadora.

Em 2020, mesmo com a pandemia, as atividades foram realizadas, porém adaptadas para o formato on-line. “Tivemos que nos adaptar ao modelo on-line de acompanhamento. Os primeiros encontros, feitos diretamente com as famílias, tiveram o intuito de mantê-las em contato com os extensionistas e acumular informações sobre as crianças e sua rotina familiar. Em 2020, acompanhei com mais duas estudantes, uma criança de seis anos. As intervenções se centraram em organizar a dinâmica familiar e no desenvolvimento da fala da criança, uma função muito importante para o desenvolvimento psicológico em geral”, diz Cristian.

O estudante também participou da preparação da formação dos novos extensionistas, que ingressaram no projeto em 2021. “Enquanto atendíamos os casos, eu e outros dois acadêmicos preparamos uma nova turma, por meio de um curso de formação. Em 2021, os atendimentos continuaram on-line, sendo as intervenções efetivadas por meio dos pais ou responsáveis de crianças com TEA. Também continuei o atendimento da mesma criança de 2020 até o meio do ano”, fala Donat

“No segundo semestre, atendemos outra criança, de quatro anos com o diagnóstico de TEA. As intervenções novamente foram centradas no desenvolvimento da fala e no manejo da ecolalia apresentada pela criança. Neste ano, atuei no projeto como tutor, com a função de orientar e organizar as duplas nos atendimentos, com o desenvolvimento das atividades para as crianças, por isso estive em contato com todos os casos atendidos pelo projeto de forma direta”, complementa o estudante.

Experiência e serviço à sociedade

 Cristian falou sobre a experiência no projeto durante o Integra UFMS.

Para Cristian, os dois anos de participação no projeto foram importantes em sua formação e na aquisição de experiência. “Nestes dois anos que participei do projeto, desenvolvi técnicas e habilidades importantes na atuação prática psicológica, além da experiência adquirida no contato com crianças com TEA. Foi uma oportunidade experiência oferecida pelo projeto que engrandece técnica e humanamente os estudantes que participam e, ao mesmo tempo, auxilia grandemente as famílias e as crianças no desenvolvimento de suas potencialidades”, ressalta.

“Foi uma experiência muito importante na minha formação em Psicologia, no contato com crianças com TEA e famílias e no desenvolvimento da relação terapêutica. O projeto de extensão e todo o aprendizado adquirido reverberarão na minha atuação prática e teórica, pois aplicamos e colocamos em movimento os conhecimentos que viemos desenvolvendo durante a graduação”, comenta o acadêmico.

Para ele, fica o sentimento de gratidão aos professores, estudantes e famílias, principalmente, por acreditarem no trabalho realizado. “Gostei muito de participar do projeto, e ainda mais de todos os bons frutos que colhi em conjunto com as coordenadoras e os colegas nos atendimentos realizados. Agradeço a todos que participam do projeto e, principalmente, às famílias por acreditarem no nosso trabalho e na dedicação de toda a equipe de extensionistas e coordenadoras”.

“Ao término das intervenções e elaboração do relatório final, os pais e familiares serão convidados para participarem individualmente de uma reunião com as supervisoras e os estudantes que acompanharam a criança, para esclarecimento de dúvidas e orientações gerais para que possam dar continuidade ao processo terapêutico pela própria família”, finaliza Ana Luiza.